Jeremias, encosta-se em um muro pintado com uma cor que não sabera identificar,  era salmão ou rosa clarinho? Notara que os donos não aparentavam ter muito cuidado com a parte externa da casa, pois o muro e a casa já estavam descascando e sendo invadido por alguns ramos de trepadeiras. Neste instante sente um peso enorme em sua cabeça, seus olhos avistam pequenas fagulhas iguais aquelas de fogueiras de festas juninas, ao fechar os olhos vem o cansaço, o desânimo, a fome e a sede, andava perambulando pelas ruas já fazia algumas horas e um sol causticante daqueles bem típicos de Manaus. Ficou parado ali por alguns instantes, observando o vai e vem de pessoas e carros enquanto recompunha-se da fadiga. Começaria novamente a sua jornada, segurando firmemente com uma das mãos os seus curriculums que já estavam meio amassados e com a tinta um pouco borrada devido as gotas de suor que brotavam de suas mãos, mas isso não seria empecilho para uma desistência... Endireitou a coluna ergueu a cabeça e andou alguns quilômetros até chegar na Av. Recife, no bairro Flores. Atravessou uma passarela gozando de uma sombra que a cobertura da mesma projetava até o chão, o corrimão e o parapeito pareciam que tinham acabado de receber tinta fresca e ao atravessá-la pensou: passarela nova ou reformada? Brotou um leve sorriso ao pensar: O governo esta deixando de roubar e começando a fazer algo pela cidade... Ainda desnorteado, ele avista um edifício aparentemente não muito grande com um tom azulado e uns detalhes em branco, uma empresa de pequeno/médio porte. Ao adentrar desfrutou de um ar condicionado, um alívio e praticamente um choque térmico. Ainda próximo a porta de entrada ficou um tempo estático enquanto sua pupila estava se dilatando e se adaptando ao novo ambiente e analisando-o efemeramente, curiosidade?  Talvez! Ele estava mesmo era a procura de um bebedouro, aproximou-se do mesmo e serviu-se de um copo com água, chegou enfrente a secretária e ofereceu seus serviços, explanando que necessitava muito trabalhar e que tinha prática como pedreiro e eletricista... A moça com uma mão espalmada sobre a outra espreita Jeremias enquanto ele explana sobre seus serviços anteriores e ao falar ele não deixa de notar a beleza que a moça possui, ela tinha os cabelos negros e compridos, olhos amendoados e a boca pequena com um tom avermelhado quando de repente uma das mechas se desprende e cai sobre o seu pequeno rosto que perecia uma pintura feita a mão, ela arruma a mecha atrás de sua orelha pequena e delicada ao mesmo tempo em que recebe gentilmente seu curriculum e diz que se necessitasse dos seus serviços que iria entrar em contato para uma entrevista, desejou-lhe boa sorte e o mesmo retirou-se. Jeremias sentiu muita confiança naquele momento mais seu martírio ainda não havia acabado, atravessou novamente a passarela dirigindo-se até a parada de ônibus onde do céu caiam algumas gotículas atingindo seu braço e sua blusa que tinha uns detalhes desbotados de uma fênix na frente, Então olha pra o céu e avista algumas nuvens carregadas, pássaros afoitos buscando refúgio da chuva que estava prestes a cair. Ele ficou ali por um instante baixou a cabeça e refletiu sobre os poucos trocados que possuía em seu bolso, deu alguns passos sempre pensativo e resolveu seguir a pé, logo após os chuviscos viram uma grande tempestade (Chuva de verão). Eu almoço ou apanho um ônibus? Mas seu estômago deu-lhe uma resposta de imediato e assim prosseguiu Jeremias. Morava no Parque Sucupiras que fica situado do bairro Armando Mendes.
Jeremias começou a ficar desesperanço  o telefone não tocava já fazia dias. Como faria para se alimentar, suas refeições começaram a ficar escassas, suas reservas já estavam esgotando-se. Meu Deus o que será de mim? Não consigo arrumar emprego, não tenho mais o que comer, não... Trim Trim Trim Seus murmúrios foram interrompidos pelo toque do telefone celular (um nokia 5120i), cobertos de fita adesiva que Jeremias o apelidava de: ‘’Tijolinho da minha construção’’. Era a moça dos cabelos negros, dos olhos amendoados e da boca pequena, sua voz era mais delicada que um vento assoviando e balançando as palmeiras dos lindos campos verdejantes.  A mesma o comunicava para uma entrevista de emprego que fora agendada para o dia seguinte as 14:00hs, antes e desligar o telefone mais uma vez ela desejou-lhe boa sorte!  No dia seguinte lá se vai nosso amigo que parecia flutuar nas nuvens de tanta alegria, ao chegar à empresa a mesma moça que o encantara diz que o mesmo não precisaria ficar nervoso durante a entrevista era apenas uma formalidade da empresa e que eles estariam recrutando muitas pessoas e enviando-as a um município próximo: Manacapuru. Jeremias saiu-se muito bem em sua entrevista e foi contratado de imediato, no dia seguinte já começaria a fazer os exames de admissão e na semana seguinte já estaria em Manacapuru. Quanta alegria e orgulho no peito! Com uma mochila nas costas, um boné preto, trajando o uniforme da empresa (uniforme alaranjado, normas da C.C), com a sua botina, brilhando mais que umbigo de pão doce, fazendo a travessia do Centro de Manaus até o Cacau Pireira onde um ônibus já o aguardava para leva-lo até a cidade... O ônibus estava cheio de colaboradores felizes e ansiosos assim como nosso amigo.
