PEDRO E O BARALHO CIGANO

Enganoso é o coração do homem. Quem o esquadrinhará? Quem dirá dele com ciência e sapiência? Queres ser um sábio? Conheça-te a ti mesmo!

Anabela viveu com Pedro muito bem. A felicidade batia a porta sempre. O casal se entendia cada vez mais. Anabela era uma moça muito bonita; a moça agregava em seu corpo as formas da beleza sergipana padrão. Branca, olhos um pouco claros, estatura média, lindas formas, e uma sensualidade sem igual. De fato, Anabela era muito desejável.

De seu marido não se pode dizer o mesmo. Pedro era um nordestino de traços rústicos. Sua aparência não era muito agradável. Contudo, era um rapaz de ouro; dava a sua mulher todo o espaço possível para que ela vivesse de forma plena. Renunciou a muitas coisas para que sua amada fosse feliz.

- Anabela, eu confio em você. Tudo que é meu é teu.

- Eu sei meu bem. Sou muito grata a Deus por tudo.

Mas a vida é um palco onde as pessoas apresentam diferentes personagens. No entanto, Pedro continuou sendo o homem fiel e leal à família e ao lar. Seu horário de chegar sempre era o mesmo, seu ciclo de relações era muito restrito. Podia-se dizer que a rotina de Pedro não dava brechas para acidentes morais. Certo dia, o animal de estimação do casal, um coelho adoeceu. Anabela foi à procura de alguém para ajudar o pobre bicho.

- Anabela, no Siqueira tem um rapaz que não é veterinário, mas, dizem que ele ajuda a muita gente.

- Oh, mulher, obrigada! Quem sabe Deus use esse homem para salvar a vida de Bart.

Anabela levou o coelho Bart à casa do falso doutor. O rapaz a recebeu muito bem. Anabela não ia só à casa do homem; sua cunhada, dona Margarida, a acompanhava a todas as consultas. O falso veterinário descobriu a causa da doença do animal. Após alguns dias de lutas, Bart se levantou, graças aos esforços, sobretudo do pseudo doutor. A alegria foi muito grande para todos, menos para Pedro que via na relação da cliente e do profissional amador algo além do que os olhos podiam provar.

Certo dia, em uma visita, a casa do casal; o veterinário e Anabela trocam olhares enquanto seguravam o coelho para lhe aplicar uma injeção.

- Calma! Calma, rapaz! Ele ainda vai precisar de mais duas injeções; elas são caras, mas, eu acredito que surtirá efeito. Tenha paciência!

- Obrigado!

Desse dia em diante, Pedro pedia a Anabela para mudar de veterinário. Mas, ela não o ouviu. As idas à casa do homem passaram a ser um terror para Pedro. A jovem Anabela, mesmo sabendo disso, não atendeu aos clamores de seu amor.

- Meu bem, não gosto do jeito desse rapaz, nem da forma como ele se apresenta na rua.

- Deixe de tolice Pedro! Ele tem me respeitado, e minha cunhada sempre me acompanha a casa dele.

Os dias passaram e se transformaram em meses. Na mente de Pedro havia alguma coisa no ar. Sem evidências, Pedro decidiu arquivar o caso. Entretanto, algo sempre brotava em sua mente aqui e ali. Anabela não era mais a mesma na cama, evitava o pobre rapaz; se tornou uma mulher agressiva e impaciente.

- Acho que nós não damos certo. Preciso de um tempo para pensar. Disse Pedro com um tom triste.

- Por que meu bem? Te amo tanto. Respondeu Anabela aos apelos de seu amor.

A vida sexual do casal estava num abismo sem fim. Os dois que outrora se desejavam tanto passaram a se evitarem. Anabela passava muito tempo sem querer nada com o pobre Pedro, e ele, sem paz na alma, pois, esta estava doente devido ao vírus da desconfiança não a procurava também.

Anabela tinha compromissos todas as tardes; as ocasiões em que coincidia do casal estar em casa, o mesmo não se encontrava no leito do amor. Definitivamente, para Pedro, sua amada estava tendo um caso. “Mas como vou provar isso?” Questionou o jovem a si mesmo. Sua finada mãe era uma cigana que em seu tempo na terra trabalhava como cartomante. Pedro lembrou-se do velho baralho da falecida. Um dia, ao meio dia, antes de retornar ao trabalho, Pedro vai ao quarto dos fundos de sua casa onde as coisas velhas eram guardadas e encontra em um baú vermelho, a roupa, a bola de cristal, e o baralho cigano de sua mãe. “Isso tudo é bobagem; nunca acreditei nessas coisas!” Pensou Pedro, logo em seguida disse baixinho: “Perdoe-me mãe”. Os dias passaram; o quadro da família não se revertia; Anabela continuava do mesmo jeito. “Vou ver se as cartas falam mesmo” Mais uma vez o rapaz se constrange e deixa essa história de cartas para trás.

