UM AMOR IMPOSSÍVEL

Jorge era um homem comum, tinha um trabalho simples, mas muito importante no ano de 1880. Ele era vaqueiro, na antiga Montes Claros de Formigas, que se transformaria na cidade de Montes Claros, no interior mineiro.

Em 1880, Jorge tinha apenas 19 anos. Apesar de jovem na idade, tinha o semblante marcado pela trabalho duro e pelo sol forte, típico do norte de Minas Gerais.

Todos os dias, Jorge levava o rebanho do Coronel Freitas para as pastagens no vale do rio Vieira. Ele sempre gostava de ficar próximo a um pequizeiro e descansar na mirrada sombra do mesmo.

O Coronel Freitas era um dos homens poderosos do simples arraial, e a família de Jorge era fiel a esse Coronel há décadas.

O tempo ia passando, todos os dias Jorge observava uma imagem de andar e gestos singelos e olhar meigo. Para Jorge, aquela figura entre todas as coisas do mundo, era a mais bela. Esta figura, era a bela Clarice, filha do Coronel Freitas. Depois de algum tempo admirando a filha do Coronel, Jorge começa a sentir algo estranho em seu peito, percebe então que está apaixonado. Ele acha tal situação ridícula, pois ele, um simples boiadeiro não nascera para tal paixão. Além do mais, Jorge sabia que a filha do Coronel estava prometida a um estudante de medicina da universidade de Coimbra que logo se tornaria doutor. Aborrecido, Jorge esconde os seus sentimentos e tenta afastar aqueles pensamentos, que ao seu modo de ver era ridículo.

Por alguns dias, Jorge tenta não observar a moça, passa a ser mais brincalhão com os amigos e até começa a frequentar o boteco de Seu Cícero, onde os peões se reuniam para tomar a tradicional cachaça.

Já não aguentando mais reprimir aquele sentimento, Jorge se desabafa com o seu melhor amigo e colega de trabalho, o Otávio. Jorge fala ao seu amigo:

-- Otávio, eu tô cum sentimento istranho, já tentei isquecer, mas o trem vem me perturbar, como se fosse um engodo.

Otávio intervém:

-- Mas qui trem istranho é esse sô?

Jorge começa a relatar:

-- Sempre admirei como a fia do Coroné é bunita. Todo dia eu observava ela. Até qui di reprente vei a vontade e a ideia de falar pra ela o que eu sinto.

Ouvindo o relato extremamente perigoso do amigo, Otávio o aconselha:

-- Moço isquece isso. Tanta minina bunita no arraia ocê vai engraçar logo com a fia do coroné? Esse tipo de muié é proibido pra nós.

Jorge, então ouve o conselho do amigo e tenta obedecer. Começa a levar a sua viola para o pasto, com a intenção de se distrair e não lembrar da Clarice, imagem de mulher que tanto perturbava o seu coração de sertanejo. Um dia, quando tocava a sua viola, embaixo do pequizeiro, Jorge pára refletindo e pergunta: como posso sentir tal paixão pela Clarice se vivemos em mundos diferentes? E mais, nunca tivemos uma conversa mais profunda. Ele parecia estar convencido de que aquela era realmente uma situação muito estranha.

Certo dia, Jorge é chamado no casarão do Freitas, o Coronel queria conversar com ele sobre uma boiada que teria que buscar em uma fazenda perto do rio Itacambiruçu. Nesta ocasião, quando Jorge esperava o seu patrão, acaba acontecendo algo inusitado, Jorge ficara frente a frente com Clarice. Jorge, parado naquela sala, segurando o chapéu com as duas mãos na frente, na altura da cintura, começa a ficar desconcertado. O seu coração passa a bater mais forte, ele começa a suar, torce para que o Coronel venha rápido para atendê-lo. Até que em um instante em que Jorge parecia possesso, irracionalmente ele se declara a Clarice. A moça olha para o simples vaqueiro, assustada, ela não diz nada. Então, Jorge sai da sala apressado, pálido e ciente da besteira que ele havia feito. Mas o seu coração, de forma antagônica se sentia aliviado, a imagem da moça não o perturbava mais.

O Coronel chega na sala, não ver Jorge, somente a sua filha assustada, então ele pergunta:

-- O que houve? Onde está o vaqueiro que mandei chamar?

Clarice responde:

-- Ele me falou algumas coisas estranhas, muito estranhas! E parece que ficou com vergonha e então fugiu.

A moça relata para o pai o acontecido. O Coronel fica furioso. E prever um problema futuro, com um funcionário com uma atitude assim.

1880, era uma época em que a lei, a justiça, a economia e a política de Montes Claros de Formigas, estavam nas mãos dos coronéis e a atitude do Jorge com a Clarice, foi interpretada pelo Freitas como um crime, e teria que ser punido.

Então, o Coronel ordena a três capangas:

--Leve este vaqueiro lá para a Gruta da Cruz. O resto vocês sabem o que fazer.

Os capangas vão cumprir a ordem. Prendem o Jorge, os moradores do arraial o observam seguindo os seus algozes. O estranho é que Jorge os seguiu cantando uma estranha canção de amor.

Depois disso, Jorge nunca mais foi visto, ninguém encontrou o seu corpo. Os capangas do Coronel Freitas não souberam relatar o que aconteceu, pois ficaram loucos, eles se sentiam obrigados a morarem na entrada da Gruta da Cruz e lá ficaram até morrerem. E com o tempo germinou-se a lenda, que se alguém que possui um amor não correspondido, chegar na entrada da Gruta da Cruz, ouvirá uma triste e assustadora canção de amor não correspondido na voz do vaqueiro Jorge.

Vicente Mércio
Enviado por Vicente Mércio em 01/03/2011
Código do texto: T2821727
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