TA LIVRE?

Manoel, em pé à beira da calçada, dava com a mão, na esperança de que um táxi parasse e o levasse ao seu destino.

Naquele momento, Severino passava pela rua em seu táxi novinho novinho, com aquele cheirinho peculiar aos carros zero quilômetro.

Todo prosa, rebolando por ter conseguido comprar o seu carro de praça com todos os acessórios possíveis; ar-condicionado, travas e vidros elétricos, direção hidráulica, som potente, abertura interna do porta-malas, freios ABS nas quatro rodas, tri flex, rodas de liga leve, enfim, uma máquina!

Ao ver o homem acenando para que parasse, Severino encostou rapidamente o seu possante e foi logo abrindo a porta para que o passageiro entrasse.

Antes de entrar, Manoel, fez aquela perguntinha de praxe: Ta livre?

Severino, querendo fazer a sua primeira corrida no carro novo, respondeu todo animado: Tô!

Eu preciso ir até a feirinha da Forene levá meus produto, falou Manoel, mostrando uma caixa grande na calçada. O sinhô me leva?

Levo!

Vou abrir o porta-malas e o senhor coloca a caixa lá trás, ta bom?

Ôxi, ta ótimo!

Severino fez a maior pose e apertou o botão interno de abertura do porta-bagagem, e prontamente a tampa se abriu.

Manoel pegou a caixa com todo cuidado, levou até a traseira do carro, colocou-a no local e foi sentar-se no banco super confortável cheirando a novo daquele táxi que parecia ter caído do céu. Friozinho, que beleza!

Muito obrigado por o sinhô ter parado. Tem pra mais de uma hora que eu tento pegar um táxi e num cunsigo!

É mesmo? O senhor não precisa agradecer. É meu serviço e eu estou aqui para atendê-lo!

Conversa vai, conversa vem, e mesmo com o som ligado Severino começou a ouvir algum barulho vindo lá de trás. Como não conseguia distinguir que tipo de ruído era aquele, ficou preocupado e pensando: “será que o meu carrinho novinho já está com algum problema?”

Mais algum tempinho e ele começou a sentir um cheiro estranho tomando conta do interior do veículo, e misturado com o cheirinho de novo, dava um odor de pituim de urubu, que estava se tornando insuportável.

Sem mais delongas, já aperreado, Severino perguntou a Manoel: “o que é mesmo que o senhor vende?”

Manoel, todo encabulado respondeu: “ é uns poiquinho”.

O QUÊ, perguntou espantado Severino!

Uns poiquinho, leitãozinho, fios da minha leitoa Gertrudes!

Severino freiou o carro e quase subiu na calçada!

Cumé a história? O senhor encheu a mala do meu carrinho novinho com seus porcos fedidos?

Pois é né, eu já tinha parado pra mais de dez, e o sinhô foi o único taxista que aceitou a me levá até a feira. Eu pensei que num tinha pobrema!

Severino meteu o dedo no botão interno de abertura do porta-malas, abriu a porta do carro e correu para a traseira. Não deu nem tempo de chegar lá e já viu leitão pulando para tudo quanto era lado e correndo pelo meio da rua por entre os carros que buzinavam e tentavam desviar dos pobres suínos assustados!

Quando olhou para dentro do carro viu a caixa toda rasgada, e era merda e xixi por todo canto, e uma catinga que nem o cão agüentaria!

Ao mesmo tempo Manoel também corria pelo meio da rua, tentando, sem sucesso, capturar seus poiquinhos.

Severino ficou sem o pagamento da corrida, passou uma semana com o carro parado, lavando o carpete todos os dias para que a catinga saísse, e hoje, não pega nenhum passageiro sem examinar “in loco” o que ele está carregando!