O Caipira e o Soldado

Condo eu era rapaizin novo ovia contá causos de uns cumpanhirin qui gostava di aprontá; êis aprontava e bubiava na frente dus sordado, antão us sordado apruveitava e lavava a mão nêis cum força.

A gente morava na roça e num era di ficá zanzano a toa não; vivia mais trabaiano nus roçado, labuitano... mais cond'ava nu finár da semana ditardizinha, dispois du sirviço, asveiz era priciso ir na cidade pramode comprá uma carosene, sale ó inté mémo participá d'arguma renião; e ali a gente cumeçava papiá e a prosa rindia. condefé as hora já tinha ido simbora, tinha passado.

E, na calada da noite as coisa inha dimudano!

Diveiz incondo iô via sordado pegano uns piaozin prus cóis dá carça e carregano. Os sordado inha atrais impurrano o infiliz e gritano, ansim:

“Passa pra frente... vô ti mostra poiquêra, sem vergonha; ocê vai vê: é hoje quieu ti mostro cum contos pau faiz uma canoa. Lá na sapucaia ieu ti mostro, ingraçadin!!!”

Êis inha ca -mãozinha amarrada patrais, andano nas ponta dus dedo; inté torto. Cond'êis chegava lá na sapucaia u povo da cidade já tava tudo sabeno da cunfusão, da tramoia. E ali rapaiz os-homi lavava a mão nu lombo dêis mémo, chegava inté istalá as burduada, cond'êis num matava bambiava u cabocrin. Inda falava qu'era pra cuncertá. Cruiz credo rapaiz, ieu achava aquilo ingraçado, mais u trem era fêio divera... eu sempre falava que eu num guentava passá pur aquilo não, é munto sufrimento sô.

– Eu sempre agradei respeitá o dereito dus-otro, e sordado antão cond'eu via passá pru di-perto rancava inté o chapér da cabeça mais qui dipressa e incrinava u pescoço em sinár di respeito.

“Opai m'insinô qui é miór ivitá qui curá.”

Mais teve um dia qui chegô lá in-casa um cumpade meu, já era ditardizinha, iô tinha lairgado sirviço, e tava agachado rancano um barro da inxada; U sór tava virano nu arto da chapada cond'ele foi chegano e apiano dum cavalin baio quêle tinha... foi apiano e já foi mi pidino o fumo pra fazê um cigarrin; A paia como di custume ele tinha, carregava ela atrais da orêia. Sentô num pau de lenha ali mémo na porta da sala onde iô tava e papo vai e papo vêm, arrastamo na cunversa inté na boca da noite. Dispois qui nóis assuntô bastante tempo, ele falô ansim:

Vão pa -rua Mandruvachá?

- Nóis num vai demorá lá não; iô priciso achá a venda du Zé azeite aberta pramode comprá uma caxa di “fosqui”... tô sem fogo in-casa.

Ai, ieu tentei iscapá dele arrumano uma discuirpa, prurquê ele gostava di bebê uma cachaça retada, e condo ficava mei zonzo ninguém guentava ele, transformava, ficava munto injuado e ramonento. E vai daqui, vai dali e nada dele ir simbora, só insistino comigo; ai eu pensei ansim: - É mió ieu in-lá qüêsse camaradinha.

- Peraí intão cumpá Terenço - vou passá uma aguazinha nu pescoço ali nu girarzin, e já vorto.

- Tomamo uma caniquinha di café e saí di-a-pé qü'ele prusiano pra istrada afora, ele ucavalin e ieu na canela.

- Raapaaaiz... mais num deu otra. Foi chegano na tár venda du zé azeite e o danado du cumpadre Terenço passô bêbê copo lavrado di pinga, e cuméno salame sem pará - compôco tava bêbo e injuado, quereno ofendê zé azeite.

