HISTÓRIAS DE MÉDICOS E DE LOUCOS(PARTE 1)
" O HOMEM E O CAPACÊTE"


Eu era recem formada( sou médica psiquiatra) e na época trabalhava num hospital geral,no setor de emêrgência psiquiatrica.Numa madrugada,fui chamada pela enfermagem para atender uma senhorinha já de idade avançada,que ansiosa ,pedia que eu internasse seu filho num hospital psiquiatrico.
O rapaz em questão,um moreno altíssimo,verdadeiro " armário",apresentou-se com um capacête vermelho,todo amassado,que segundo sua genitora não era tirado há quinze dias,nem para comer ,nem para dormir.Banho nem pensar,para não molhar o adorno.
Enquanto eu preenchia a ficha de anamnese, a senhora ficava por tras do filho gesticulando,e dando-me a entender pelos gestos em torno de seu prório ouvido,que o rapaz era " maluco".
Então me dirigi ao rapaz e perguntei-lhe se aquilo de não tirar o adereço para nada era realmente verdadeiro.Ao que o mesmo respondeu-me , num misto de revolta ,ira e indignação:

_MAS AFINAL,O QUE É QUE VOCÊS TÊM CONTRA O MEU CAPACÊTE?


Na fria madrugada aquela voz entrou com uma lança em meu peito: era uma verdadeiro hino à liberdade de expressão,um libélulo contra qualquer ditadura ,um grito parado no ar!


Pensei:mas afinal o que é que eu teria , à aquela altura do plantão, e já cansada das intermináveis horas de trabalho, contra aquele subversivo capacête vermelho? Nada!Asolutamente nada!

E assim pensando,internei-o na enfermaria .....de capacête e tudo...


Marcia Tigani
agosto/2011




MARCIA TIGANI
Enviado por MARCIA TIGANI em 21/08/2011
Reeditado em 03/09/2011
Código do texto: T3173816