098 – A PESCARIA E A FILOSOFIA...

O tempo vai passando e vai levando nossos amigos, e tantos amigos de tantas pescarias hoje são doces lembranças, comecei a pescar ainda menino acompanhando o meu Pai e seus amigos e meu Pai se chama COLTEVULTEDEUS CARDOZO BOMFIM, e até hoje eu não sei de onde meu avo tirou este nome, nunca eu vi uma só pessoa chamar o meu Pai pelo seu verdadeiro nome, ele é mais conhecido pelo apelido, NENÊ BOMFIM.

Mas vamos ao que interessa, certa vez fomos pescar em um ribeirão denominado Conquistinha, que deságua no Rio Grande, município de Uberaba-Mg, chegamos bem cedinho na desembocadura do referido ribeirão que naquela época usando isca viva pegava um peixe muito voraz e brigador denominado tubarana, e era a especialidade do meu Pai fisgar tal peixe, eu contava mais ou menos uns sete anos, tinha que ficar pescando sentado sempre ao lado do meu Pai, assim não dava preocupações em face de tantas cobras que proliferavam naquela beirada de rio.

Ficava pegando os lambaris que eram usados na pesca da tubarana, mas surpreendentemente um peixe bem maior agarrou na minha isca e a vara de bambu jardim se emborcou todinha, eu gritava para que meu Pai acudisse que me ajudasse, Ele sorria, falava alto:

- Se vira você não é pescador?

– Pai acode, o peixe vai escapar!

Ele continuou sorrindo e em nada me ajudou, depois de muitas idas e vindas o peixe barranqueou, prancheou ofegante, era um belíssimo piau do olho vermelho, peixe pra mais de quilo, até então na minha carreira de pescador nunca tinha pegado um peixe daquele tamanho, meu coração parecia querer sair pela boca, suava, tremia, quando por fim ele se entregou e com toda prudência do mundo agarrei o peixe e o exibia pra todos os pescadores que estavam nas cercanias.

Alegria de pobre dura pouco, foi tanto olho gordo que colocaram no meu peixe que quando fui colocar ele no samburá (saco onde se vai guardando os peixes fisgados), aquela cena me é inesquecível e angustiante, o peixe no último alento deu uma forte guinada, uma contorcida e das minhas mãos se escorregou pra dentro do rio, tentei saltar atrás para agarrá-lo, meu Pai naquela fração de segundo agarrou na gola da minha camisa me impedindo que fizesse tamanha maluquice.

Sendo o único menino naquela pescaria imaginem a gozação que tive que agüentar, mas não me dei por vencido, falei alto pra todos escutarem:

- Eu vou recuperar, vou pegar outro piau:

- Meu filho! Você nunca mais irá recuperar o que perdeu!

– Pai! Como assim? Vou pegar outro peixe!

– Se você pegar outro peixe e não tivesse perdido aquele, teria dois peixes!

– Então vou colocar dois anzóis, pegarei dois peixes de uma só vez! -Mesmo assim, se você pegar dois peixes de uma vez mais aquele que você perdeu seriam três peixes, o que você perdeu não mais recuperará!

Parei de pescar, na sombra de uma imensa figueira passei o resto do dia deitado, filosofando, pensando em uma maneira de recuperar o que havia perdido, por mais que matutasse e esquentasse a minha cabeça não encontrei uma única solução para recuperar a minha perda, meu Pai tinha toda razão, na pescaria o que se perde, perdido está...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 02/09/2011
Reeditado em 14/02/2013
Código do texto: T3197050
Classificação de conteúdo: seguro