Ele falava qui num inha pagá a conta, não. - Zé azeite tava macho e ripiado, prurquê condo cumpadre terenço inha cunversá, cuspia êi tudo. Iô cumecei ficá apertado, prurquê zé azeite era mitidin furá us-ôtro cum canivete... e, ê-tava inté tremeno di raiva. Iô tentei apartá a cunfusão mandano cumpade terenço calá boca, mais ê falô ansim cumigo: - Dêxa ficá Mandruvachá, dêxa ficá, ieu tenho aqui na cinta pr'êle... dêxa ficá!

Foi condo iô vi uma bitela duma garrucha inté briano dibaxo da camisa du Terenço, e ele quereno dá di mão nela. - Iô passei gritá inda mais arto: Caaarma cumpá Terenço, caarma cumpá Terenço... e ê cada veiz mais brabo, inté babano e iscumano us can-da-boca.

Como Zé azeite num carregava medo tamém, partiu pra riba e tentô impurrá Terenço pra fora da venda a força.

Minino!!! - Foi nessa hora qui terenço arresorveu puxá a bicha pra fora. - Cond'eu vi aquilo, mais qui dipressa pulêi pra ban-di-dentro du barcão, abachei a cabeça e iscuitei a mamona istalano, ansim:

- Táaaaaaa!!!

- Direpente ficô tudo caladin, cond'eu criei corage e levantei pra vê u acunticido, vi zé azeite caído nu chão e a garruchinha pru perto dele.

Terenço, esse - nessas artura tava iscorado na porta oiano pra rua mei-qui-assustado e airmano pra corrê.

Iô peguei aquela arminha, sentei nu taburetin e to balangano ela e falano ansim cum cumpá Terenço: Taveeeno... taveno o qui-ocê arrumô!? - Ocê matô zé azeite... e a agora, sô!?

- U tiro foi certêro; Pegô dois dedo prurriba du imbigo.

Terenço ficô oiano pra mim ricibiado, e ieu di zói nele.

"Coitado foi du Tebinha!!!!"

- Tebinha tava sentado num tamburetin, e nu tamburetin ficô; Munto sistemático, andava cum chapérzin interrado na cabeça tapano us zói só pra num ter qui cumprimentá u povo. - Era vergonha as muntuêra!

Mémo tano ali, du lado on-conteceu a intriga, num viu nada, só iscuitô u istalo du rachá da taquara, na hora qui Terenço puxô u dedo; Munto qui fêiz, foi balangá a cabeça inconfoirmado cum ipizode.

Tebinha era um cumpanhirin nosso tamém, um homizin fraco, franzinin mémo, mais munto certo e respeitadô do dereito dus-ôtro; ê qui tava certo, mais nu lugá errado

Aí ieu garrei e falei ansim qü'ele: Sigura essa garruchinha ai tebinha, e num dá ela pra terenço não, quieu vô forgá u currião da carça du zé azeite, sinão u sangue vaza tudo.

Hummmmm rapaiz!!! Praquê!?!

Sorte minha e azá du coitadin du tebinha. condo passei a airminha pru tebinha e pusicionei inrriba du Zé Azeite, chegô um baita dum sordadão duma veiz na venda e apontô na cara du Tebinha um fuzil e gritô: Quétin, quétin, quétin sinão iô atiro nocê; e já foi dano nele um safanão e dirruban'ele du tamburetin. Ele pisô cum butinão nu piscuçin du coitadin du Tebinha, qu'isso a garruchinha foi pará diba-du- barcão. Cumpá Terenço, qui num é bobo nem nada, parece qui sarô a mardita da manguaça, saiu correno, e sumiu na saroba;

Iô pirdi o rumo e num cunsiguia falá nada cum sordado, prurquê assustei ca-quêle aranzér todo; num deu tempo di nada tamém não.

Ele garrô cum pé nu pescoço du tebinha e isqueceu de bambiá u peso daquela bitela di butina; Tebinha foi ruxiano, ruxiano e perdeno o fôrgo, e foi ficano safocado, a hora qui o sordado viu a língua dele tudo pra banda di fora da boca e qui o Tebinha tava quais morto ai tirô o pé...mais já foi marrano us braço dele pá-trais sem dá prazo, nun quis cunversá cum ninguém não.

