Clarividência.

Estou na janela, mas a chuva forte ofusca o mundo que respira lá fora.

Posso imaginar lares felizes, e casais se amando.

Irônizo e dramatizo minha vida, ilusoriamente infeliz, só pela tua ausência.

É que sinto muito sua falta.

Emoção.

E agora tá fazendo frio.

Penso em mim como sendo um sonhador, se eu for. Começo a rir pra mim mesmo...É que acredito já ter ouvido isso em outro lugar... Não sei bem...

Fecho os olhos e inspiro a chuva que triste cai sozinha, e começo a chover também. Meu coração goteja uma fádiga leve e exaústiva.

Meus olhos transbordam.

Soluços e gritos alúcinados.

Estou só em casa, então bravejo minha fúria particular. Indagações tão antigas e esquecidas agora fazem-se notar de tão perceptiveis. E os porquês de outrora navamente eatão aqui.

E eu já havia superado tudo isso...

Tento escrever uma carta, mas tenho certeza de que ela não será lida.

No quarto as malas foram feitas, e os objetos mais apreciados já foram encaixotados, devo partir ainda pela manhã.

Aspiro todos os medos que fui capaz de prever.

É que ainda não perdi a mania de clarividência. O mistério do nulo oculto me facina.

A falsa liberdade, antes tão aclamada, agora fantasiada pela solidão, me acusa de ser o único culpado pela sua presença tão real.

Logo eu.

Reu meu.

Idigninação.

Irônia.

Vou então pra cozinha, mas não dá pra preparar um jantar. Vejo algumas frutas, e sacio a fome. Mordo uma maçã, percebo a fragilidade que me rodeia, e coagido sinto-me humano.

Suposições.

Obrigo-me a não chorar enquanto rabisco alguma coisa no papel.

A caneta agora ganha vida e o personagem se transforma em mim mesmo, que antes fingia. É agora vivo o manuscrito de letras tremidas e sofridas.

Percebo então que elas acompanham mas que eu à elas.

E choro. Lacrimejando verdades minhas.

Minha alma aspira fragilidade e insegurança.

E percebo o quão sou humano.

Pego no sono, e o adeus fica para amanhã.

Hudson Eygo

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 06/09/2010
Código do texto: T2482143