Destino cruel
Destino cruel
A história que aqui estou narrando, se passou quando eu tinha 11 anos de idade, em uma cidade no interior do estado de São Paulo. Não citarei o nome dessa cidade, também alterei os nomes dos personagens para que não se sintam agredidos ou invadidos em suas vidas particulares por mim.
A história é real, conheci e convivi um certo tempo com os principais personagens dessa história, que chegou até a ser veiculada na net de forma diferente da real, que é contada pelo meu antigo professor de português - João Duarte de Castro. O meu gosto de ler e depois para escrever contos e poesias com certeza decorreu da influência dele sobre mim.
O meu antigo professor, João Duarte, entrou em minha vida quando ele ainda estava nos finais de seus estudos para se tornar um professor. Trabalhava para pagar os seus estudos em um hospital particular de minha cidade, no laboratório. Mesmo antes de se formar, ele adorava me corrigir em meus erros habituais de português: para mim fazer, menas coisas, meio dia e meio e coisas assim. Ele
gostava de mim, eu o admirava muito. Para ajudá-lo no laboratório, pegava alguns sapos para as suas pesquisas, isso mesmo...sapos!
ele me pagava bem para cada um que eu levasse para ele, mas tinha
que ser macho. Ele me ensinava como reconhecer um sapo macho, bastava apertar os lados do sapo se ele cantasse, era macho!
E depois eu ficava com ele no laboratório, olhando-o dissecá-los, achava o máximo ver aqueles sapos todos abertos, com o coração ainda batendo.
A história que narro agora se passa exatamente no hospital em que João Duarte trabalhava. Antes, contarei um pouco a história dos proprietários do hospital: Dr. Antonio, de origem humilde, cujo pai chegou a vender o único imóvel da família para poder pagar os seus estudos. Se formou em medicina e formado casou-se com dona Rose. Juntos construiram um hospital que prosperou muito. Era o único hospital particular da cidade. Tiveram dois filhos, um casal. Eu
cresci praticamente brincando com o filho deles que era dois anos mais velho do que eu.
Muitos comentavam na cidade que Dr. Antonio e dona Rose,
somente trabalhavam, não passeavam, não viajavam, e juntando dinheiro sempre, se tornaram escravos dele. Era somente dinheiro
o que mais interessava a eles.
Este fato foi presenciado por mim e pelo professor João Duarte...
Certo dia, quase no final do dia, João Duarte estava de saída de
seu trabalho no hospital para ir à escola, quando entrou no
hospital de forma desesperada dois viajantes (eram vendedores
que viajavam de cidade em cidade vendendo mercadorias),
trazendo nos braços, aparentemente, um jovem rapaz que estava acidentado. O seu corpo e ainda mais o rosto, cobertos de sangue.
Gritaram eles, assim que adentraram ao hospital, por socorro.
O rapaz estava aparentando estar muito mal. Dr. Antonio estava
em seu consultório, no hospital.
Dona Rose estava também no hospital, na secretaria, e os atendeu, solicitando primeiro que preenchessem uma ficha, e solicitou
também deles um valor para começar os procedimentos médicos.
Eles alegaram não possuir dinheiro suficiente, e que nem conheciam
o ferido e que o haviam encontrado acidentado em uma estrada de terra, em um atalho da cidade vizinha até a cidade, onde aconteceu esta história..
Destino cruel...
Dona Rose imediatamente lhes disse: Aqui não é uma casa de caridade, aqui é um hospital particular! Imagine se atendermos
a todos gratuitamente? Assim acabaremos falidos!!!
Um dos viajantes desesperado chorou, o outro implorou pelo atendimento, mas dona Rose irredutível solicitou a eles que conseguissem a verba com o prefeito. Ambos se dirigiram até
a casa do prefeito. A prefeitura se encontrava fechada, já era noite. Explicaram ao prefeito o ocorrido e ele próprio se dirigiu ao hospital com o seu próprio dinheiro, querendo somente o recibo para
ser ressarcido depois pela prefeitura.
Com o dinheiro em mãos, dona Rose se dirigiu à maca onde estava
o ferido, em uma maca, no corredor do hospital, e assim começar
com os primeiros procedimentos médicos para o socorro.
Estava um pouco frio....
Um grito, histérico, gelado e seco ecoou por todo o hospital,
era um grito horripilante, de arrepiar os cabelos...naquela noite
que se tornou glacial. Todos se dirigiram ao corredor onde
estava a maca e encontraram a dona Rose gritando desesperada - meu filho! meu filho! meu amado filho!
Neste instante o Dr. Antonio chegou até ela, olhou para aquele
rapaz ainda menino. E a abraçou chorando muito também. O rapaz
não havia conseguido resistir aos ferimentos e falecera. Era João Paulo, o único filho do casal que estava ali, deitado, morto sem atendimento em uma maca fria, num corredor escuro de um hospital cujos donos pareciam não ter coração.
Soube-se depois que João Paulo havia pego o jipe da família para
ir até a fazenda de propriedade deles, inexperiente e talvez imprudentemente, se acidentou capotando o carro. No momento
do acidente passavam os viajantes que o socorreram e o levaram
a um sinistro hospital que era o mais próximo e conhecido por eles, onde o destino quis mostrar a sua triste face para um casal
que pareciam não possuirem alma.
Sentiram, os dois viajantes que erraram, que não deveriam ter
levado aquele rapaz justo para aquele hospital. Triste destino!
Após esse triste episódio, o casal Dr. Antonio e dona Rose montaram no hospital, uma ala para atendimento de pacientes sem condições financeiras e se tornaram pessoas caridosas.
Muita gente aprende somente pela dor,
pouca gente aprende pelo amor.
Destino Cruel!