Levantô ê pru colarin da camisa e a hora quêle tava impé, tadim, cum munta dificulidade, o homi deu n'ele um tapão na nuca!!! com isso o chapérzin sumiu tamém. Foi condo a cara du Tebinha ficô a vista, isso pra ómentá ainda mais a vergonha du coitadin.

Aí o sordado falô ansim: Vão lá pra sapucaia! lá eu acabo de acertá concê - lá iô acerto seu passo. Assassinooo!

- Ôooh, Rapaiz... lembrei dus casos quieu óvia falá di sordado e pensei, ansim: Tá morto; Déssa ê num iscapa. Qu'êssa raiva toda, esse mardito vai matá u infiliz du Tebinha... Tebinha num guenta côro, e mais u sordado num sabe qu'ele tem um rín só.

Nu trajeto da venda inté na sapucaia ê deu uns sete tombo ó mais nu tebinha; Tebinha inha andano na frente dele cas -mãozinha marrada

pratrais, calado, e ca -cabicinha baxa... pru mardade, diveiz incondo u mardiçuado impurrava e passava nele o pé pru-ditrais e ê tombava, cainha cá- cara nu chão... e pra limpá a puêra dus zói êe garrava soprá e bufá ansim: Buuuuurr.

Pur valença rapaiz, condo êis chegô lá na sapucaia tinha um dotôre adevogado na porta isperano; Nesse tempo sordado andava diapé ou a cavalo, num tinha carro, não, e o povo acompanhava o fragelo de longe com dó porque o côro cumia sorto.

Foi condo eu iscutei o adevogado falano cum sordado:

Num é ele não... num ele não sô, quem matô zé azeite foi o Terenço, o qui tava iscorado na porta da venda conndo ocê chegô lá correno, inconto ocê pisava na guela du tebinha, Terenço fugiu!

- Ai rapaiz, o marvado do sordado falô ansim com dotore adevogado:

- O sinhore tem certeza?

– Craro qui tenho, e pode priguntár pru Mandruvachá quele viu tudo!

– Ai..ai..ai..ai, condo ele falô ansim eu trimi tudo e quis saí de finin, mais as perna bambiô, a voiz fartô, us zói isbugaiô e a vista imbaraiô, a valença quiotava iscorado numa arvinha ispiano de longe, e amoitei.

– O sordado parece que ficô apertado porquê já tinha judiado munto do Tebinha, e isqueceu de mim, de mim interrogá - e já foi falano ansim com o dotôre adevogado: O que eu posso fazê é sortá esse tebinha - tirar o côro du lombo dele num tem jeito mais não.

- O tebinha apesá de tá tudo amarrotado e isfolado, num quis nem sabê, a hora que o sordado dismarrô os braços dele, ele fincô na perna e sumiu, nem oiá pa -trais ele quis sabê; Ele tava com munto medo de entrar dentro da sapucaia e num sair de lá vivo, prurquê o sordadão falava nu pé da oreia dele: “Lá dentro eu vô ti istocar com o mulato, na boca du istâmo - rancá seu rín!” - O caso num é de rir não, mais mémo em meio ao aperto eu inté agachei de rir ao ver tebinha arredano o pé divagariquim e dipois xispano num galope doido.

Esse tár tebinha panhô birra de sordado duma tar manera que ninguém nunca mais viu ele na rua, no povoado - ele agora fica quetin incasa, na berada duma loca de pedra lá na roça, tá barbudo e cabiludo, diz que a tár depressão abraçô ele com força, condo toquei no assunto, ele falou ansim: Éh Mandruvachá, é bão num bubiá na frente desse bicho, ele inha me matá, EU TAVA NO LUGAR ERRADO, NA HORA ERRADA... História de sordado asveiz é munto ingraçada, mais num queira cair na unha dele, pois essa me isfolô tudo.

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 20/11/2012
Reeditado em 29/12/2014
Código do texto: T3995940
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