Sete anos de azar
Aquela era irrevogavelmente a pior fase na vida de Aldo. Tudo começou numa sexta-feira treze. Levantou cedo, foi fazer a barba e derrubou o espelho no chão que se quebrou em mil pedaços e desde então estava fadado sete anos de azar. Na primeira semana as coisas já começaram a sem complicar. Primeiro ao chegar mais cedo do trabalho achou a mulher em casa, na cama que havia comprado há uns dois meses atrás, com outro homem. Teve vontade de matar, não teve coragem. Divorcio certo e irreparável. Quinze dias depois por um motivo ainda desconhecido a empresa em que trabalhava há dez anos simplesmente faliu, demissão em massa, sem direito a nada de imediato. Em virtude de sua conformidade com os acontecimentos Aldo já esperava que outras coisas ruins pudessem acontecer, por isso não tomou por surpresa quando veio a ordem de despejo. Acabará de perder a casa na partilha de bens do casamento. Aquela era irrevogavelmente a pior fase de sua vida. Naquele 21 de junho de 1995 a única coisa que ainda lhe esperava como uma boa noticia e a prova de que tudo aquilo não passava de uma simples coincidência, era o seu timão vencer o Grêmio na final da Copa do Brasil. Como estava jogando aquele Corinthians com Marcelinho Carioca no meio e Viola no ataque, não que o Grêmio estivesse ruim. Quando enfim chegou a hora do jogo, tomou um banho e se foi pro bar. Chegou, sentou-se numa mesa no fundo e ficou olhando a partida. Notou um homem um pouco no fundo que não parava de olha-lo. Ficou sem reação, o que seria agora? Só faltava esta, mais um problema para a sua vida. Notou quando o homem levantou e se dirigiu lentamente até a mesa onde estava, fez de conta que não percebia a aproximação daquele estranho. Quando o outro estava a dois metros de sua mesa, o Marcelinho Carioca pegou uma daquela deles, bola na rede, Corinthians 1 a 0. Estava ainda comemorando quando o sujeito chegou até ele. - Aldo? - Opa, eu te conheço? - Eu sou o Mauro, estudamos juntos. De fato ele se lembrava do Mauro, mas aquele era muito diferente do Mauro. O Mauro era um sujeitinho envergonhado que usava uns óculos fundo de garrafa, meio gordinho e cheio de sardas no rosto. Aquele homem na sua frente estava em forma, com uma camisa de marca que não pode deixar de notar, sem óculos, e ainda por cima sem sardas no rosto, como poderia aquele ser o Mauro? - Sou eu homem, o ceguinho, o quatro olho, o nariz de batata. Não tinha jeito Aldo reconheceu, apesar das diferenças tinha certeza aquele era o Mauro, quem mais chamaria a si próprio de nariz de batata. Depois das devidas apresentações, Mauro olhou para mesa, chamou um garçom e pediu um chope para o amigo. - To meio desprevenido Mauro. - Hoje eu pago. Até o fim do jogo que acabou com a vitória de 1 a 0 pro Corinthians, foram muito chopes, petiscos, e a festa rolando solta. No final da partida Mauro chamou o garçom e mandou descer uma rodada para todo mundo. Aldo olhou para o seu lado. Uma linda morena estava sentada em sua mesa, passava a mão em sua perna, no outro lado da mesa, Mauro se engalfinhava com uma loira deslumbrante. Aldo tinha certeza, sua maré de azar tinha passado, o Corinthians e o Mauro lhes trouxeram a sorte novamente. Tudo ia muito bem, no dia seguinte pensava Aldo, iria procurar um lugar para ficar, iria também atrás de um novo trabalho, e quem sabe, até o Mauro podia lhe ajudar, afinal aquele cara estava bem, não havia duvida ele estava com o dinheiro e com o poder. Pensou na cara de Marcia quando soubesse que ele estava reabilitado, que ele estava andando com pessoas da alta sociedade paulistana, e que tinha condições para mandar comprar aquela casa de novo somente para destruí-la. Tinha certeza que Mauro veio para mudar a sua vida. Que tudo de ruim que estava acontecendo com ele iria evaporar e que os bons ventos voltariam a soprar. Mauro levantou e falou alto. - Vou tirar uma água do joelho. Aldo ficou bebendo e já se engalfinhando com a morena do seu lado, suas mãos navegavam pelas pernas lisas daquela morena, e ele tinha certeza que nunca mais casaria na vida, pois nunca tinha sentido tanto poder de liberdade como este, nunca tinha sentido tanta vontade de voar como agora, era um homem livre, foi então que sentiu uma mão em seu ombro. Era o garçom: - A conta senhor. - Não é comigo, é com o meu amigo que esta no banheiro. - Seu amigo já foi embora senhor, e pediu para acertássemos com o senhor. - Como assim já foi embora. - Senhor aqui esta a conta. - Mas eu não tenho dinheiro. - Vou ter que chamar a policia senhor. - Me desculpe, mas eu estou desprevenido, meu amigo ficou de pagar a conta. Quando acabou de falar isso viu a morena e a loira saírem sem dizer nada, apenas se retirando, naquele momento uma noite de puro sexo selvagem era o que menos importava, estava enrascado com a conta. - Eu posso pagar amanhã? - Ou tu paga hoje, ou terei que chamar a policia. - Pois então chame, que eu não tenho dinheiro. Aldo sentou-se e sentiu um desespero tomar conta de sua vida, afinal ainda faltavam seis anos e dez meses para aquela maré de azar passar e ele não podia fazer nada, afinal aquela irrevogavelmente a pior fase de sua vida.
Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 19/09/2011
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