SOFRIDAS REMINISCÊNCIAS

Não sou muito boa com as palavras, porém o que conto agora que sirva de exemplo a todos. Namorei um rapaz por quatro anos e meio. Na época eu tinha apenas 14 anos de idade e estava às vésperas do meu debute como menina moça.

Era aniversário de papai e alguns vizinhos e amigos mais próximos foram convidados. E a comemoração ocorreu em uma noite não muito iluminada. O céu estava com um tom acinzentado e lá fora caia uma leve fina garoa.

Recostada na janela observava os pingos da garoa, com os pensamentos a mil, afinal de contas, dentro de poucos meses iria dançar a valsa dos meus sonhos, quando de repente vi alguém se aproximar sorrateiramente... Felipe - era seu nome - Filho de um amigo do meu pai.

Foi algo entre curioso e meio engraçado... Porque eu gostava de outro garoto e pedi que ele me apresentasse a esse seu amigo -o Fernando- e ele então me disse: Como posso apresentar-te um amigo, já que sou tão apaixonado por ti... Seria masoquismos de minha parte. Naquele exato momento aproximou-se mais de mim e me pediu um beijo. De imediato deixei-me ser beijada por aqueles lábios tão quentes e macios.

Nunca me esquecerei daquele beijo repentino e aqueles braços tão firmes e vigorosos segurando-me pela cintura. Ao final da noite antes de ir embora me pediu em namoro... Sem sombra de dúvidas aceitei e disse para ele que pedisse o consentimento dos meus pais, já que minha família é muito certinha em relação a isso...

No dia seguinte lá estava ele com o rostinho mais vermelho que um pimentão, o coitadinho morrendo de vergonha, mas como eu já havia contado de primeira mão à minha mãe, acho que ela conversou com meu pai durante a noite... E então ele aprovou! Só disse que achava que éramos duas crianças e que se eu, ele e, principalmente, a minha mãe quiséssemos estava tudo bem que ele também aceitava...

Era tudo tão bonito, puro e sincero! Confesso que sinto saudades daquele tempo... Nos meus 15 anos ele era o rapaz mais atraente do baile e foi o primeiro a dançar comigo, aquela valsa inesquecível que parece ressoar até agora em minha mente...

Um rapaz que fazia tudo por mim e que se doava por inteiro... Relembro que no inicio não sentia nada por ele, mas com o passar do tempo e a convivência tão próxima fez com que aprendesse a gostar mais e mais, até chegar ao ponto de amá-lo verdadeiramente...

O tempo foi passando... Dias... Meses e anos. Acompanhado do romance de amor vieram muitas brigas e a maioria por ciúmes. Por conta de seu gênio ciumento comecei a me afastar de quem mais gostava... Minhas amigas da escola, vizinhas, até mesmo coleguinhas de infância.

Abri mão de muitas coisas por ele, mas não me arrependo porque o que vivi com ao seu lado foi único e maravilhoso. Até meus pais começaram a se incomodar por conta disso e eu não me importava porque na minha vida só havia ele e mais ninguém... Até que em uma dessas discussões eu terminei com ele. Disse-lhe tudo o que estava entalado em minha garganta.

Sei que desabafei e falei o certo, no momento errado e com isso Felipe chorou feito um menino coisa que já não fazia há muito tempo. A briga começou porque o vi sentado em uma mesa de bar com duas mulheres. A história começou assim: Bárbara minha colega do curso de informática o viu neste barzinho com essas duas “gurias” e me ligou na hora, dizendo-me que Felipe estava me traindo e que eu fazia papel de tonta todo aquele tempo.

Desliguei o telefone e fui para lá conferir (Não me critique porque você no meu lugar teria feito a mesma coisa)... Sei que não tinha nada haver porque ele não bebia e nunca foi um menino “galinha” e sempre foi muito tranqüilo. Eu também posso dizer que sou bastante calma, mais quando vi aquela cena o sangue ferveu na cabeça e as palavras de Bárbara soavam em meus ouvidos, como aquela valsa dos meus 15 anos.

