A CASA

Aquele homem trabalhou a vida toda para um mesmo patrão, uma mesma empresa, uma firma de construção civil. Começou quando era mocinho.

Durante todo esse tempo foi sempre o melhor servente, o melhor ajudante de obras, o melhor pedreiro, o melhor encarregado. Sua prática e capricho eram tão apreciados que ao final já nem o engenheiro aparecia com muita freqüência na obra, pois ele sabia que o trabalho estava em boas mãos.

o homem sabia como ninguém o valor dos materiais, as medidas das plantas, as tarefas que tinha que distribuir a cada operário, o tempo de entrega, a leitura dos detalhes de todas as plantas, elétrica, hidráulica, etc. etc.

Vigiava, corrigia, mandava aprimorar, caprichar. Era considerado um perfeccionista exigente e todos acatavam suas ordens. As casas que fazia eram para se admirar!

O tempo passou e afinal chegou a tão esperada hora de se aposentar. Falou com o patrão sobre a documentação, as datas etc.

- Tudo bem, meu amigo, o Departamento já vai providenciar tudo o que você precisa, mas eu quero lhe pedir uma última coisa: gostaria que você construísse uma última casa. Você escolhe dentre os terrenos que eu tenho, aquele que você acredita ser um adequado a uma boa moradia e constrói. Concorda?

- O Sr. me dê um tempo que vou pensar, afinal o tempo de trabalho já está esgotado, não é?

- Tudo bem, pense e me diga.

Passou uns dias pensando se devia fazer esse último favor ao patrão. Às vezes pensava que era até um abuso, que ele queria aproveitar, por vezes pensava que não custava trabalhar mais uns meses. Pensou, pensou e resolveu fazer. Avisou o patrão, foi com ele escolher o terreno. O patrão estava se esmerando dessa vez, escolheu um dos melhores terrenos que tinha!

E começou a obra. Enquanto o terreno ia sendo limpo e aplainado, o patrão lhe mostrou várias plantas de casa e deixou que ele escolhesse a mais adequada para aquele terreno. Seria uma boa casa.

Contudo, apesar de ter concordado com essa última obra, a boa vontade do pedreiro já não era a mesma. Podia até ser influência do pensamento da tão desejada aposentadoria! Não se sabe. Já não punha todo o empenho do seu conhecimento naquela construção! Não caprichou, não exigiu, não se esmerou tanto!

Ficou uma obra boa, mas não com aquele toque que somente ele sabia dar. Fez a casa como a planta mandava, contudo já não tinha nela o capricho costumeiro. Na questão da segurança, tudo bem. Tinha bom critério, mas naqueles pontos em que era tão admirado, a perfeição, os detalhes, os acabamentos, nisso tudo não pusera seu coração e nem sua habilidade tão conhecida! A casa ficou pronta: segura, mas sem primor, quase medíocre!

Quando deu por terminada, comunicou ao patrão o fim da obra. Estava inteiramente pronto para alguém se mudar para lá. Até a parte do jardim estava pronta.

No escritório, quando entregou as chaves da casa para ele, recebeu a resposta:

- Meu amigo e fiel funcionário. Toma de volta estas chaves, pois esta casa é um presente que esta firma e eu particularmente lhe damos por tudo o que nos proporcionou até hoje. Você merece esse presente!

Para a querida Adahir,

com carinho

21/10/00

Nota: A Adahir já se foi para o mundo espiritual. Ficou a lembrança de seu afeto, simpatia e coração generoso.

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 03/09/2011
Reeditado em 28/11/2011
Código do texto: T3198612