O GATO, O ROUXINOL E A BORBOLETA

Existem pessoas que passam por nossas vidas como cometas ou estrelas cadentes. Marcam-nos com sua presença, sua graça, seus encantos e, muitas vezes, nos deixam sem pedir licença, sem nem nos dar a oportunidade de dizer-lhes o quanto as amamos. Viram anjos, se é que não foram aqui na terra. Osvaldo Campos, Robson e Madalena foram três deles.

O que dizer do primeiro? Chamava a todos os seus muitos amigos por "gato", apelido que bem se aplicava a ele próprio. Simpático, inteligente, amigo leal, colega sempre solidário e muito querido por todos. Jamais Nino o viu triste. Solteiro, tinha muitas amadas e as encantava como ninguém.

Um dia, voltando de um passeio, sofreu um grave acidente de carro que lhe deixou sequela e um zumbido que continuamente ouvia. Aos trinta e poucos anos foi aposentado. A falta de atividades o fez engordar bastante, mas mesmo com seus problemas não perdeu a graça e nem deixou de sorrir. Sozinho um dia em sua fazendinha, seu coração, talvez sofrendo em silêncio, deixou de bater. Gato, onde você estiver: "Você é luz, é raio, estrela e luar..."(uma das canções que ele mais gostava do cancioneiro popular Wando). E Nino foi quem lhe ensinou a letra.

E do Robson? Maravilhoso violonista, talento que herdou do seu pai, tocava para que ele e os outros cantassem. Pode crer: quem canta e também toca para que outros cantem é, sem dúvida, um doador. Destacava-se pela simpatia, seu largo sorriso, suas brincadeiras e sua amizade sincera. Era um "negão" dos dentes incisivos superiores separados, o que ele não escondia talvez pelo orgulho de sua afrodecendência. Mas, o diabetes o fez emagrecer rapidamente e parece que ele preferiu não observar o severo regime a que deveria se submeter e também foi para a Luz. É um rouxinol que agora canta e encanta no Céu.

E da borboleta Madalena? Lourinha arretada, alegre, encantadora e botequeira. Jamais se teve conhecimento de que tivesse um pecado sequer. Sua beleza exterior refletia sua alma de anjo. Seu riso, seus olhos claros e sua voz ficaram idelevelmente marcados na memória de Nino. Certa vez, uma dor de amor foi confidenciada, aos prantos, nos ombros de Nino, que agradeceu tão forte demonstração de confiança e amizade. E, assim, sem mais nem menos, muito jovem ainda, a borboleta nos deixou, vitimada por um aneurisma cerebral.

Como tantas vezes fizeram aqui, e Nino participou, certamente agora estão lá juntos, o GATO, o ROUXINOL e a BORBOLETA a alegrar os botecos celestiais.

Nota do autor: Este é um dos contos narrados no pequeno livro "CONTOS DE UMA VIDA BANCÁRIA", de minha autoria e à venda)

AGOSTINHO PAGANINI
Enviado por AGOSTINHO PAGANINI em 06/10/2012
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