Um breve momento telepático

Se você parar para observar seus próprios pensamentos, poderá constatar que antes que seu narrador mental comece a descrever o que você está pensando, existe uma intenção de que este pensamento seja descrito. Quando nascemos, não possuímos ainda uma linguagem sistematizada que traduza nossas intenções, logo, também não temos um narrador interno. Isto possibilita, que um recém-nascido converse “telepaticamente” com a sua mãe, o médico, e outras crianças. É claro que após o desenvolvimento da memória linguística, os adultos prestam mais atenção em seus próprios narradores internos do que no código intencional que os alimenta, mas, em um momento de averbalismo, uma enfermeira, em uma maternidade, começou a entender a conversa entre dois recém-chegados:

---- Oi! Meu nome é menino.

---- E como você sabe seu nome? Fiz de tudo para lembrar o meu, mas, esqueci.

---- E que quando eu sai, todos gritaram que eu sou um menino! Meu nome é menino saudável.

---- Pra mim eles gritaram menina, meu nome é linda menina.

---- Na verdade – Telepatizou a enfermeira – O menino é Arthur e a menina é Tiffany.

---- Então meu nome é Arthur, e eu sou um menino?

---- Então meu nome é Tiffany? Qual é a diferença de ser menino e ser menina.

---- É só olhar para baixo – A enfermeira transmitiu mesmo sem querer para as duas crianças, ao mesmo tempo também transmitiu todos os medos, tabus, e preconceitos que tinha em conversar sobre este assunto com crianças recém-nascidas, o que obviamente, serviu apenas para atiçar a curiosidade dos dois.

---- É mesmo! É diferente! - Expressou intencionalmente Arthur, que aprendia a mover os músculos oculares.

---- Então é essa a diferença? Só isso? - A menina não se conformava.

---- Pois é. Essas pessoas grandes são engraçadas.

---- Fazem tanto caso com este assunto.

---- Mas eu não entendo, por que eu tenho que ser chamado diferente só por que tem um negocio azul no meu pé!

---- O meu é rosa, e me chamam de menina, e ela que tem um negócio branco no pé, chamam do que?

---- De enfermeira – respondeu o menino.

---- Viemos para um mundo divertido - replicou Tiffany.

Em uma maternidade três espíritos, identificados apenas por seus calçados riam livremente cada um com sua própria interpretação do mundo e do momento. Prontos para descobrir a cada dia, um pouco mais do que significa “viver aqui”.

=NuNuNO==

( Que resolveu se disfarçar de médico e pôs um sapato branco, mas, infelizmente foi logo confundido com uma enfermeira )

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 19/10/2010
Reeditado em 19/10/2010
Código do texto: T2565781
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