O VIAGRINHA

Era uma agonia só. Helena não sabia se botava à roupa ou se tirava a roupa. Ora calor...ora frio...

- Helena, o que tem você, amiga? – falou Marlene espantada ao ver sua amiga suando enquanto lá fora o frio chegava a queimar a pele – Está passando mal?!

- Estou Marlene. Não sei o que é isso. Nunca senti antes. Coisa estranha...

- Estranho?! – gargalhou Marlene – você não tem mais de cinqüenta, Helena?

- Tenho e daí?

- Não seria menopausa?! – brincou Marlene

- É. Acredito que sim...

- Por que não procura logo um médico, mulher! Com essas coisas não se brinca. Você já era para estar tratando faz tempo e...

- Tá! Tá bom, Marlene...Vou fazer isso amanhã mesmo. Estes calafrios são muito desagradáveis...

No dia seguinte, estava Helena lá no consultório do ginecologista.

- Olá, Helena! Como vai?! Quanto tempo você não aparece! – Doutor Milagre falou abraçando Helena – Sente-se. Já até sei o que é. É a menopausa, né?

- É, Doutor Milagre...

- Ah...eu te avisei tanto da última vez que esteve aqui. Já faz três anos...era para a “menina” voltar na semana seguinte para começar o tratamento...

- Eu lembro, Doutor Só que achei que era besteira. Que estava me sentindo bem. Sabe como é... a gente só procura quando o calo aperta no sapato...

- Demorou muito pra vir, Helena!... Não precisava estar tendo estas reações que tem agora se tivesse começado o tratamento.

- Eu sei, Dr. Milagre. O que preciso fazer?

- O que sente?

- Frio, calor, ando nervosa e...

- E?

- Sexualmente...bem...

- Pode falar, Helena!

- Ah...Doutor..nada. Não sinto nada.

- Nada como?

- Não sinto vontade de...sabe...

- Como está a relação de você com seu marido?

- Ele não reclama não, sabe, Doutor. Ele é um homem bom. Não gosta de me perturbar. Sabe que não ando sentindo tesão. Ele é homem muito bom, Doutor Milagre...

- Entendo. Vai fazer todos esses exames que estou lhe passando, depois vai tomar o remédio que vou lhe receitar

- Remédio? Para quê?

- Vamos dizer que é um viagra feminino. Um viagrinha...

O rosto de Helena abriu-se num sorriso de contentamento:

- Vou voltar a ser o que era Dr?...

- Primeiro faz os exames, após os resultados, se tudo estiver como acho que está, faço a receita.

Helena voltou com os exames, ansiosa. Estava doida que os exames estivessem no ponto dela tomar o viagrinha.

Dr. Milagre olhou os exames, falou que não tinha problemas com seu exame e receitou. Estava lá no papel. A salvação de Helena. Ela correu à farmácia pra comprar o remédio. Lembrou das palavras do Dr. Milagre: “A reação não é imediata, mas com o passar dos dias, você vai sentir a diferença”.

Passaram-se dois meses e o Doutor Milagre recebeu no seu consultório a visita do Alfredo, marido de Helena;

- Olá, Alfredo! Como vai? Aposto que está feliz com o remédio que receitei pra Helena, né?

- Dr. Milagre!! Que porcaria de remédio foi esse que o Senhor Receitou pra minha mulher?

- Por que? O que houve?

- O senhor destruiu meu casamento, Dr.!!

- Não entendi. Explica melhor...

- Ora, Dr!...depois que o Senhor receitou esse remédio, a Helena quer trepar toda hora!..

Dr. Milagre ficou sem entender o que Alfredo estava querendo dizer:

- Peraí!... não era esse um dos maiores problemas da Helena?

- Era o dela, mas não o meu!

- Ah...você não está agüentando...eu imaginei...tenho um amigo urologista que...

- Não, Dr! O que estou querendo dizer é que antigamente era um alívio não precisar transar com ela, agora não tem jeito e ainda por cima tenho que transar toda hora. Chega. Não quero mais esse casamento!!!

- Bom...fiz o que tinha que fazer por minha paciente...

- É, Doutor Milagre?! Então...olha só...o senhor tem que dar um remédio pra ela mudar essa coisa que ela tá sentindo...

- Desculpe, Alfredo. Agora não tem jeito não, o prazo é de 90 dias.

- Puta que o pariu, doutor! O senhor me fudeu com esse seu milagre!! Porra... Quer saber? Agora é o Senhor quem vai ficar com ela. Tô fora!!

Doutor Milagre ficou ali parado pensando com seus botões: “Como é complicado medicar...”

Rose de Castro

A ‘POETA’

Rose de Castro
Enviado por Rose de Castro em 09/03/2007
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