O burrico do Ditinho

*O burrico do Ditinho

Foi só para ajudar o amigo Expedito que precisava juntar um dinheirinho para inteirar com o da mãe e pagar o aluguel, que Ditinho comprou uma rifa que o professor Vasco organizou. Ditinho não tinha interesse no prêmio, um burrinho. Porém, naquela segunda-feira Vasco juntou a criançada no pátio da escolinha e aos sorrisos anunciou...

“Ditinho é o ganhador, venha cá menino pegar o seu bichinho”.

Ditinho ao escutar o seu nome não acreditou, ele já tinha participado de várias rifas, bingos e quermesses, que sorteavam ou premiavam os ganhadores com, carrinhos, doces e novidades da capital, mas um burrinho essa não...

Ditinho aproximou-se do professor e disse...

“Professor não posso aceitar, onde...”.

Antes que terminasse de falar o professor interrompeu...

“Ditinho não me faça uma desfeita dessa com seu coleginha Expedito, ele ficou muito contente que o premiado foi você...”.

E lá foi o Ditinho levando o quadrúpede para casa, caminhou encafifado. O que falar pra mãe? O que ela vai achar?

Chegando em casa abriu a porta do quintal passou com o burrinho pela estreita passagem que ligava a frente com os fundos da casa, onde sua mãe, Valica mantinha uma hortinha. Deixou o bicho ali e entrou em casa chamando por sua mãe...

“Mãe vem vê o que eu ganhei na escola!”.

“Que foi que você ganhou Ditinho? Traz aqui!”.

“Vem aqui no quintal mãe”.

“Que será que você me aprontou dessa vez Ditinho”.

Quando Valica olhou aquele animal amarronzado de barro, melado de baba, e esfomeado comendo suas alfaces... Ela só não desmaiou porque tinha que dizer uma frase...

“Some com esse bicho daqui...”.

E lá foi o ex-encafifado, agora enrolado, o que faria com o animalzinho? Pegou a ponta do laço e caminhou lentamente em direção ao centro da cidade. Ainda muito jovem não sabia que para muitos problemas existe sempre uma solução, e esta não era uma situação tão difícil assim.

Foi então que Ditinho encontrou o sacristão da igreja, senhor Prudêncio que ao perceber o semblante triste do menino questionou...

“Qual o problema Ditinho?”.

“Seo Prudêncio eu ganhei esse burrinho, mas minha mãe num quer deixar ele ficar em casa, não sei o que faço. O senhor não que fica com ele até que eu convença a mamãe que ele não é tão mal assim”.

Prudêncio coçou a cabeça, pensou alguns segundos e falou...

“O que eu vou fazer com esse bicho Ditinho”.

“Ah seo Prudêncio, pode usa ele, ele leva peso, dá até pra faze um dinheirinho”.

“Ta bom Ditinho, eu fico com o burrinho”.

Resolvido o caso Ditinho voltou para casa. Logo no jantar foi indagado pela mãe e pelos irmão, o que teria feito com o animal...

“Bom eu ofereci uma sociedade com o sacristão, ele aceito e pronto, não quero falar mais nisso”.

Porém acontece que o dois dias depois Prudêncio se mudou da Paróquia, foi transferido para uma igreja mais longe da que morava, e com ele levou o burrinho.

Todos os meses havia encontro de jovens estudantes nos bairros de Pinda, e nesse mês a igreja onde seria realizado o encontro era bem longe, e Ditinho teria que caminhar até lá. Foi então teve uma idéia, buscar o burrico e ir montado nele...

Chegando à igreja onde o sacristão morava, foi logo o chamando pelo nome...

“Seo Prudêncio, vim pega o burro...”.

“Prudêncio, com cara de surpreso disse...”.

“Que burro menino”.

“Como que burro. O que eu deixei pra você cuida”.

“Uhhh, o burro! Que tem o burro?”.

“Eu preciso ir à festa no Quiririm e queria ir no burrinho”.

“Não vai ter jeito não Ditinho... Eu comi o burro!!!”.

“Como seo Prudêncio, como comeu o burro?...”.

Aos risos Prudêncio explicou...

“É Ditinho, ele tava me dando um prejuízo danando, cada dia me aprontava uma, destruía a plantação do vizinho, fugia e comia o estoque do seo Sauro da mercearia, e muitas outras mais...”.

Ditinho aquele dia voltou para casa muito mais triste que o último dia que voltou triste, e no jantar, cabisbaixo ouviu as perguntas feitas pelos irmãos...

“E ai Ditinho, como foi a festa no Quiririm... O burrinho afrouxou ou te levou...”.

“Nem um, nem outro... o diabo do sacristão comeu meu burrinho”.

As gargalhadas vieram, a mãe e os irmãos não agüentaram a fisionomia inexplicável do pequenino Ditinho...

“Comeu o burro, e não te deu nem um pedacinho!?! Hahahahahahahahahahah”.

Só o Ditinho não riu, pela primeira vez tinha perdido a festa do Quiririm. Mas hoje ao lembrar das gargalhadas, quem ri é ele, os irmãos dizem...

“Ta loco Ditinho ta rindo sozinho!”.

Marcos Pestana
Enviado por Marcos Pestana em 06/07/2011
Código do texto: T3078681
Classificação de conteúdo: seguro