Um Casal Perfeito.

Era uma vez, assim o começo das histórias de minha mãe. A história é a seguinte. Havia um casal que nunca desentendiam-se. Todos da aldeia conheciam à vida harmoniosa do perfeito casal. Eles chamavam José e Maria. Era uma vivência carinhosa e saudável. Eles viviam numa terrinha de onde tiravam o sustento. Tinham uma vaquinha boa de leite. A terrinha fazia divisa com às terras de um compadre muito rico. Um dia comentando com Maria, o Zé desabafou: “Maria estou cansado desta vida de mais ou menos, sei qui nois veve bem, maiz é só essa casinha, essa rocinha, nois num saí disso, ocê vê o compadre qui veve viajando, fazendo negóço,é berganha de cá, berganha de lá e tá danado de rico,sabe Maria num tô cum inveja não, mas vou fazê iguale o compadre. Diz ele que quem trabaia num tem tempo de ganhá dinheiro, vou pegá nossa vaquinha e fazê negóço por aí” A Maria comentou:-“ o Izé, ocê tá certo, a nossa vaqruinha vai cê o começo da nossa sorte”. Aconteceu que o Zé era presa fácil dos espertos. Colocou a corda na vaquinha e saiu pelas estradas fazendo negócios. Andou o dia inteiro e pernoitou na casa de um camponês. No outro dia regressando sem a vaquinha encontra o compadre e conta suas barganhas. O compadre o questionou: “compadre desta vez a comadre vai brigar com você, desta vez ela não vai aguentar “. Zé afirma confiante, diz para o compadre: “briga não compadre, Maria é uma santa que Deus mandou pra mim”. O compadre rico duvidou e propôs uma aposta, se a comadre brigasse o compadre pobre perderia sua terrinha. Se a comadre não brigasse o compadre rico perderia a fazenda, o Zé deu o “ tá feito”. Combinaram que o compadre rico ficaria escondido ouvindo o Zé contar a Maria como foram os negócios. O Zé ao chegar, Maria foi correndo abraçá-lo. O compadre rico escondeu atrás de uma porta do paiol. O Zé e Maria sentados num tronco de braúna, começa a contar como foram às barganhas.

Zé- Ô Maria, eu sai com a vaquinha, depois dali da curva do João Curió encontrei o Zé Tibúrcio querendo berganhá um burro de carga e sela, arreado de cangaia, ele me ofereceu uma coisa por outra, intonce troquei.

Maria- qui bão Izé, ocê num mais precisá ficá carregando às colhetas na cacunda, num pricisa andá a pé.

Zé- Pera ai Maria, num terminei ainda. Acontece que lá na fazenda do Rio Vermeio eu fiquei doído com uma égua baia marchadeira e enxertada de burro. O moço queria vorta, mas eu qui não sô bobo, ofereci uma coisa na outra e ele deu o tá feito!

Maria- Foi o mió negoço que ocê fez, daqui uns meiz temo a égua e um burrinho. Ocê Izé é danado de ativo, deu manta nele. 2 por 1!

Zé-Carma Maria, ainda num terminei. Lá na virada da serra do Pedro João,encontrei o Zé Prego levando na corda um cachaço, um lasca porcão danado de bunito, da raça Caparaó. Ofereci berganha uma coisa na outra, fizemo negoço.

Maria- Qui bão Izé, sô doída com essa raça de poico. Nossa poica tá nos dias de ser prenha. Já to veno uma requada de poiquinhos preto e branco.

Zé- Maria ocê é afoitada dimais, num espera eu terminá, ali na curva do pau torto, na fazenda do coroné Isartino, encontrei o fio do Zé Caboco, quis trocá um casal de piru pelo porco, como ocê adora piru, dei uma coisa pela outra.

Maria- Ocê é danado Izé, adivinha meu pensamento, sempre desejei piru fazendo glu-glu no nosso terreiro.

Zé- Nada de piru procê.Lembrei docê mió ainda, foi quando vi uma galinha da raça ródia bunita pra daná. Troquei os piru na bundudinha

Maria- Ocê é danado de sabido, galinha ródia cum nosso galo ródio, noiz vai ficá famoso de raça pura.

Zé-Ô Maria num vai tê galinha ródia não. Aconteceu que andei o dia intero sem cumê nada. Só tomei um café fraquinho na venda do Chico Russo. Quase a noitinha pedi posada na casa de gente muito pobre, pedi cumida e eles disse que só tinha um tiquinho de sar e gordura, tinha umas abobra tamen, eles tamen não não tinha cumido nada de tarde, os minino tava inté de zoi branco de fome,mandei matar a galinha, misturada cum abobra noiz comemo com fartura. Maria_ Ô Izé foi a mió coisa qui aconteceu cum ocê, matô sua fome e das criança e isso Nosso Senhor Jisus Cristo põe benção.

Nisso o compadre que estava escondido ouvindo o relato das barganhas saiu de trás da porta do paiol reclamando: “comadre a senhora tem sangue de barata”! O Zé corrigiu: Ela tem sangue de Cristo”! E virando para a esposa disse:-“Maria, a nossa Vaquinha agora é essa fazenda que começa daqui da nossa divisa.

Muitas das histórias de minha mãe tinha o viés de auto- ajuda , o que ela chamava de “exemplos”. Essas histórias eram herdadas do tio Zé Mota, um tio de primeiro grau dela.

Lair Estanislau Alves.