As Três Missas de Natal

Tonico era um menino que não tinha medo de nada.

Não tinha medo da noite, nem de fantasmas, muito menos do diabo.

Coroinha desde os nove, Tonico era membro do grupo de Jovens na Matriz de Nossa Senhora dos Amores, em sua pequena cidade natal, a pacata Areias.

Tonico era muito devotado aos trabalhos da Igreja. Vangloriava-se por saber todas as rezas de praxe. A Ave Maria, O Pai Nosso, Glória ao Pai, Salve Rainha, Creio em Deus Pai, entre outras.

Mesmo sendo um garoto muito religioso, Tonico ainda era criança. Brincava de vaqueiro e adorava nadar acompanhado do seu fiel amigo e companheiro de sacristia Teobaldo, no ribeirão da fazenda Esperança da Bocaina, Morro Frio, propriedade de um primo de seu pai, Sebastião Rodolfo.

Mas Tonico tinha um sério defeito. Quando ficava nervoso ele falava aqueles palavrões bem cabeludos. O Padre já havia repreendido e aconselhado Tonico. - Meu filho, falar palavrões alegra ao diabo. Mas Tonico nem ligava, afinal, não tinha medo de nada mesmo, nem do dito cujo.

Certa vez, Tonico e Teobaldo voltavam de uma boa tarde de domingo no ribeirão. Teobaldo resolveu pregar uma peça em Tonico. Apressou-se e correu na frente e desapareceu. Foi direto pra casa deixando o amigo sozinho. Tonico ficou muito irritado e começou a soltar aqueles palavrões bem cabeludos. Tonico estava passando por uma porteira xingando muito até que um corvo negro, muito feio mesmo, pousou em cima de um dos mourões da porteira e lhe disse:

- Olá Tonico! Quer ser meu amigo. Tonico que não tinha medo logo respondeu: - Não sabia que os corvos falavam. Como é que você fala. O corvo lhe disse: - Na verdade eu sou o diabo Tonico. Você me chamou e eu estou aqui. Não sabe que eu adoro ouvir palavrões?

Mas desta vez, Tonico percebeu que a coisa era bem séria e ficou com muito medo. Começo a rezar tudo o que sabia e sem parar, pra ver se espantava a coisa ruim.

- Pai nosso que estais no Céu... E o diabo dizia: essa eu também sei!

- Ave Maria cheia de Graça.... E o diabo: essa eu também já sei!

- Salve Rainha... - Essa então eu sei decor, dizia o dito cujo.

Tonico rezou tudo o que sabia e nada dava certo. O diabo queria mesmo ser seu amigo.

Até que Tonico se lembrou de um conselho dado por sua avó, Dona Mocinha. – Meu filho, se você quiser proteção de todo o mal, assista as três missas de Natal. Tonico não tinha medo de nada, mas pelo sim e pelo não, sempre acompanhava sua avó nas três missas todo ano.

Então Tonico não perdeu tempo, olhou firme para o corvo negro e disse: E nome das três missas de Natal eu te mando embora satanás.

– Essa eu não sei Tonico, disse o corvo, que deu um grito de raiva e voou bem ligeiro, para nunca mais.

Nota: "As três Missas do Natal distinguem-se pelos Evangelhos e pelo horário que lhes é peculiar. Com efeito, a primeira Missa deve ser celebrada à meia-noite de 24 para 25 de dezembro;a segunda, ao romper a aurora; e a terceira, já dia feito".

Geraldo Faria
Enviado por Geraldo Faria em 03/03/2012
Reeditado em 26/07/2013
Código do texto: T3533094
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