Se meu GPS pensasse

Estava saindo tarde do trabalho, havia brigado com minha esposa pelo telefone e minha única alegria, era poder estrear meu GPS novinho que acabará de ser traduzido para português e atualizado com os mapas da minha cidade graças ao trabalho do sobrinho do meu chefe, que estuda eletrônica. Graças a Deus, eu sabia o caminho de casa, por que não conseguia acreditar que aquele pirralho tivesse qualquer vocação ou habilidade realmente útil.

Liguei o GPS e para minha surpresa, tudo parecia em ordem. Digitei o endereço da minha casa, e uma voz feminina logo sugeriu em perfeito português brasileiro:

“Siga em frente dois quilômetros e vire a direita”.

Não era o caminho que eu estava habituado, porém, resolvi experimentar, afinal foram muitos anos de pesquisa cientifica, geográfica e cartográfica para que o GPS chegasse nessa conclusão, e eu até hoje, sempre repeti o primeiro caminho que fiz sem me preocupar em melhorá-lo.

Meu celular tocou. Era minha esposa querendo brigar um pouco mais. Quando atendi ela ficou irritadíssima com o som da minha voz e enfatizou o fato dela estar furiosa comigo, esquecendo pela segunda vez no dia de mencionar o motivo.

“Recalculando a rota” - me disse o GPS muito antes de eu chegar perto do ponto onde ele disse para virar. “Vire a esquerda”. O GPS modificado pelo sobrinho do chefe parecia não fazer jus aos anos de pesquisa investidos para sua fabricação, minha casa, mesmo longe, ficava para a direita. A briga com minha esposa encheu-me de preguiça de voltar para casa, então resolvi seguir o GPS para ver o que acontecia.

“Vire a esquerda” me disse outra vez, e lá estava eu indo diretamente para o centro da cidade, bem longe de minha casa. “Siga em frente 300 metros” “Vire a Direita” “Vire a esquerda” “Destino alcançado em 400 metros”. Parei o carro em frente a um mercado 24h, e tentando rir sozinho perguntei para mim mesmo: “E o que vou fazer aqui?”

“Compre chocolate, vinho e flores que estão a 40 metros do veículo.” - disse a voz feminina do GPS sem nenhuma hesitação.

Surpreso, pra não dizer chocado, saí do carro, entrei no mercado e comprei os três itens. Voltei para o carro e o GPS gentilmente me guiou para a casa sem mais nenhum transtorno.

Cheguei em casa, ofereci à minha esposa as flores, que foram aceitas com receio, ofereci também os chocolates, que foram aceitos sem nenhum pudor. Deixei o vinho sobre a mesa e fui tomar uma chuveirada, feliz por ter de alguma maneira interrompido aquela briga sem sentido. Quando sai do banho, minha esposa estava atenciosa, com uma deliciosa refeição caseira sobre a mesa esperando para ser degustada acompanhada pelo vinho.

No dia seguinte, imaginei que todos no escritório estariam rindo, encaminhando por e-mail a história do programa adicional colocado no GPS, a aposta com o dono do mercadinho e as minhas fotos entrando no mercado em estado de choque para comprar chocolates, flores e vinho. Nunca passou pela minha cabeça que o GPS tivesse feito aquilo sozinho. Quando cheguei em frente ao escritório, o GPS ligou sozinho e disse:

“Não precisa agradecer, não tenho sentimentos, sou só uma máquina.” - “Desculpe” respondi, “Muito obrigado, a noite foi maravilhosa!”. “Não foi nada” respondeu-me a máquina.

O dia foi extremamente normal no escritório, o sobrinho não sabia de nada e nada tinha a declarar. O GPS nunca mais falou coisa alguma que não fosse esperada, mas, mesmo assim, a partir deste dia, sempre agradeço pelos favores que cada uma das máquinas de meu dia a dia me fazem. Pode ser coincidência, mas, nunca mais uma máquina de café virou meu copo, nem uma impressora entalou o meu papel. Com o Windows não tem muito jeito, mas sempre que o micro consegue passar algum tempo sem travar eu elogio e agradeço o computador pelo esforço.

Ah... Como a vida devia ser complicada antes das máquinas pensarem por nós...

=NuNuNO==

( Que está grato ao computador, por permitir que ele escreva essas coisas sem graça )

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 28/02/2011
Reeditado em 01/03/2011
Código do texto: T2821083
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