O menino Procrep

Senhor humilde, maltrapilho, fala mansa, olhar firme, chegou ao posto de saúde com seu dez filhos para consultá-los, nove meninas e um menino. As meninas contavam entre três e oito anos, o menino, zero ano.

Sendo eu a responsável pela triagem de pacientes no setor de Pediatria, coube-me então cadastrar a criançada. Confesso que não foi fácil, as meninas com seus cabelos encarapinhados e sujos onde podia se perceber nitidamente a grande quantidade de pedículos a disputar espaço naquelas cabeças, e algumas delas, escorria de seus narizes aquele filete de catarro amarelo que desaguava em suas bocas.

Iniciei meu trabalho. Nomes das crianças?

- Minha fia, disse-me o pai, todas elas se chamam Maria, nome de santa.

Os sobrenomes eram diversos de rosas, dores, rosário e etc...

Indaguei o motivo de todas terem o mesmo nome, - lá em casa fia, toda vez que a muié estava parindo, eu chamava meu vizinho e cumpadi pra oiar na foinha o santo do dia, e ai o menino ou a menina ganhava o nome do santo.

Curioso foi o nome do menino! Procrep, chamava-se o menor. Procrep? Que esquisito! Pensei!Perguntei onde encontrou esse nome tão diferente, - ora, na foinha do dia.

Encaminhei as fichas para o consultório, a Drª então lhe fez os mesmos questionamentos que eu, e obteve as mesmas respostas! Chegando a vez do Procrep, ela foi mais além, observou bem a data de nascimento, 15-11-86, e falou para o pai do garoto, esse dia senhor, não é dia de Santo nenhum, é a data de um acontecimento histórico ocorrido no Brasil, portanto o nome do seu filho não é legítimo, significa a abreviatura da Proclamação da República!

Como se pode ver há escrivão e escrivãos, e esse superou a ignorância do pai de Procrep!

PS: Isto foi real , aconteceu na cidade de Recife!

Diná Fernandes