Mestre Kataphlan & Eu - Apresentação

No final do ano de 1997, em uma terça-feira, meu amigo Joey e eu, estávamos em uma situação bastante desesperadora para os fumantes: Sem cigarros no meio da madrugada Curitibana.

Caminhando pelas ruas desertas da cidade adormecida, procurávamos desesperadamente por qualquer tipo de estabelecimento ou pessoa que pudesse nos vender um maço de cigarros.

Em um certo momento percebemos um velhinho, de cabelos e barba compridos, muito bem vestido, que vinha em nossa direção caminhando calmamente. Eu e meu amigo na época não eramos exatamente as pessoas que causavam a melhor das impressões em uma rua escura no meio da madrugada, mas mesmo assim, o velhinho não se abalou e continuou caminhando de forma calma e serena.

---- Ei, você teria dois cigarros para vender? - Perguntei quando estávamos próximos o suficiente.

Ele olhou-me nos olhos, transmitindo uma paz e um carinho que não eram comuns para pessoas que vivem na cidade. Ele tirou um maço de cigarros lacrado de dentro do bolso interno do paletó e o estendeu para mim.

---- Pode ficar com o maço, eu não fumo.

Confesso, naquele momento meu cérebro entrou em parafuso, olhei para o Joey, e ele também parecia perdido nas próprias divagações e questionamentos sobre o que estava observando. Agradeci, abri o maço, tirei um cigarro para mim, outro para meu amigo, peguei o isqueiro em meu bolso e por algum motivo também inexplicável, ele recusou-se a acender, como se estivesse molhado.

---- Ehhh... Você não teria fósforos ou um isqueiro também? - Perguntei para o senhor que nos olhava como se estivesse assistindo um filme.

---- Não! - Ele respondeu – Eu não fumo, por quê eu deveria ter fósforos?

Hoje eu me martirizo por naquele momento não ter perguntado por que diabos ele andava com um maço de cigarros no bolso já que não fumava, mas, não perguntei. Em minha avides por fumar, despedi-me dele para continuar a peregrinação, agora em busca de fogo. Antes de nos deixar ir, ele ainda teve tempo de nos dar uma lição valiosa de vida:

---- Vocês acabaram de descobrir que não era de cigarros que vocês precisavam, depois vão descobrir que não precisam de fogo também...

Ele continuou seu caminho, andando sem pressa como se estivesse apenas passeando sem nenhum objetivo concreto.

A caminhada até o local onde finalmente teríamos como acender nossos recém-adquiridos cigarros foi longa, no meio do caminho divertimo-nos bastante fazendo suposições absurdas sobre quem era o misterioso velhinho que não fumava. Comecei imaginando que ele era um alienígena, depois o Joey tentou me convencer por causa da barba e do cabelo dele, que ele era eu no futuro e que viajou no tempo apenas para fazer a piadinha do cigarro. Embora viajar no tempo para fazer uma piada seja algo que eu realmente faria se pudesse (perco o sincronismo espaço/tempo e desequilibro o Universo em uma ucrônia, mas, não perco a piada), eu acabei por acreditar que ele fosse um mestre iluminado que estava no lugar certo, com o conteúdo exato em seus bolsos para nos passar um valioso ensinamento.

Tivemos certeza disso quando chegamos em uma barraquinha de cachorro-quente, onde poderíamos acender o cigarro. Ao invés disso, sem pensar pedimos uma lata de refrigerante cada um.

Após o primeiro gole:

---- Lembra que ele falou que não precisaríamos de fogo? - perguntei.

---- Lembro!

---- Ele sabia! Ele é realmente um mestre iluminado!

---- Ou é realmente você do futuro!

Após bebermos nossos refrigerantes, o restante da noite foi apenas inventar histórias sobre nosso personagem misterioso, o qual batizamos carinhosamente de Mestre Kataphlan.

Hoje em dia eu sei, que o que o mestre quis dizer é que nós estávamos confundindo as coisas, sentimos uma agonia dentro de nossos seres e por algum motivo acreditamos que o cigarro irá fazer esta agonia passar. É claro que satisfazer um desejo pontualmente parece aliviar por alguns instantes essa inquietação, mas não a cessa. As pessoas confundem as coisas o tempo todo, alguns pensam que acumulando mais e mais dinheiro irão cessar suas aflições, outros imaginam que serão curados fazendo orgias, atingindo o maior número de vezes o estado de êxtase do sexo, das drogas, ou da culinária. Algumas pessoas se afundam no trabalho, outras na religião, mas, todas estas coisas apenas servem de paliativos para o nosso problema real. Que infelizmente eu não sei qual é.

Naquela noite, Joey e eu inventamos pelo menos 50 histórias interessantes sobre o Mestre Kataphlan, demos muita risada da maneira transcendental que ele utilizava para transmitir suas grandes e valiosas lições sobre a espiritualidade. Infelizmente, nenhuma linha foi escrita a respeito. Quando o sol nasceu, e resolvemos ir para nossas casas, percebemos duas coisas incríveis:

1) Meu isqueiro havia voltado a acender!

2) O maço de cigarros ainda estava intacto!!!

Não sei que ursinho carinhoso me atingiu com seu raio ontem durante a noite, mas, acordei pensando em finalmente escrever as histórias que eu ainda lembro sobre este venerável personagem, que acompanhou-me o dia inteiro em meu Universo imaginário. Então, na medida do possível, tentarei transcrevê-las da melhor maneira possível. Espero que agrade.

Todas as histórias se baseiam em um evento que não aconteceu, onde naquele momento do maço de cigarros eu teria me jogado aos pés do Mestre e implorado por sua sabedoria, por isto, o nome da série é “Mestre Kataflan & eu” e conta como teria sido meu aprendizado caso o mestre tivesse me aceitado como discípulo.

=NuNuNO==

( Que adora confundir os leitores, por isto, fez esta apresentação )

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 28/10/2010
Reeditado em 28/10/2010
Código do texto: T2582684
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