Pensei assim: porque ele pode e eu não? Caminhei até a mesa dele e dei-lhe um tapa estridente em seu rosto e disse de bate pronto de que tudo estava acabado entre nós e que ele podia ficar com quem quisesse e ainda continuei: É esse o amor que sente por mim!? O chão parecia curto demais para a minha ira.

Parece que estava possuída por uma força maior em meu corpo, nem chorar eu conseguia de tanta raiva. Parecia que tinha despertado a ira de um vulcão dentro de mim... A cegueira da raiva tomou-me por completa.

Ele correu atrás de mim e disse que eu estava equivocada e que não tinha nada com a garota, mas que apenas estava comemorando o aniversário da colega dele do cursinho de inglês... E que ele iria me falar assim que saísse de lá. Cega pela cena inusitada eu não fiz nem questão de ouvir as desculpas dele.

Foi quando ele segurou firmemente em meus braços e me pediu perdão. Eu disse então: Faça o que achar melhor da sua vida já que não signifiquei nada para você, todos esses anos em que fui fiel a ti... Ele tremendo muito então me disse: Nunca te trai! Sempre fui fiel e vou te amar além da morte.

Eu estava decidida acabar com aquilo e fiz questão de demonstrar isso a ele e disse que de mim ele teria o maior desprezo do mundo... E que... Nunca mais olhasse em meus olhos... Ele então soltou meu braço e disse: Pois bem, se é assim que quer, assim será! Convido-te a beijar meus lábios frios e gelados amanhã!

Fui para minha casa chorar, desliguei o celular e na escuridão do meu quarto na minha cabeça vinha apenas à frase de Bárbara, e me perguntava será mesmo que fiz o papel de idiota todo esse tempo, não é possível, pois ele não é assim... Chorei tanto que acabei adormecendo.

No dia seguinte meus olhos de tão inchados pareciam dois melões. Então coloquei meus óculos escuros e desci para tomar café, ao descer as escadas vi meus pais em pé, pareciam que estavam me esperando para me dizer algo, pensei: o Felipe já veio procurá-los e contar o que aconteceu. Então já apareci me armando com palavras que estavam tudo na ponta da língua... Quando meu pai perguntou o que havia acontecido entre eu e Felipe. Eu disse que naquela casa esse nome estava proibido e que a partir daquele momento tinha ganhado minha carta de alforria (Já que ele me prendia muito)...

Foi quando minha mãe começou a chorar e disse: Realmente você está livre dele para sempre porque Felipe se matou enforcado hoje de madrugada... Não acreditei! Como o Felipe foi tão baixo a ponto de mandar a mãe dele ligar pra dizer que ele tinha se matado... Ele está todo arrependido e está achando que vou voltar atrás, mas ele está muito enganado...

Já é tarde para isso, foi quando a frase em que ele me disse vieram à minha cabeça, então corri para a casa dele e apenas o avô dele estava lá e disse que o corpo dele já estava no IML... Meu Deus, o que fiz? O grande amor da minha vida estava morto... A família dele queria me enforcar junto porque eu fui o pivô da sua morte... Nunca pensei que ele seria capaz... Nem tive tempo de pedir perdão pelo que fiz, agi de cabeça quente e agora sofro as conseqüências.

Agora sei que o pior tribunal é a culpa... As vésperas de completar 19 anos e estando grávida. Isso mesmo! Felipe me deixou esse presente... Será uma menina e se chamará Victória em homenagem a sua avó que já era falecida e que ele tanto amava... E sei que de onde ele estiver ele me perdoará, porque sei que quem ama perdoa e ele me amará além da morte... Mas nada o trará de volta para mim...

** Revisão: Hildebrando Menezes

Yana B
Enviado por Yana B em 18/01/2011
Código do texto: T2736551
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