044 - UMA CRUZ NA ESTRADA DE COXIM - MS -

Certa vez fomos pescar no rio Taquari, nas proximidades da cidade de Coxin – MS – passamos por Campo Grande – MS – seguimos aquela longa e reta estrada rumo ao nosso destino, mas entardeceu e resolvemos não mais viajar à noite em face de um vento insano que levantava poeiras desmedidas, tudo o que não se ventou no mês agosto estava ventando naquele inicio de setembro, o vento do cachorro louco estava solto, em um posto de gasolina pernoitamos, no outro dia bem cedinho, após abastecer as caminhonetes já estávamos preparados para partir quando fomos abordados por um senhor de aproximadamente uns sessenta anos, magro, poucos dentes na boca, cabelos mais amarelecidos que brancos, olhar humilde que nos implorou que o levasse até a sua cidadezinha, pois precisava chegar lá o mais rápido possível, levava remédios para sua esposa portadora da doença do coração de boi(chagas), remédios estes que só se encontram em Campo Grande, e por falta de dinheiro vinha de carona em carona e chegara até aquele posto.

Ajeitamos umas coisas aqui, apertamos outras ali, mudamos um companheiro que era bem gordo para outra caminhonete e o Homem na minha caminhonete se espremeu largamente agradecido. Em um baixio antes de chegar a uma ponte, o Homem pediu que diminuísse a velocidade, pois queria me mostrar alguma coisa e mostrou, era uma cruz toda enfeitada de flores e assim que deixamos a cruz para traz no seguir o homem se pos a falar:

- No mês de dezembro, noite escura igual a um breu, chovia tanto que parecia que do céu um dilúvio caia sobre esta região, vagarosamente o prefeito de nossa cidade vinha em seu carro por esta estrada com seu motorista e mais dois acompanhantes, quando em meio àquele vendaval, naquela escuridão macabra do meio do nada surgiu uma mulher na pista que acenava desesperadamente pedindo por socorro e apontava para a ribanceira no acostamento da pista.

Como o motorista não conseguiu parar o carro nas proximidades em face do perigo de derrapar, parou um pouco além da mulher, e vagarosamente foi dando marcha ré, e para espanto de todos por mais que procurassem não mais viam a mulher.

Parando no local, a chuva milagrosamente amainara e com os faróis do carro ligados, com auxílio de uma lanterna o motorista, o prefeito e os demais acompanhantes saíram do carro e por mais que procurassem, que chamassem, não encontravam a mulher que todos certíssimamente viram no meio da pista. O motorista mais intrigado viu marcas nos capins do acostamento e para lá se dirigiu, com a lanterna iluminou distâncias da pista em uma ribanceira havia um carro todo amassado.

Com muitas dificuldades foram descendo os barrancos e ao se aproximarem do carro ouviram o choro de uma criancinha que milagrosamente escapara em meio a tantas destruições, mas a surpresa maior ainda estava por vir quando viram no banco do motorista uma mulher morta esmagada entre as ferragens, e mais surpresos ficaram quando constataram que a mulher morta estava com as roupas da mesma cor daquela que no meio da rodovia insistia por socorro.

Todos com os pelos arrepiados, olhos arregalados de pavor, corações disparados, concluíram que só poderia ter sido a alma da defunta que estava na pista acenando o seu desespero pela filhinha ainda viva no meio do que restou daquele carro que na certa colidiu com alguma daquelas carretas que passam carregadas de soja. Com a criancinha nos braços, todos emocionados agradeceram a Deus pelo milagre, rezaram também pela alma da defunta...

Para encerrar o causo o Prefeito conseguiu a guarda da criança e ela hoje mocinha foi adotada como filha legítima. Várias pessoas que passam pelas altas horas da madrugada naquela ponte, relatam terem visto uma mulher caminhando sozinha pela escuridão ainda trajando com as mesmas roupas daquela que em tempos atrás ali morrera, cuja cruz no silêncio vai contando este causo no repetir aumentado e perpetuando o acontecido.

Dizem que as pessoas que morrem em acidentes violentos como este, o espírito demora por um bom tempo para aceitar a morte e ficam vagando pelo lugar na falsa certeza que seus corpos ainda estão vivos.

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 23/04/2011
Reeditado em 08/02/2012
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