Novamente, Esperança.
Trancado no quarto, ouço passos na sala, interrogo-me pensando quem poderia ser e vislumbro minha cara de espanto refletida no espelho ao perceber que era tudo ilusão. Até mesmo a prisão.
Sinto.
Uma melodia distinta alucina o toca fitas que ganhei quando criança, e conservo até hoje. A música me remete a um tempo tão longínquo quanto o futuro. Sinto saudades do antes e me apoio no depois.
Esperança.
Ultimamente, tenho cogitado, de forma significativa, o depois. E começo a temer a probabilidade positiva de algo tão distante e real. Percebo o vôo de um inseto ”ziguezagueando” pelo quarto iluminado pela fraca luz do abajú.
Adormeço.
Mentira. Não consigo dormir já faz uma semana, mas queria poder, e por isso menti.
Talvez isso seja esperança.
E novamente percebo minha mania de futuro imperfeito.
Apego-me muito menos às cores, me alicerçando apenas na formas.
Estou apaixonado por formas, vibrantes e divertidas.
Nada de coisas complicadas e caleidoscópicas, chega de verdes a zuis, pra quê o púrpura no vermelho intenso? Também não me apego mais nos quadrados prefeitos, nem nos círculos cuidadosamente preparados. Pra lá com pentágonos e hexágonos.
Refiro-me às formas mais simples e delicadas, de um luxo sem igual. Formas complicadas e imperceptíveis, como a geometria do olhar cansado de esperar pelo beijo que não veio, ou a circunferência da boca sedenta pelo sabor agridoce dos lábios teus.
Volto para o quarto, de onde nunca saí.
Na verdade nunca saí dele, é o meu principio, e possivelmente será meu fim, pelo menos por agora.
Fecho os olhos e concentro-me no sono, preparando-me para o amanhã, que com o nascer do sol, se tornou hoje.
Novamente, esperança.
Hudson Eygo