Traição Desumana

Era uma história de amor, de aventura e de magia. Até chegar uma dura e cruel traição. Tudo começou em meados dos anos 2000, quando João Roberto se apaixonou por Natasha. Foram longas e tortuosas horas de cartas trocadas, cantadas baratas no MSN (filho do ICQ e pai do WhatsApp), bolos em encontros, encontros sem resultado, conversas com as amigas dela, implorando por ajuda, até que um dia ele consequiu conquistar o coração da donzela, por meio da insistencia frenética.

Só que este foi o primeiro passo para o precipício. Aquele espelho subjetivo dos corações apaixonados é facilmente destroçado em migalhas quando começa a terrível palavra “convivência”. Mas plagiando Bob Marley “Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas”, agora já não tinha mais volta: João Roberto havia feito Natasha se apaixonar por ele e livrar-se dela seria uma tarefa dura e árdua, na atual situação. Sem saber o que fazer, restavam as brigas. Briga de manhã, tarde, noite e às vezes durante o café da manhã, almoço e janta também. Mas vira a mexe a situação se invertia e João Roberto queria voltar, era um caos e uma cachorrada que nem o programa da Márcia conseguiria consertar.

Em um dos muitos términos, em que o próprio rapaz não acreditava ser o derradeiro, João Roberto recebe a notícia de uma amiga: “Você viu, a Natasha tá namorando!” Aquilo doeu. Mesmo com todas as brigas, ele nunca pensou que um dia, do nada, ela iria seguir adiante e esquecer o relacionamento deles, ficando com outra pessoa. “Só pode ser mentira, defendeu-se. Ela está espalhando isso só pra me passar ciúmes.” Foi a defesa de João Roberto.

“Não! Já até mudou o status dela no Facebook”. Agora a coisa ficou séria! O status de uma pessoa no Facebook vale mais que aliança no dedo e nome registrado no livro do padre. “Deve ser só pra me passar ciumes, até eu posso ir lá e colocar namorando nas redes sociais só para causar polêmica” retrucou o cara com dor de cotovelo.

“Tem foto do cara lá”, continuava a amiga.

“Deve ser um amiguinho de amizade colorida. Ela provavelmente chamou ele para mecausar ciumes”. Continuava firme e forte João no estágio de negação.

“Mas eles estão beijando na foto!”

Agora o mundo caiu. O jovem ligou o computador e foi correndo pra internet vasculhar o perfil de Natasha. Clicando em seu perfil, a primeira coisa que viu foi a foto dela beijando um homem branco usando uma camisa social bem refinada com gola azul. Não mostrava os olhos do rapaz, apenas as duas bocas, na mais perfeita união. Os chifres (ele já mentia para si mesmo que eles estavam terminados então sem chances dele ser corno) já brotavam na cabeça e ele não soube o que fazer naquele instante.

Pensou em ligar para xingá-la, mas ela não devia satisfação para ele. Fora João Roberto mesmo quem terminara o namoro. Agora não sabia o que fazer e o ciúme corroia seu corpo. Olhou mais uma vez a foto, na tentativa de descobrir quem era o outro ser, aquele humano que era melhor do que ele para ser escolhido como novo dono do coração de Natasha, mas não identificou. Perguntou a amiga mas ela também não sabia. Em todas as fotos, o cara estava apático. Até que os olhos enciumados notaram em uma foto em que os dois estavam abraçados, que os dedos do cara eram todos colados. Ele tinha um amigo que tinha dois dedos colados, mas os quatro? Aí já era demais. Lembrou-se que a mãe de Natasha tinha uma loja de roupas... foi tiro e queda! Arriscou o palpite de que aquilo não era um ser humano porcaria nenhuma e sim um MANEQUIM!

Sem saber se estava com raiva pela desconfiança ter provado que ele ainda a amava, ou se queria zoá-la pela ideia absurdamente idiota, ele ligou para Natasha e já foi logo atacando:

- Que história é essa de você me trair com um manequim?

Ela disparou a rir e João Roberto não sabia se ria da burrice da menina ou se ficava com raiva da hora que ela fez com a cara dele. Depois disso, durante a briga inédita que se iniciou, ela continuou alegando que o Manequim era o parceiro ideal, pois estava sempre duro, jovem, não dava palpites em nada, ouvia ela o dia inteiro, estava sempre bem vestido, não peidava, não arrotava, não mijava sem abaixar a tampa do vaso, não fazia ela buscar cerveja na geladeira... e concluía sendo o parceiro perfeito, algo que João Roberto nunca conseguiria ser.

Com tantos argumentos, João Roberto até se sentiu feliz por sido trocado por um homem dezenas vezes mais perfeito que ele e que não a faria triste, mas ser traído por um manequim era algo que ele nunca sonhara em sua humilde vida. Se ele comprou um manequim modelo feminino para ele depois disso, ninguém sabe. Só o que é sabido é que essa história de amor teve seu ponto final, após essa traição.

Este e outros causos fazem parte de uma coletânea intitulada “Curriculum Merdae”. Os personagens e estórias são fictícias e qualquer semelhança com pessoas ou eventos reais é mera coincidência.

Lalinho
Enviado por Lalinho em 17/09/2011
Reeditado em 13/01/2016
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