Uma história chata

Era um dia normal, como todos os outros dias em que a maior extravagância é um ruído súbito causado pelo aquecimento de alguma peça da geladeira. Um dia tão tedioso que até mesmo os problemas pareciam divertidos, embora escassos. Espere, tem alguma coisa acontecendo ali!!! Não, desculpe, não era nada, só uma sombra que passou pela parede...

O nosso personagem principal apenas observava as paredes brancas do quarto, a imobilidade de todas as coisas e o próprio tédio.

É um bom momento para você parar de ler e ir dormir... É sério, está história é realmente chata. Ela fala sobre uma pessoa imóvel, em um quarto branco onde nada acontece. Por que alguém em sã consciência iria querer ler sobre isto? Você está em seu juízo normal? Anda usando drogas? Pois é, nosso protagonista imóvel no centro do quarto usou algumas drogas, estas drogas lhe paralisaram o corpo e uma parte dos pensamentos. Ele consegue sentir, mas, não pode raciocinar completamente. Em seus delírios emocionais, sente-se observado, como se estivesse preso em uma história incrivelmente enfadonha, porém, no fundo de sua consciência paralisada reside a informação de que na verdade ele não é mais real do que aquele quarto, não é mais real do que aquelas paredes terrivelmente maçantes.

A sombra passou novamente pela parede, sem poder mover os olhos nosso estático personagem com seu fraquejante pensar deduz que é apenas um inseto, que sem ter nada melhor para fazer está brincando de chamuscar aos poucos suas asas na lâmpada fria que ilumina o local.

A mosca choca-se contra a lâmpada sem produzir nenhum som. Os ouvidos de nosso amigo paralisado quase não conseguem ouvir a própria respiração, mas, eles sabem que o inseto está lá, uma mosca, uma terrível antagonista de toda a imobilidade que reinava em absoluto até o momento em que aquela sombra horripilante projetou-se contra as paredes.

Pobre protagonista, quimicamente paralisado e indefeso, a mercê daquela pequena e cruel criatura, que acabou encontrando em sua face um belo parque para passear. Em seu passeio a mosca caminhava pelo rosto, causando uma pequena, porém, insuportável coceira. Uma sensação tão sutil e ao mesmo tempo tão desesperadora que se só conseguiu se tornar pior quando a malvada mosca caminhou por seus olhos secos, que ainda focavam a mesma tediosa parede branca.

Uma corrente de vento faz a mosca voar, mas, para o absoluto terror do homem imóvel, logo voltaria para passear dentro de sua boca.

Se você leu até aqui, não custa nada ver como esta história termina, mas, eu entendo se essa situação da mosca que entrou na boca de um homem paralisado for emoção demais para você...

Ao sentir a mosca caminhando por sua garganta, descobriu que os instintos mais básicos ainda estavam funcionando: Engoliu a mosca por um simples reflexo. O tédio que retornava à sua volta tornou-se o mais doce alento, dentro de si, projetada nas paredes brancas da sala, enxergou a paz.

No fim do dia as drogas já não o afetavam e podia se mover novamente. Saiu da sala, foi para o quarto e dormiu. No dia seguinte pretendia tentar novamente, mas, desta vez com uma abelha.

=NuNuNO==

(Que ouviu os conselhos do silêncio e graças a eles pode ver a escuridão)

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 02/03/2011
Código do texto: T2824160
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