Culpa: Um sentimento que vem de dentro

Todos os dias, pela manhã, sempre acordo seguindo os mesmos passos do dia anterior. Um ritual pré-estabelecido que me acompanha nos primeiros minutos do dia. O despertador toca, aperto a soneca. Toca novamente, aperto a soneca. Só levanto mesmo no terceiro gritar da maquininha, que já começa a me deixar irritado. Vendo por um certo ponto de vista sou um privilegiado. Tenho cama de casal, apesar de dormir sozinho nela (desperdício) e sempre do lado direito, o que me faz acordar sempre com o pé esquerdo. Sem problemas, não sou supersticioso. Depois de colocar os pés no chão e andar, um pouco que se arrastando, sem quase abrir os olhos em direção ao banheiro, pego minha pasta, escovo os dentes e dae então começo o dia.

Porém, ontem quando levantava para mais uma vez seguir meu ritual matinal, senti que alguma coisa me importunava. Olhei-me no espelho várias vezes, e aquele sentimento me possuía enquanto as macias cerdas espalhavam o material abrasivo em meio aos meus dentes. Naquela manhã, quase não consegui tomar meu café e o pedaço de pão coberto pela manteiga cremosa de nada me fazia sentir vontade de comê-los.

Um sentimento terrível de culpa me possuía.

Fui para a faculdade e como de costume, depois das primeiras aulas, sentei-me com os meus colegas, mas já não era a mesma coisa. Renan, depois de perceber minha expressão de angústia, perguntou-me o que eu estava sentindo. Não sabia dizer. No almoço comecei a me questionar que diabos eu teria feito pra me sentir daquela maneira? Via uma triste expressão estancada na cara do meu bife, o que me impediu que eu o devorasse como de costume e as sementes da minha laranja me faziam lembrar lágrimas. Dessa maneira seguiu meu dia.

No final, já cabisbaixo e deprimido, cheguei em casa e sentei-me no sofá. Meu sentimento de culpa ainda estava comigo, fixo, permanente, imbatível e ainda mais forte do que nunca. Comecei a pensar que ia conviver com aquela culpa pro resto da minha vida e não vendo mais esperanças, comecei a me conformar.

De repente, sem mais avisos, meu coração disparado me avisava que algo não ia bem. Meu rosto se cobriu em suor e minhas pernas ficaram trêmulas. Pensei comigo, meu Deus, é o fim! Comecei a dar adeus a minha vida, a me espremer e me contorcer. Nos meus últimos flashes de energia corri para o banheiro e sobrevivi...

Era só vontade de cagar...

Gilmar Takano
Enviado por Gilmar Takano em 18/09/2006
Reeditado em 21/09/2006
Código do texto: T243674