O LAÇO DO DIABO
Autor: José Gomes Paes
06/08/2011
Conta-me o Quinca meu irmão, sobre o causo que seu amigo de farda lhe passou, quando servia a caserna lá pelas bandas de Roraima.
Diz o Quinca que eram dois amigos inseparáveis, de carne e unha mesmo, sempre pensavam um no outro todo o tempo.
Certa vêz foram caçar numa ilha, chamada de Ilha dos Mistérios, de onde tiraram muito ouro, mas que muita gente perdeu a vida por lá. Qualificada pelos antigos moradores, que sempre narravam algum causo que aconteceu há tempos atrás.
Os dois amigos eram muitos corajosos, não temiam nem Jurupari se aparecesse a sua frente. A caçada era de Paca a noite de canoa, beirando as redondezas da ilha, tinha que fazer o maior silêncio, quando então ouviram uma voz:
- Você quer conhecer o Laço do Diabo?.
O colega olhou para o outro e falou:
- Você ouviu isso?
- Sim, o outro respondeu.
E a voz voltou a falar:
- Você quer conhecer o Laço do Diabo?
O mais corajoso falou:
- Vamos lá quem sabe não é Baú de Ouro enterrado.
- Que nada, vamos sair dessa, quem sabe não é uma armadilha.
Mas o outro insistiu:
- Vamos lá, podemos ficar rico, você vai ver.
Então saíram da canoa e percorrendo mata adentro na direção de onde vinha a voz, focando com a lanterna encontraram uma enorme árvore, com um laço de ouro a sua volta, com a ponta do cabo enterrado na terra.
Decidiram cavar para encontrar algum baú no fundo da terra, mas só estavam com um terçado, quando então um falou para o outro:
- Vais à cidade e pega ferramenta para cavarmos, mas não conta prá ninguém, ninguém pode saber, vamos ficar ricos. Trás logo 2 garrafas de pingas para comemorarmos, enquanto eu continuo a cavar.
O outro se dirigiu a cidade, pegou as ferramentas, comprou 2 garrafas de pingas, só que em uma ele colocou veneno dentro, com a intenção de ficar com tudo.
O outro também pensou da mesma forma, cortou uns pedaço de pau para cacetear o amigo.
Quando chegou com as ferramentas e as pingas, ficou logo com pinga sem veneno, dando a outra ao colega.
O outro como já estava cansado de cavar só com um terçado, pediu ao amigo:
- Cavas um pouco, já estou cansado.
E o amigo pegou a ferramenta e continuou a escavação, quando o amigo pegou o cacete e o feriu, matando-o, e disse:
- Agora sim, estou rico, rico, posso ter as mulheres mais bonitas, lanchas e barcos, cruzeiros, aviões, enfim tudo o que sempre sonhei ter.
Vou comemorar tomando um gole dessa pinga maravilhosa. E bebeu um, bebeu outro, e mais outros, até morrer, caindo por cima de seu amigo.
Os familiares, parentes e amigos, sentiram as suas faltas e saíram a procurar. Depois de 2 dias os encontraram, os dois corpos no mesmo local, próximo da grande árvore, tendo em volta um laço de cipó, como cabo enfiado na terra.
O que a ganância não faz que até as amizades ela destrói. Cuidado para não fraquejar o Diabo está por todos os lados. Diz um ditado: “O cachorro só é amigo do homem porque não conhece o dinheiro”.
FIM