Quer leite, bichano?

Esse causo se passou em um navio que transportava os Soldados da Borracha de Manaus para Porto Velho à época da Segunda Grande Guerra Mundial.

Esses soldados, na verdade, eram retirantes nordestinos cooptados pelo Governo Federal para trabalharem nos seringais da Amazônia em condições totalmente insalubres.

Sucedeu assim...

Uma jovem mãe paraibana, amorosa e preocupada com a alimentação do filho, bebê de colo, instigava a criança para beber o leite materno. Para tal, a jovem mãe exibiu o seio para fora da blusa e, segurando o mamilo, tentava direcioná-lo para a boca do pequerrucho enquanto falava carinhosamente:

-Toma o bico Toim... Tu trata de tumá logo esse leite senão eu vô dá pro gato e tu vai drumir cum fome, visse?

O bebê, agitado, refugava o seio materno e gritava a plenos pulmões. Os berros alucinados do pequeno infante começaram a incomodar os passageiros no convés.

Entre os passageiros, Afrânio Chulapa, um gaiato metido a conquistador, foi o único que prestou atenção no monólogo da sertaneja com o filho. Afastou-se do grupo onde jogava conversa fora e se aproximou do local em que a mãe tentava, debalde, alimentar o filho.

Afrânio Chulapa, cuja alcunha devia-se à sua condição de bem dotado, esgueirou-se por trás de algumas caixas e ficou na espreita da mãe que tentava dar de mamar ao filhinho.

-Oxente, Toim! Pegue o bico do peito e mame... Mame logo senão mãinha vai dá pru gato. Visse? O gato é guloso e vai mamar os peito de mãinha todim, visse?

O gaiato do Afrânio Chulapa ouvindo a bronca que a mãe dava ao filho sentiu até comichão nos bagos. Postou-se de quatro pés e arrastou-se pelo convés imitando um gato.

“Miau... Miau... Miaaauuuuuuu...”

Chico Abatiá, marido da sertaneja, ouvindo aquele estranho miado e achando esquisita a existência de um gato no navio, levantou-se da rede onde estava deitado, puxou uma faca peixeira de oito polegadas e caminhou pé-ante-pé em direção ao miado, estalando o dedo e chamando o gato faminto.

-Xanim... Xanim... Ô bichanim... Venha cá, venha... Venha mamá o leitim, venha... Gotôooojo!

A faca afiadíssima, rebrilhou diante dos olhos de um Afrânio Chulapa todo mijado de terror.