Tião do Saco e suas duas flores

* Atenção: Se você é um amante do português culto e bem falado NÃO leia o relato abaixo.

Tava eu sentado na beirinha da estrada de São Tumé dos Passo, nus Sun Paulo da vida. De repente a noite foi chegano, foi chegano, foi chegano, quando eu vi, a danada da noite chegou rapá! Aí me deu uma vontade de passá no barzim da esquina pra comprá uma pinguinha. Eu levantei e fui. Que qui tem? O dinherim era meu mêmo!

Quando intrei no bar, vi toda aquela porquêra de sempre, tudo sujo, malarumado, cê sabe como é! Só qui no mei daquela sujeraiada toda, eu vi uma florzinha do sertão. Era uma minina bunita demais cumpadi, e cê num há de vê que a cabritinha ainda tava sozinha?

Eu falei: eu vou lá. E fui.

- Curisença frô. - Já fui mostrano minha delicadeza - Meu nome é Sebastião Pinto Cabral, mas pode me chamá de Tião do Saco mêmo.

- Muito prazer, senhor Tião do Saco, eu sou Alfredina Ford! - Ói... Dona Inbira dos Cachorro Véi que me discuirpi, má até nome de gringo a moça tinha.

- Eu posso sentá do lado da senhora?

- Pode sim, senhor Tião. Fique a vontade. - A minina tomava o suco de laranja numa delicadeza que cêis num credita.

Fiquei de ladim com a princesa só oiano ela tomá aquela laranjada bunita, nada mais injistia. Êta amô, êta paxão, nem com a minha véia muié eu nunca sinti isso.

Eu oiei pro lado e falei... Rapá, qué sabê? Eu vô arriscá. Vai que este pêxim cai na minha isca...

- Cê tem namorado frô?

- Não. Não tenho, senhor Tião. Qual o motivo da curiosidade? - Êta muiésinha que quiria sabê dimais.

- Nada não, só pra sabê mêmo. - Parti pra segunda tacada. - Frô... tem suco na sua cara. Cê num qué que eu limpe?

- Você faria essa gentileza? - Tava caino na minha rapá, tava caino...

- Craro que eu faria. - Levei o dedo perto da boca dela e limpei a sujêra, que na verdade, nem tinha.

Cumo eu era um homi esperto, eu tratei de arriscá a terceira tacada. Singurei o queixo dela e fui aproximano o meu rosto. Fechei os zói e só estiquei o pescoço. I num é que a moça deu pra trás... quando eu tava pra beijá, ela intortô a cabeça pro lado e falô:

- Seu Tião do Saco, eu acho que já limpou, não é? - Êta! Tive que concordá.

Fiquei um tempim só vêno ela terminá de bebê um outro suco. Êta boca gostosa, rapá. Resorvi puxá conversa.

- Dona Arfredina, o qui é qui a senhorita tá fazêno por essas banda?

- Eu estou só passeando. Sou do Rio de Janeiro, conhece? - Êta moça acurturada...

- Só de televisão mêmo.

- Ah, lá é lindo... - Cê é que linda frorzinha.

- I o quê qui tu faz lá?

- Eu trabalho com marketing. Sou logista. - Ó... nunca tinha cunhecido gente que num fosse fazendeiro ou pinguço... grande evolução! - E o senhor, seu Tião, o que faz?

- Por agora eu tô disimpregado sabe frô? Isso me deixa tão chateado qui eu quaise choro. - Quiria fingi de pricisado.

- Ô Seu Tião, deita aqui no meu colo, eu vou consolar o senhor. - Rapá, ela caiu na minha, meu fio do céu!

A noite ia passano e eu deitado no colo daquele anjo que caiu do cér. Eu turcia praquilo num acabá nunca. Di repente, outra muiézassa sentô na mesa com a gente. Era da mêma idade da tal Arfredina. Êta trem bão!

- Boa noite, senhor. - Educada...

- Boa noite, frô. - Levantei na hora e bêjei a mão dela.

A minina sentô do lado da outra e ficô lá alisâno a mão dela. Rapá... duas gata dessa e eu ia perdê?

- Qual é teu nome frô?

- Rita. Rita Aparecida Ford. Muito prazer.

- O prazê é tudo meu, frô!

Os úrtimo nome era igual, rapá, será que eza era irmã? Tinha qui puxá assunto. Risorvi perguntá.

- Frores do meu jardim, - comecei poético - seis são irmã?

- Não. - Falou a Arfredina. - Nós somos mulheres, somos casadas. Moramos juntas... O senhor não quer ir pro Rio conhecer nossa casa?

Êta modernidade qui mata!