Muleque Buliçoso

A vizinha tinha comprado uns pintos, tipo desses frangos brancos de raça "legorne", desses que se compra em feiras e as crianças ficam alucinadas para tê-los, e os pais com o problema de acomodá-los, dar comida, água, limpar a sujeira toda... isso nos dias de hoje

Mas, o vou relatar agora se passou há muito tempo...

O pintos até que já estavam crescidinhos, mas, viviam saindo de seu território e ficavam amolando nas casas dos vizinhos.

Piavam o tempo todo: Piu-piu daqui, piu-piu dali... piu...piu... piu... como enchiam o saco!

Ocorre que naqueles dias estava o minino buliçoso ajudando a caiar a casa onde moravam. Tinham que pintar a casa toda, por dentro e por fora.

A cor escolhida era um creme e o barrado (usava barrado naqueles tempos) era um marrom, meio avermelhado...

Usava-se tinta Xadrez, que misturada à cal e água dava-se a textura e cor que se desejava (por isso se falava "caiação").

Todos já cansados do trabalho e os benditos pintos ficavam por ali e nada da vizinha chata se incomodar com isso... os danadinhos acostumaram-se a atravessar a rua de terra e íam em busca de alimentos por lá.

O muleque buliçoso pensou: vou dar um jeito nesses pintos!

Atraiu-os para um canto, preparou um pouco de tinta bem avermelhada e passou a pintá-los uma a um.

Ficaram todos tintos de vermelho.

Em seguida os soltou de volta de onde não deveriam ter saído.

Bom, sempre que o muleque buliçoso fazia das suas, logo em seguida o "tempo fervia" nas redondezas.

Os meninos chatos da vizinha choravam, a vizinha, que não era lá muito "flor que se cheirasse", vinha reclamar, a mãe do muleque também respondia se alterando, e a "coisa azedava" lá nas bandas da Vila Porfírio.

É porque seu filho vive fazendo "maldades", outro dia espetou a bunda do Val (filho chato dela) com canudinho de espinhos (esgaravatana), depois joga pedras na cabeça da menina do outro vizinho, ajuda o alfaiate a matar gatos batendo-os com a cabeça no abacateiro, matou os frangos da outra vizinha com pedradas, desmontou os ninhos da galinha do Serjão, deu estilingada entre os olhos do filho do Funileiro e a polícia foi buscá-lo em casa...

Nossa, não sei de onde a vizinha arrumou tantas coisas para sair assim "desfiando o rosário"... Será que tudo isso fez o muleque buliçoso?

A mãe resolveu logo em seguida... olha a muié futriqueira e diz: você cuida mais da sua vida, sua alcoviteira que por aqui todos sabem de suas "puladas de cerca" com o Cido, que também matou o cachorro da vizinha de baixo com um tiro de 38, só porque ele latia quando ele "pulava a cerca" de sua casa. É melhor você deixar de ser alcoviteira e cuida dos seus filhos e desses pintos que não param de "encher o picuá" aqui em casa... e lá foram os desaforos todos escancarados no portão, com direito à assistência dos demais vizinhos, que tomavam por vezes partido na contenda.

E as coisas seguiam quentes até à noite...

Naturalmente, o menino buliçoso, fazendo cara de que não era com ele, dissimulado e rindo por dentro da malvadeza, pensava...

Bom, para esse dia já tá bom!

Que será que amanhã vai acontecer... além dos pintos que foram morrendo um a um...

Porque será que perseguiam tanto os filhos da D. Julinha?

Tudo intriga... tudo intriga...

Briga de favevelado? Não, não era também não... um causo de uma pequena cidade do interior.... mas para todo vizinho chato, existe a dose certa de antídoto...

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Currupaco.. papaco,

a muié do macaco,

ela pita, ela fuma,

ela cheira tabaco!

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"Quando nasci veio um anjo safado

O chato dum querubim

E decretou que eu tava predestinado

A ser errado assim

Já de saída a minha estrada entortou

Mas vou até o fim"

Chico Buarque

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"Se ofenderes o teu vizinho, é melhor não o fazeres pela metade".

George Bernard Shaw

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"Nem mesmo o homem mais bondoso consegue ficar em paz, se isso não agrada ao seu vizinho mau".

Friedrich Schiller

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 04/11/2010
Reeditado em 01/12/2010
Código do texto: T2595589
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