Ladrão de galinhas

Zé Guariba roubava galinhas. Nos fins de semana saía atrás de suas presas. Conhecia todos os sítios com galinheiro dentro de uma área de cinqüenta quilômetros ou mais de sua casa. Gostava de fazer tudo sozinho. Tinha um jeito especial com as penosas, sempre escolhia as melhores. O homem era um verdadeiro campeão na arte de roubar galináceos.

Era um moço tranqüilo, mas corajoso. Com tudo isto só poderia se dá bem. Não tinha pressa, sabia preparar suas ações, entrar nas chácaras e furtar as galinhas nunca foi difícil para ele. Seu segredo, não revelava a ninguém. Entrava nos galinheiros sem fazer barulho, cauteloso e astuto coçava os pés da galinha escolhida, um de cada vez e colocava o seu braço para ela pisar. Depois saía silenciosamente, para não acordá-la, e depois abatê-la sem dó nem piedade, torcendo-lhe o pescoço. Só tinha um problema, era aficionado por uma pinga. Não podia ver uma garrafa de cachaça que logo queria esvaziá-la

O sábado chegava ao fim. O vento começava a refrescar a tarde, os pássaros começavam a chegar pousando nos galhos das árvores. Zé Guariba montou sua bicicleta e saiu para sua jornada de furtos. O sol parecia despencar do céu, os minutos eram preciosos, não podia perder tempo. Quando chegou ao sitio escolhido o sol já havia desaparecido.

Aproveitou a sombra de uma mangueira na frente da casa para observar se havia alguém. Ouviu o ultimo canto do galo se preparando para dormir e o cacarejo peculiar das galinhas, mas não ouviu barulho de gente na casa, nem conseguia identificar onde as galinhas estavam. De longe dava para perceber a alegria de Zé Guariba, ao concluir que não havia ninguém no sitio. Aproximou-se da casa, pensando “hoje é o meu dia”. Depois passou a procurar as aves que já não faziam mais barulho. Andou durante alguns minutos tentando adivinhar onde elas estavam. Poucos metros a frente encontrou o galinheiro. Executou o serviço e colocou duas galinhas no saco.

Na volta, ao passar perto da casa, notou que a porta dos fundos estava aberta. Ele sentiu que o dono do sitio estava lhe dando outra colher de chá e assim suas chances de se sair bem dali aumentaram. O negócio era entrar na casa para levar alguma coisa valiosa além das duas galinhas.

Envolto nestes pensamentos, empurrou a porta e entrou. Acendeu a luz e passou a procurar alguma coisa de valor que pudesse levar. Quando viu uma garrafa de cachaça ao lado de uma poltrona de um dos cômodos, ficou deslumbrado. Era o que ele mais queria. Cego pela vontade de tomar uma pinga, não percebeu que estava cometendo um erro terrível. O que ele mais gostava estava ali na sua frente: uma garrafa de pinga, pela metade. Nada mais importava. Sentiu-se realizado.

A bebida parecia mágica, quando tomou o primeiro trago. Em goladas fartas não demorou chegar a um terço da garrafa. E assim, aos goles, em pouco tempo já não restava mais nada no fundo da bendita. Largou-a vazia em um canto e sem a menor possibilidade de raciocinar, deitou-se no sofá e dormiu.

Apesar de todos seus cálculos, Zé Guariba se esqueceu dos imprevistos. Jamais esperava uma fatalidade e esta lhe pregou um castigo. Ao chegar a casa o proprietário deu de cara com ele dormindo no sofá. Chamou a policia e Zé Guariba foi preso em flagrante por invasão de domicilio. Na delegacia o delegado constatou que havia varias queixas de roubos em outros sítios, principalmente de galinhas.