Em um táxi qualquer

---- Pra onde vamos? - Pergunta o taxista.

---- Rua XV, por favor. - Responde educadamente seu passageiro.

---- Esfriou né? - Pergunta o taxista pela quadragésima vez durante a noite, tentando encontrar um assunto óbvio para discutir com seu passageiro.

---- Pois é... Esta cidade é maluca.

---- Depois do calor de ontem, quem iria imaginar?

---- Verdade...

Um celular interrompe a interessantíssima conversa, o motorista atende, conversa por alguns instantes, encosta o carro, e soluçando desliga o taxímetro.

---- Tudo bem? - Pergunta o passageiro.

---- Meu irmão acabou de morrer. - fala rouco, pelo choro contido que insistia em querer explodir em sua garganta.

---- Nossa, isso complica as coisas.

---- Eu não vou lhe cobrar esse pedaço da corrida, não vou conseguir dirigir por algum tempo, vou chamar outro carro para você.

---- Tudo bem, se quiser falar a respeito um pouco... Colocar para fora...

---- Ele foi assaltado ontem no carro, levou um tiro. Estava em estado grave, mas, eu ainda tinha esperança.

---- Isso complica realmente as coisas.

---- Vou chamar um outro carro para você – Diz o taxista, tentando ser profissional em seu momento mais humano.

---- Não precisa, eu pego carona com o meu amigo que está logo atrás de você – fala o passageiro tentando conseguir um tom humano em seu momento mais profissional – na verdade, peguei esta corrida para roubar você. - Com um certo pesar, o passageiro exibe sua arma, uma autentica carteira de identidade para um bandido.

---- Isso não esta acontecendo! Isto não está acontecendo – repete em sussurros o taxista tentando negar a realidade cruel que se apresentava.

---- Desculpe, não é nada pessoal com a sua família. É só uma desagradável coincidência. Apenas me entregue o seu dinheiro, e não tente reagir, senão terá o mesmo fim de seu irmão.

---- Pegue! - fala estendendo a mão com um pequeno maço de dinheiro – é tudo o que eu tenho, inclusive o dinheiro para troco.

---- Eu sei que você tem mais... Seguimos você o dia todo pelo sinal de rádio da central, sabemos quanto você ganhou. Se serve de consolo, seu irmão havia ganhado bem mais ontem do que você hoje. E ele escondia o dinheiro embaixo do banco... Pegue!

---- Como você pode ser tão mal? Tão frio? - Pergunta o taxista retirando vagarosamente o restante do dinheiro escondido sob o seu banco.

---- Você se acostuma – responde calmamente o bandido – faz parte do trabalho, assim como conversar sobre o tempo com seus passageiros.

---- Entendo... E agora? Você vai fujir?

---- Sim, mas antes eu preciso matar você.

---- Mas eu não reagi! Nem pretendo! Eu juro que nem mesmo chamo a policia.

---- Desculpe, mas, também faz parte do trabalho. - O bandido engatilha a arma.

---- Posso fazer uma última oração?

---- Pode, mas, não demore. Senão não poderá dizer amém.

---- Senhor! Abençoa estas mãos que roubam meu trabalho e tiram minha vida, recupera para este seu filho o amor e a paz que a tanto tempo ele não experimenta mais. Ilumina sua mente com o discernimento e principalmente o perdoe pelo que vai fazer. Amem!

Instantes após, ouviu-se um forte estampido quando o bandido atirou dentro da própria boca. O taxista apenas assistiu enquanto a policia e os paramédicos o levavam em estado grave para o hospital, um pouco antes da porta traseira da ambulância fechar, viu seu falecido irmão, sentado ao lado do bandido, com as mãos unidas, como sempre fazia em vida quando estava rezando.

=NuNuNO==

( Que acha que o grande problema de se acostumar demais com a escuridão, é que a luz irá causar dor quando aparecer )

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 13/11/2010
Reeditado em 13/11/2010
Código do texto: T2612602
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