O Crucificado

Bem no centro do lindo gramado da Universidade, um jovem estudante grita para que todos os outros o escutem:

---- Há muitos anos este sapatos privam meus pés de tocar o solo sagrado da mãe Terra! - Tira os sapatos e joga-os longe – NÃO MAIS ME PRIVARÃO!

A simples cena atraiu bastante atenção dos passantes, que continuaram a assistir.

---- Este casaco que priva minha pele da realidade climática não mais me privará! - em instantes, casaco, camisa e calça se encontravam jogados ao chão úmido – Escondi minha nudez durante a vida toda, como se manifestar o desejo da natureza fosse vergonhoso! Foi assim que eu nasci! - Em instantes, a última peça de roupa foi jogada ao chão.

Alunos curiosos espiavam pelas janelas, outros amontoavam-se em um pequeno circulo a sua volta.

---- Quem nos últimos teve o prazer de apresentar seu corpo ao planeta, deitando-se nu sobre ele e aceitando sua essência selvagem? - O rapaz deita-se de braços abertos, vislumbrando o belo céu esbranquiçado que lhe cobria – O homem subverte os princípios e leis naturais desde o início dos tempos, nossa medicina nos impede de morrer adequadamente conforme nossa capacidade de sobrevivência, são os mais fracos quem tem dado continuidade a evolução genética de nossa espécie, somos filhos e netos dos menos privilegiados! Quantos de nós estaríamos aqui, prontos para perpetuar nossos genes sem a intervenção dos médicos? QUANTOS?

Mais pessoas se aproximavam e muitos pareciam estar aceitando o discurso como uma simples aula, apesar do estado lamentável do orador.

---- Nosso DNA não sustenta nem mesmo nosso nascimento, as cesarianas garantem que cada bebe enfraquecido por esta magia negra chamada ciência veja a luz do sol mesmo que com olhos incapazes de medir o custo de sua própria existência! O câncer tenta equilibrar nosso ecossistema, retirar de nossa sociedade os mais custosos, mas, lutamos contra ele como faríamos com qualquer um de nossos predadores. Crucifixamos nossos amigos, evolutores de nossa raça!

Neste instante, a Universidade inteira dirigia sua atenção ao pobre rapaz.

---- Eu sou o crucificado!!! - exclamava com convicção – Eu sou aquele que ficará!!! Eu sou o crucificado!!!

Neste instante o telefone celular oculto pelo bolso da calça toca. Um telefone tocando, precisa ser atendido.

---- Alo? - Atende o rapaz ainda nu, com as calças na mão. - Sim, sou eu. - o silêncio de um louco e a expectativa da plateia faziam com que o tempo parecesse não passar – Que bom, graças a Deus. Estou indo até ai.

O rapaz levanta, veste-se, calça seus sapatos e sai andando como se não devesse nada para ninguém.

---- Onde você está indo? - Perguntou um bela jovem que assistia.

---- Ver minha mãe no hospital, ela acabou de sair do coma.

De alma limpa e com o coração aliviado, um jovem perfeitamente sadio mentalmente dirige-se para seu novo destino. Mas um pouco de sua loucura temporária sobreviverá em quem esteve lá para assistir.

=NuNuNO==

( Que há muito tempo priva-se da própria insanidade, que pretende um dia recuperar )

PS: Esta história é baseada em um fato real, mas, as partes repetitivas do discursos foram resumidas, as palavras de baixo calão omitidas e as partes desinteressantes não foram narradas.

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 13/10/2010
Reeditado em 13/10/2010
Código do texto: T2554115
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