HORA E VEZ DOS ETs

Com tantas e seguidas “aparições”, nesta pátria de Iracema, ainda poderemos – quem sabe – bater o recorde, senão pela banda larga do bem-bom da vida, mas pelo ridículo. Então por meio das invencionices. Uma chuvarada de conterrâneos deste nosso “Ceará de guerra”, nos últimos tempos, tem achado por bem botar a boca no trombone, após se danar a ver assombrações, visagens, bolas de fogo, lobisomens, coisas do sobrenatural.

Aqui, com estardalhaço, na imprensa, já se falou de gente histérica, comunidades escolares inteirinhas, pelo menos em dois municípios, na zona rural, tudo pessoas acometidas de chiliques. Moças e rapazes a sentir coisas estranhas, todos dando ‘shows’ de visões e audições de entes do outro mundo, sem contar com o bailado de trejeitos e tremeliques dos atores em cena. Também muito se disse das arrumações da “Mulher-Cobra” e da “Mulher de Branco”, etc., etc., e tal e tal.

Agora, pois não, está na ordem do dia mais um caso de aparições. Esta é a hora e a vez dos ETs, aqueles camaradas de feitio miúdo, meio chinês que, sem quê nem para quê, dão-se ao luxo de baixar em algum sítio do Planeta Terra. Os exóticos gajos chegam aqui em naves espaciais. Como sabem, são os ditos discos voadores. Pois, desta feita, a mais recente novidade, em aparições, deu-se bem ali, em Maranguape, cidadezinha do nosso Chico Anysio, que dista apenas vinte e sete quilômetros da Capital.

O premiado com as aparições dos ETs de Maranguape é um respeitado artesão daquela progressista urbe. Reservado, cabra de conversar mais para dentro de si, ele não aguentou os trancos do inusitado que lhe vem ocorrendo e contou os sucessivos acontecidos, em seu atelier, para alguns eleitos confidentes. Por exemplo, o macróbio abriu o verbo, entre outros, para o José Roberto, borracheiro: para o Ildegardo de Lima, eletricista; também para o contador Raimundo Nonato. Estes e outros, enfim, deram com a língua nos dentes e a coisa tomou o rumo da publicidade*.

Para não passar por mentiroso, nem ganhar processo nos couros, tenho evitado, em causos já referidos, antes, dar nomes aos bois. Mas, neste acontecido do casal de ETs, lá de Maranguape, os quais baixaram na residência de Seu Paulo César da Silva, artesão por ofício, quero citar as pessoas, tudo, tudo, tintim por tintim. É que há criaturas enxeridas e abelhudas que desconfiam, botam cafanga nas histórias, suspeitam de que a gente anda a inventar “contos do fantástico”. Então as personagens, aqui, serão desfiadas, a peito limpo, no que a memória não me traia.

O artesão Paulo César da Silva, na velha “Chico City”, sempre desfrutou de comportamento ilibado e retilíneo. Sujeito benquisto, no lugar, sem culpa formada no cartório. Não seria agora, na madureza lá dele, que o homem iria sapecar nas ouças dos seus venerandos conterrâneos petas e histórias deslavadas. Não e não, que Seu Paulo César primou sempre pela seriedade, tanto no que faz como no que conta. Ele até deu de morar bem ao lado do campo-santo da cidade, só para não receber aporrinhações de seu ninguém e poder trabalhar, muito a gosto, em seus artesanatos.

Quando Paulo César recebeu, pela primeira vez, o casal de ETs, ele se encontrava em casa, nas dependências do atelier, bolando alguma peça de arte. Surpreendido, de início, com aquele clarão, logo se lhe apresentaram os dois forasteiros. O colóquio começou, ali, em cima das buchas, quando o ETs masculino – com delicadeza – sugeriu ao artesão que ele não tivesse medo, que nada temesse, pois eles, forasteiros, vinham era em missão de paz. Aí o papo ficou fácil, na boa, conversa na obra de, pelo menos, meia hora ou mais.

Tanto e bom foi o papo com o casal de ETs que o artesão nem lembra direito sobre o que parlamentaram. Falaram sobre uma porção de coisas. Generalidades. Afinal, cidadãos de planetas diferenciados. Do tipo físico do casal, Paulo César sabe apenas que os dois tinham cabeças em forma de pera, olhos muito grandes e azuis. E se são arianos, quem vai saber? Pois não é que os ingratos, na maior civilidade, em uma das pelo menos dez visitas, deixaram uma marca no antebraço do artesão? A pereba ainda está lá, pobre do homenzinho anoso, vivinha da silva.

Não, de jeito nenhum. Não me responsabilizo bem pelos prós e contras da história de Seu Paulo César. Mas que ele viu e tirou algumas prosas com a dupla de miúdos de outra galáxia, ah, não tenho dúvida. Vão ver se estou inventado coisas, mas, lá isto, com toda fé de verdade, ele viu mesmo.

Fort., 02/08/2011.

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(*) O ‘causo’ em questão nasceu de uma reportagem, no programa “Barra Pesada”, da TV Jangadeiro, Fortaleza, edição de 02 de agosto, apresentado pelo comunicador Nonato Albuquerque. O repórter da matéria que me perdoe não lhe haver gravado o nome.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 02/08/2011
Reeditado em 02/08/2011
Código do texto: T3135380
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