ÓIA O MUNGUZÁÁÁÁ!!!!

No interior das Alagoas, na cidadezinha de Sóvaiquentem, havia uma delegada, braba que nem o cavalo do Cão, delicada que nem bambão de jumento!

Dra. Pafúncia era tida como uma das mulheres mais brabas que já haviam nascido por aquelas bandas. Mas, apesar de toda brabeza, tinha um coração do tamanho do mundo, e um apetite ainda maior.

Como toda mulher bem sucedida que trabalha fora, Dra. Pafúncia tinha em casa, uma empregada da sua inteira confiança para cuidar dos afazeres domésticos.

Lucykelly, apesar do nome chic, era uma figura bruta tanto no aspecto físico quanto no trato com as outras pessoas. Redonda que nem as mulheres de Botero, em sua boca faltavam alguns dentes na parte da apresentação. Uma das características mais marcantes daquela criatura era andar pela casa, enquanto cuidava da comida, com um pano de pratos debaixo do sovaco. Tanto servia para tirar alguma poeira dos móveis, quanto para enxugar o suor do bigode, e sabe-se lá mais o quê!

Para lidar com o temperamento da delegada Pafúncia, só mesmo Lucykelly, e vice-versa.

Numa tarde dessas, após chegar de um dia duro na delegacia, Dra. Pafúncia ouviu lá longe aquele apito fino e estridente, típico dos ambulantes que vendem guloseimas nas portas das casas: fiiiiittttttiii.... fiiiiittttiiiiii. Ô menina! grita a delegada para Lucykelly. Chama aí o homi do munguzá, que eu quero comprá logo uma tirrina cheiinha, que hoje eu tô com uma fome da mulésta!

Né o manguzá não dôtora, é o cuscui, responde a serviçal.

Que cuscus que nada, menina, é o homi do munguzá sim, que eu conheço o apito! Corra logo lá e chame ele aqui, pexte! Reverberou a delegada, já perdendo a paciência!

Ôxi, resmungou Lucykelly, saindo amuada e correndo como podia, para a porta da rua, em busca do vendedor.

Manguzááá ….. manguzááá, gritava Lucykelly Até que o ambulante ouviu e fez meia volta, vindo em direção à casa da delegada.

Nisso, a eficiente doméstica entrou em casa, gritando: ói, dôtora, o manguzá já tá vindo. Ajeite logo o dinhêro mode eu num perdê tempo na minha cunzinha!

A delegada, que não era flor que se cheirasse, disse: ah, manguzá eu num quero não!

Lucykelly olhou para a delegada com uma cara de poucos amigos, achando que ela estava ficando doida. Sem ouvir mais nada rodopiou nos calcanhares e voltou correndo pelo comprido corredor da casa, e chegando à porta foi gritando para o vendedor que ainda vinha a alguns metros da casa: ói, podi vortá daí mermo que a patroa num qué mais não!

A Dra. Pafúncia, não se aguentando de rir, gritou de lá de dentro: eu quero é munguzááá!

A empregada, já esbaforida, teve vontade de mandar uma banana em direção à patroa, mas, segurou-se, e com as mãos nos quartos e balançando o pezinho, falou: e non foi o manguzá mermo que eu chamei? E a sinhorá vai tê que pagá, que o homi já ta vindo aí, e eu num vô mais mandá ele imbora não!

A delegada, rindo pra se acabar, foi levar o dinheiro e a tirrina até à porta, para encher de munguzá, que apesar de gostoso estava doce que nem garapa!

E Lucikelly até hoje jura que a patroa está ficando doida!