Uma morena surpreendente

Aquela era uma noite incrível. Domingo de Páscoa. A páscoa é uma data estranha, bem diferente do natal. Na páscoa passamos o dia com a família, mas logo após o almoço a páscoa termina, e nos reportamos aos espaços de nossa rotina vespertina de um domingo.

Pedro fez exatamente isso, almoçou com a família. O filho veio visitá-lo, veio também a mãe que ele não via a tempo, e mais alguns parentes. Fazia já quase um ano da separação, e desde então ele não tinha mais conseguido acertar a vida, cada passo para frente, sentia que sua vida dava dois para trás, e por isso parou de preocupar-se, entrou de “vez na teoria do caos”, as coisas somente irão se organizar quando o caos for completo.

Depois do almoço deu uma desculpa qualquer e seguiu para sua rotina de domingo a tarde, o Bar do Boca. Aquele era um lugar que aprendera a visitar depois de separado. As mulheres de bem da cidade apelidaram o lugar de inferninho.

O bar do Boca recebia muitos homens, e talvez nunca tenha sido freqüentado por uma mulher. Naquele domingo estava lotado mais que o costume. O cheiro de homens suados e bêbados estava empriguinado no ar daquele lugar pouco iluminado.

A noite já começava a cobrir com seu manto negro o brilho daquele domingo ensolarado, quando a porta foi usada como abertura do céu. Um verdadeiro anjo estava entrando naquele lugar: Morena, alta, olho verdes, corpo espremido dentro de um vestido vermelho, louco para saltar para fora e ser livre.

Todos os homens olhavam, observavam, admiravam, alguns assoviavam, outros apenas cochichavam com os que estavam mais perto. Pedro também não podia deixar de olhar.

Aquele foi um momento sublime para ele, desde que Helena havia o deixado ele nunca mais tinha se apaixonado, ele nunca mais tinha se interessado por mulher nenhuma, mas aquela morena era diferente, qualquer homem do mundo olharia, qualquer homem do mundo cobiçaria.

Pedro seguiu encostado no balcão quando a morena se aproximou:

- Está bebendo o que chefe?

- Cerveja. Respondeu ele com a voz tremula.

- O mesmo dele.

Boca serviu a cliente que começou a degustar a cerveja com cuidado. Pedro talvez já alterado pelas cervejas, seguiu encarando-a fortemente, ela deixou que seus lábios ficassem sujos com a espuma da bebida e depois passou lentamente a língua.

Pedro sentiu um calor tomar conta de seu corpo, tinha vontade de naquele momento investir contra ela, a possuir, a burlar de todas as formas.

- Você dança chefe?

Pedro não teve tempo de responder e ela já o arrastou para o meio do salão, todos ficaram olhando. O espaço era pequeno, mas ela dançava demais, aos poucos ele também foi entrando no ritmo. Era um tango, o mais sensual dos tangos.

Pedro a agarrava com força e a sentia flutuar como se fosse uma deusa. Ele esqueceu onde estava, esqueceu o que queria fazer ali, esqueceu da vida, lascou um beijo molhado e demorado naquela bela morena. Logo depois tomou as rédeas da situação e a conduziu para fora do bar

Entraram no Chevete branco de Pedro e seguiram até uma rua escura, ali novamente se engataram, aquilo era loucura, ele nem ao menos sabia o nome dela, mas todos as coisas boas da vida tem o seu percentual de loucura.

Rapidamente as mãos dele navegavam naquele corpo moreno, firme e perfeito, nas pernas na barriga, tudo ele acariciava com cuidado, logo não agüentou mais, levantou aquele vestido e rapidamente levou a mão até o sexo da morena, e foi ai que seu coração disparou, suas mãos soaram, seus olhos encheram-se de lagrimas e ele teve vontade de chorar. O volume encontrado não era exatamente o que Pedro esperava, não era o que ele queria. Naquele momento ele soltou, se acoou no outro canto do carro.

- O que foi chefe?

Aquela voz fina, aquelas pernas torneadas, aqueles lábios carnudos, aqueles peitos apetitosos, tudo aquilo parecia tão natural, como podia, não estava certo, teve vontade de chorar, de reclamar, de bater, mas não fez nada disso, não tinha coragem de bater numa morena perfeita.

Rapidamente abriu a porta do carro e correu, correu para sempre, pois nunca mais voltou, nunca mais quis saber do inferninho, nem daquela morena na embalagem de moreno, e nem de seu Chevete.

Na segunda-feira Pedro entendeu: O Caos estava completo. Era hora de procurar um emprego. Um domingo de páscoa tem seus segredos e surpresas.

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 10/05/2011
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