NOSTALGIA EM PEQUENOS ATOS

Tal qual um dia belo, lembro-me do tempo em que observava aquele nostálgico solstício de inverno, com pequenas crisálidas voando junto ao minuano que fluía com mansidão e o cheiro das damas-da-noite ficava na lembrança daquela noite cintilante, à luz do luar onde serenava brandamente. Podiam-se sentir as gotas de orvalho junto àquela grama recém aparada, possuindo aquele cheiro que lhe é característico. Lembro-me ainda da pureza e limpidez da água que corria calmamente no pequeno riacho margeado por pedras que possuíam aquele limo verde intenso. Podia-se notar o reflexo daquele sol branquinho naquela água, que inclusive possuía um sabor sem igual. Caminhava eu por entre campos verdes e sentia alegria extrema.

Em tais tempos, podia-se sentir a diafaneidade do ar, enquanto bradávamos a plenos pulmões tamanha bem-aventurança que somente podia ser alcançada naqueles dias quando o frescor da juventude ainda percorria nosso tronco humano, que nos tempo de outrora não poderia nem de longe pressupor os quiproquós que o princípio da existência nos reservava, podíamos ter mudado toda uma genealogia, enquanto jovens e vigorosos todavia nos limitamos a ser estes simplórios assalariados sem nenhuma perspectiva de almejar a imortalidade, somente alcançada por nossos corações que transcendem os limites do conhecimento moderno.

Mesmo hoje, parece que ainda ouço as aves que gorjeavam insistentemente e eu podia, com tanta serenidade de momento, observar o amanhã, apenas visualizando aquelas nuvens distantes e densas, sentindo aquela brisa fresca, ouvindo o som de um trinca-ferro pronto para copular com sua interlocutora.

Lembro-se saudosamente daquele tempo onde os dias eram mais felizes e as noites mais intensas. O sabor dos morangos silvestres ainda sinto em meus pensamentos. O encanto das manhãs frias, gélidas quando acordávamos prontos para trabalhar no campo. Me recordo daquele café passado na hora, quente, forte, adocicado, e a fumaça que saía da xícara se fazia intensa dentro daquela choupana possuidora de teto baixo, janelas pequenas e tamanho reduzido.

Naquela época, tínhamos ainda a companhia da Sra. Francisquinha. Essa que um dia foi uma mulher linda, e que ao decorrer dos anos pode-se observar a ingratidão dos mesmos para com sua cutis que ficou com um aspecto de sofrida e velha. Sra. Francisquinha nos acalentava nos momentos de angústia e temor. Nas noites de tempestades, quando pensávamos que o mundo acabaria, ela nos acariciava nas madeixas e fazia-nos adormecer em seus ombros pequenos, porém confortáveis.

Como esquecer-se da Excelentíssima Sra. Dona Francisquinha, senhora esta que mesmo nos dias onde todos os transeuntes a sua volta faziam-na querer acreditar que o universo que a cercava não era esse conglomerado de sensações e sentimentos, que a mesma cantava com sua voz aveludada, assemelhada ao cantar de uma calopsita, em canções que de tão belas podiam ser confundidas com orações entoadas por seres eclesiásticos, mas que na verdade somente tinham o poder de revelar ao globo terrestre, o que a nobre Sra. em epígrafe sentia quando colhia graviolas silvestres no grandioso campo que circundava suas terras no interior de Bom Jesus do Pinhalzinho, na minha saudosa Roraima.

TrovadoresSaudosistas
Enviado por TrovadoresSaudosistas em 10/08/2011
Código do texto: T3151514
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