ENTERRO DO ZÉ MIGUEL

Pessoas mortas. Enterro. Velório. Nunca gostei dessas coisas, principalmente velório.

-Amor, nós vamos não é? Dona Dina é minha amiga não posso deixar de ir, aliás eu fui no enterro de seu primeiro marido. Ave Maria, tomara que ela não case mais. Disse minha mulher apreensiva.

-Meu anjo, você sabe que não gosto de velórios essas coisas, e ainda por cima do Zé Miguel, aquele cachaceiro de uma figa. Morreu tarde. Morreria de qualquer jeito, quem é doido casar com aquela cobra da Dona Dina? Respondi.

-Benza Jesus!! Respeite os mortos seu ignorante! Nós vamos e ponto final. Se não quiser ir tudo bem, não me toque durante essa semana. Respondeu dando de ombros.

É incrível como as mulheres conseguem as coisas.

Zé Miguel, estava sendo velado na sua casa, muquifo na verdade, morreu de madrugada quando chegava em casa, mais uma vez mamado.

Quando atravessamos o portão, vem Dona Dina, enxugando o choro e o nariz, em seu paninho verde que ela tirou entre os peitos.

-Ai Jesus, se foi Zé Miguel meu Deus, se foi minha amiga, se foi. Disse Dona Dina.

É triste quando alguém querido se vai, mas pra quê esse desespero dos pobres?

Abracei cautelosamente Dona Dina. Entramos. Passando pela cozinha, tinha 3 garrafas de café, e mais água fervendo para os vizinhos. Muitas crianças brincando ali no chão, os amigos de Zé Miguel, estavam ali jogando dominó com uma garrafa de pinga do lado. O caixão estava apoiado entre duas caixas de cervejas, um vaso de flor amarela, e Zé Miguel estava vestido com um paletó bem menor que seu corpo. Não tinha nenhuma vela acessa, pois noite passada acabara a energia elétrica, e todas velas foram usadas, comentou Dona Dinda. Dona Dina, desmaiou umas 3 vezes, com aquele peso, era trágico levantá-la, ainda mais suada como estava. E toda vez que levantava-se, sacudia o pobre do Zé Miguel, que após todas essas sacudidas, já não sobravam flores dentro do seu caixão. A calça do paletó, ficava bem acima da canela.

Ligaram o rádio, tocava Nelson Gonçalves, cantor preferido de Zé Miguel.

-Bati! Essa vai pro meu cumpadi, Zé Miguer. Disse um dos amigos que estavam jogando dominó na cozinha.

Chegou o carro da funerária. Corre corre dentro da casa. Dona Dina, arrancou um pedaço do pau do caixão, e guardou debaixo do colchão. Minha mulher estava ali com ela, chorava junto pra agradar, eu fazia cara feia a todo momento para ir embora. A cara de deboche de minha esposa, mostrava sua vontade de ficar.

-Vamos, vamos, tenho horário a cumprir. Tenho mais 4 corpos pra pegar hoje. disse o motorista da funerária.

Deixe ele com nós, os companheiros sempre estarão junto. Disse os amigos bêbados.

O motorista não quis saber, me chamou pra ajudar a trazer o caixão pra dentro do carro. Não pensei duas vezes, estava cheio daquilo.

O caixão não tinha alças, mais três pessoas vieram ajudar. Duas ficaram para apoiar o fundo do caixão, que estava cedendo, enquanto nós carregávamos para fora.

-Não vá meu bem, não vá. Gritava demasiadamente Dona Dina, abraçando o caixão.

Nem nós, nem o caixão aguentou o peso. O caixão abriu-se pelas laterais, quando tocou o chão, Zé Miguel, está ali mais uma vez na rua.

-Viva! Que Zé Miguel tá vivo, venho com nós Zé, tomá cachaça e jogar dominó.

As crianças saíram correndo com medo. As vizinhas, junto com minha mulher, caíram ao chão desmaiadas. Dois cachorros, que estavam na rua, latiam pra cima do defunto. Fui ajudar levantar o defunto, fui puxar pela roupa sem saber que estava rasgada do lado de trás. Zé Miguel ficou sem roupa ali no chão, as mulheres que já tinham se recuperado do desmaio, quando viram o defunto sem roupa, desmaiaram mais uma vez.

-Tá vendo ali? Vendo Zé Miguel sem roupa, agora sei porque as mulheres da noite gostavam tanto dele. Disse um dos amigos de Zé Miguel.

Ao ouvir isso, Dona Dina, partiu pra cima desse rapaz. Começou o quebra quebra. Algumas, tomaram a dor do rapaz, outras da Dona Dina, até que todas as vizinhas brigavam, até minha mulher estava ali, com um dos olhos roxo, puxando o cabelo de Dona Celeste.

Peguei o corpo de Zé Miguel, joguei dentro do carro da funerária, sentei no banco da frente e disse ao motorista:

-Vamos meu amigo, enterrar esse pobre homem, quem sabe não ficamos por lá também?

Quando o carro ganhava velocidade, pelo retrovisor via Dona Dina, correndo atrás do carro, só de sutiã, pois sua camisa havia perdido na briga.

-Acelera meu amigo, acelera. Disse.

Eduardo monteiro
Enviado por Eduardo monteiro em 03/02/2013
Código do texto: T4121423
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