Jeremias adaptou-se muito bem a cidade e em seu serviço, tinha uma vida normal em Manacapuru, saia com os amigos da empresa, frequentava o forró do Fuxico (não sei se ainda existe, mais era um forró bem famoso na cidadezinha). Mas em um dia como outro qualquer ao chegar à portaria viu seu nome listado, foi solicitado junto com os demais que se encaminhassem a uma sala onde o pessoal da Segurança do Trabalho fazia palestras e exercícios laborais, logo foram comunicados que todos que estivessem naquela lista seriam dispensados. Jeremias estava descrente do que estava acontecendo, era um profissional que nunca faltou, nunca chegou atrasado ou bêbado no serviço tentou indagar mais de nada adiantou.  Entregou o crachá, o uniforme, a botina, a chave da republica e suas esperanças, após entregar seus EPI’s(Equipamentos de proteção Individual) pegou a sua mochila e foi dormir na Rodoviária e lá acampou por dias e dias esperançoso em conseguir um outro serviço. Notava-se que ele tinha muita força de vontade para trabalhar, porém a concorrência era muito grande. Os dias passam-se e o desespero de Jeremias é enorme junto com a sua desesperança. De onde conseguiria dinheiro para se alimentar, e suas necessidades básicas? Em uma madrugada depois de longos dias de fome e frio Jeremias decidiu que já estava na hora de ir embora daquela local, cidade onde tivera tantos dias de contentamento como tantos de infelicidade. Pobre homem como conseguiria pagar uma passagem de ônibus com alguns centavos no bolso, sentira a mesma sensação de tempos atrás antes de arrumar o emprego que nem seu era mais, encaminhou-se até a bilheteria e sugeriu que dessem-no  um serviço em troca de uma passagem até Manaus, porem a resposta foi ligeira e ríspida e o pobre homem saiu dali, andou poucos metros e sentou-se  num banco de concreto gélido como as palavras daquele vendedor de bilhetes. Olha para o céu e faz uma viagem por seus pensamentos atordoados, lembrando-se  do seu tempo de menino, correndo naquele campinho e gritando feito um louco ao fazer um gol nas traves feitas de bamboo. Sua mãe, recolhendo as roupas no varal e dirigindo aquele olhar sereno e gritando seu nome para entrar e tomar um banho. O homem sentado com as mãos apoiadas sobre a sua mochila revelando os calejo, tendo o corpo maltratado, a barba por fazer... Mais quem o olhasse vagarosamente poderia notar a criança que havia dentro de si.  Quantas lágrimas aquele homem derramou? E cada momento de desânimo só buscava encontrar o carinho de sua mãe que já se fora a muitos anos atrás, buscava encontra-la na escuridão da noite, tateava o nada imaginando ali  a sua presença... Sua imaginação era algo tão real que chegava a sentir as mãos macias de sua mãe seu rosto. Na noite fria e sem proteção nenhuma e o banco continuava gelado, Jeremias enxugava seu rosto depois das lágrimas das doces lembranças de infância e de sua mãe. Levantou-se decido, pegou a sua mochila - Tipo carga- com um furo na lateral e saiu caminhando pela avenida principal que dava acesso a Rodovia Manoel Urbano, tentaria chegar á Manaus a pé (85KM). No escuro da madrugada seguia nosso andarilho e em cada passo uma lágrima; lágrimas essas de desespero, todos os sentimentos fluindo ao mesmo tempo. Onde havia esperança agora não havia mais nada, tudo foi dissipado pela indiferença humana e a falta de oportunidade. Jeremias saiu do Terminal Rodoviário as 04:00 horas da manhã, as 06 horas da manhã ele já havia caminhado 9km, no breu da madrugada sentia-se um fracassado, um excluído pela sociedade. Onde estariam seus sonhos? Ficaram todos para trás, sua única companheira naquela rodovia cinzenta era  a tristeza! Fazia gestos com a mão pedindo carona, mas ninguém parava para aquele homem de aparência não muito boa... Depois de horas caminhando ao sol a pino Jeremias ao avistar um Micro ônibus vindo de Manacapuru ele sem hesitar esperou que o mesmo chegasse mais perto e jogou-se na frente do mesmo!! E ali morreu com ele as memórias de menino, as lembranças de sua mãe e sua esperança...

*História verídica, Jeremias é um nome fictício para preservar o nome do colaborador da empresa onde ambos prestaram serviço!
 
Muitas vezes julgamos as pessoas pela aparência as rotulamos não procuramos conhece-las verdadeiramente, somos apressados e precipitados. Quantos Jeremias existem por ai, precisando do nosso auxílio nem que seja por uma simples passagem de ônibus ou muitas vezes por bem menos, Um sorriso por exemplo. Até eu mesma me senti culpada pela morte desse rapaz, quantas vezes desembarquei ali e não o notei, não ofereci ajuda, quantas olhares gritando por socorro ele me lançou eu apressada demais não o vi... Descanse em paz!
 
Yana B
Enviado por Yana B em 06/10/2011
Código do texto: T3261948
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