A assombração da estrada

Bem na curva da estrada, havia uma assombração junto à touceira de bambus gigantes. Toda vez que alguém por ali passava ela se manifestava rangendo seus dentes em sons estridentes, uma coisa de arrepiar os cabelos. Já havia se tornado uma história bem famosa, principalmente para as pessoas que por ali passaram. Na verdade, poucas vítimas voltavam por ali e evitavam um novo encontro com a assustadora criatura. Eu mesmo já fui vitima. Certo dia bem à tardinha, quase noite, passava por ali com os balaios de milho colhidos junto com meu avô. Ele mesmo desconfiava dessa história de fantasma, mas também não ligava muito. Mas neste dia, quase noite, o cavalo que eu puxava parou. Empacou no lugar e não saia. O animal começou a relinchar e não parava mais. Quase perdi as rédeas do bicho e o milho quase se foi todo ao chão. Fiquei apavorado, não sabia se corria ou se segurava as rédeas do cavalo. O grunhido vinha da mata como o ranger de portas, medonho. Graças a Deus o totó resolveu andar e segui puxando o milho bem rápido, pra dizer a verdade correndo. Chegando ao sítio contei tudo pro meu avô e ele riu. - “Seus bobo, o ceis vê coisa que num ixisti”. Mas eu suava frio e tremia tanto que mal podia falar, então, só de raiva, o velho pegou a bolsa e a espingarda, subiu no cavalo me olhou e disse: - Hoje eu pego essa tar de sombração. Não pude acreditar em tamanha coragem. Não é que o velho foi mesmo naquela escuridão, se embrenhou na mata e sumiu por horas. Jantei e me deitei esperando o vô e nada dele chegar. Dormi. Um barulho de arrastro e acordei, já era de manhazinha. Meu avô voltava gritando bem alto pra todo mundo escutar. – Matei, matei a assombração vem vê. Pulei da cama e fui correndo pro quintal encontrar com o vô e dei de cara com ele puxando dois enormes bambus. – Ué vô, cadê a assombração que o senhor matou? - Tão aqui! Mostrando os bambus enormes. Como assim vô? perguntei confuso. – Cheguei lá na curva da estrada meu fio e fiquei esperano a tar de ssombração e nadica dela. Num falei seus bobo. O vento começo a soprá, soprá e os bambu começo a se esfrega um no otro e rangia assim...nhééé, nhéééé. Num pensei duas veis, entrei no bambuzar e matei a danada com o facão, cortei os bambu.

Bem, o tempo passou, eu cresci, meu avô já morreu e muita gente foi embora pra cidade. Dizem que a fazenda ficou vazia, sem graça e sem assunto pra uma boa prosa noturna. Também pudera, nem uma boa assombração existe mais por aquelas paradas.

Geraldo Faria
Enviado por Geraldo Faria em 24/02/2012
Reeditado em 28/02/2012
Código do texto: T3517619
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.