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Bolo cremoso e cachaça


Tenho uma casinha lá nos fundos de Caçapava Velha e nas proximidades não existe nenhum rio, mas todo final de tarde das sextas feiras, encontra-se ali um bando de mentirosos e contadores de causos.

Circulam pelo pedaço dois cachorrinhos beagle, o Lilico e o Leleco, e daqueles bem sem-vergonha e entrões, pertencentes a Roberto, que é peão dos bons e vencedor de muitos prêmios em rodeios, corridas de tambor e montaria.

Na semana passada cheguei lá por volta das 10 horas e tirei do carro umas caixas de cervejas, uma garrafa de cachaça e duas garrafinhas de água (é isto mesmo, apenas duas garrafinhas, pois ali ninguém bebe água, só em caso de emergência, e extrema), e também um bolo de milho cremoso, alguns pães e duas latas de atum e coloquei sobre a mesa.

Quando estava plantando umas flores sob uma gostosa mangueira ali existente, vi que um dos beagle estava comendo alguma coisa e ao me aproximar vi que ele havia pego o bolo de milho cremoso e o devorava.

Nesta altura nada mais havia o que fazer a não ser olhar com tristeza e imaginar a impossibilidade de tomar o café da tarde com o gostoso bolo.

Naquela sexta feira estava trabalhando na propriedade vizinha o Pedro, ali conhecido como Pedrão, é não é por menos, pois o ‘tar’ tem quase dois metros de altura.

Uma observação: o Pedrão chama-me de Virgulino, Vicentino, Deolino, Antonino, Marcolino, Pascoalino e tudo mais que termina com “ino”, menos pelo meu nome efetivo, Brasilino. Em cada 100 vezes que ele vai dizer meu nome acerta uma.

Na hora do almoço, que na verdade é a hora do lanche (pois no pedaço não tem fogão, geladeira, televisão, aparelho de som, computador e nenhuma destas coisas de modernidade, abri a latinha de atum e comi um pão e tomei um gole de guaraná e também deixei a lata aberta sobre a mesa.

Lá pelas três horas novamente ouvi um barulho e olhei e vi que o Leleco havia pego a lata de atum e a devorado, e mais uma vez só me restou lamentar a falta que ela faria na continuidade do lanche.

Nesta altura vem lá o Pedrão, que é muito espirituoso e brincalhão, chama o Roberto, o dono dos cachorrinhos, que havia acabado de chegar e não sabia das estripulias dos animais, e alegremente pergunta a ele: “Roberto, ocê gosta de bolo de milho cremoso : ele responde, poxa se gosto, com um café então fica melhor ainda.”

Continua Pedrão: “Roberto e de atum ocê gosta ?” no que tem a resposta afirmativa. Ao que repergunta: e a quanto tempo você não come bolo de milho cremo e nem atum ? Sei lá Pedrão, há muito tempo, no que Pedrão com seu ar sarcástico então fala: “Pô Roberto ocê então tá pior que seus cachorros, pois eles hoje comeram atum e de sobremesa bolo de milho cremoso, e caiu numa gostosa gargalhada.”

Roberto meio desenxabido em minha frente disse: Pô Brasilino, desculpe disso e completou perguntando se podia pegar uma cerveja para ajudar a descer garganta abaixo a noticia que o Pedrão havia dado.

Respondi afirmativamente e logo e voltou com duas cervejas, uma pra ele e outra para o Pedrão e uma garrafa de “Amélia”, aquela boa cachaça de Conceição dos Ouros.

Neste instante aparecem o Lilico e o Leleco e o Pedrão, olhando para os cachorros, tasca mais uma de suas gozações: Aqui “seus fia da mãe” comê bolo de milho cremoso, atum e até a cerveja pode, mas se oceis se aproximá e pegá a cachaça nóis vamo arrancá toda essa grama do Marcolino (referindo-se a mim Brasilino) de tanto lutá nela, mas a minha cachaça “Amélia” ocês não vão estragá não”.

Estávamos ali em sete pessoas e não teve quem não risse da brincadeira do Pedrão, até mesmo o Cidão, que é daqueles cabras quieto, que não fala nada, mas é como coruja, presta uma atenção em tudo.

Terminamos a tarde ao som de uma viola, cervejinhas e na companhia da “Amélia’. Foi muito bom !
Brasilino Neto
Enviado por Brasilino Neto em 08/07/2012
Reeditado em 30/08/2015
Código do texto: T3767106
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