O conflito de Pedro resistia há quatro meses. O casal vivia um clima terrível de desconfiança. Anabela com suas saídas e chegadas impacientes em casa. Mais uma vez o rapaz pensa em ver no baralho. “Se Anabela está fazendo algo errado, se tem alguém, por favor, me mostre!” As cartas foram embaralhadas muitas vezes, o coração do rapaz queria saber a verdade. Contudo seu coração queria que as cartas falassem que era tudo um mal entendido. “Se tem homem na jogada me mostre”. A carta 28, a de um homem de terno se apresenta para o rapaz de forma tão nítida quanto o sol ao meio dia. O coração de Pedro gelou ao ver o homem de terno com o chapéu na cabeça lendo um bilhete. “Mas, isso foi coincidência, vou jogar novamente” O baralho apresentou outra carta. O rapaz, então disse para si: “Tá vendo como foi uma coincidência”. Embora ele dissesse sempre que foi coincidência seu coração continuava a acreditar que sua desconfiança tinha fundamento uma vez que nada havia mudado em casa.

Certo dia, seu patrão liga avisando que os computadores da empresa estariam em manutenção e que ele ficasse em casa. Sua filha, vendo o pai em casa o pediu para leva-la à escola. Ao sair de casa, Pedro tem um deja vu. Ele via que se encontraria com Anabela e perto dela estaria o veterinário amador. Isso aconteceria numa esquina no Siqueira Campos, próximo à escola Presidente Vargas. Ele levou a filha à escola e depois seguiu na direção de casa. Na dita esquina estava sua amada falando ao celular. Ele diminui a velocidade do carro pondo-o em macha lenta. Aguarda um pouco deixando sua mulher dobrar a esquina. Pensou então Pedro: “Vou fazer a volta para pegá-la de frente”. Ao fazer a volta no quarteirão, Pedro se depara com sua mulher a alguns metros a frente do veterinário amador. Este seguia na direção oposta a dela.

- Meu bem, o que você está fazendo aqui? Perguntou Anabela ao seu marido.

- Não foi trabalhar? Continuou Anabela com um ar de surpresa ou desconfiança.

- Anabela por que você está aqui e por que este homem estava aí bem atrás de você?

- Que homem? Não vi ninguém!

Anabela não admitiu que tivesse falado com o moço. Nem disse que o havia visto naquela tarde, naquela esquina. Pedro sabia que seria para o resto de sua vida a sombra da desconfiança. Muitas vezes ele disse para sua mulher: “Mulher, vou te deixar, pois, não está bom viver com essa lembrança na cabeça, essa dúvida na mente”. Sua mulher, por sua vez, dizia para ele: “Quando você me conheceu sabia que eu gosto de resolver minhas coisas, gosto de sair, e eu não vou dar satisfação a ninguém; eu num devo nada”. Pedro se sentia muito mal em alimentar o ciúme. O rapaz então toma uma decisão radical.

O verão de março quase queimava Aracaju, a princesinha do Nordeste. O calor era tão grande que as pessoas desmaiavam nas ruas quando chegava perto do meio dia. Pedro decidiu sair de casa e morar sozinho. A princípio, sua família não entendeu o rapaz, e nada ele comentou sobre sua mulher, ou ex-mulher. Dois anos passou rápido, Anabela se juntou com o veterinário; os dois colocaram uma clínica no bairro Luzia. Pedro quando soube do ocorrido nada disse, apenas sussurrou baixinho: “Eu sabia que um dia tudo ia aparecer”. Pedro seguiu o curso de sua vida. Um dia decidiu por baralho para as pessoas. O baralho de Pedro ficou conhecido em Aracaju. Pessoas de diferentes classes sociais o procuravam para saber a sorte.

- Pedro, eu queria saber de minha mulher? Disse um homem de chapéu na cabeça e feições simpáticas.

- Eu conheço sua pessoa de algum lugar? Perguntou-lhe Pedro.

- Não acho que não. Pedro jogou o baralho para o moço. As cartas disseram que a mulher do homem estava saindo com o amigo dele.

- Mas, isso não pode ser! Eu confio demais em minha mulher. Ela deixou até o marido para ficar comigo!

- É, mas, as pessoas mudam com o tempo, às vezes, para o bem, ás vezes, para o mal.

- Mas, Pedro, minha mulher não dá a menor bandeira, não há nenhuma evidência.

- Então, por que você veio jogar nessa intenção? As evidências podem estar diante de seus olhos e você nem imagina quais são. Ela está fazendo amor com muito fervor?

- Por quê?

- Porque algumas mulheres quando encontram um amante fora de casa se tornam mais viçosas. Isso ocorre quando ela gosta do marido. Nesse caso, a traição dela, é, na mente dela, um socorro para a relação. Ela deseja a segurança de um casamento, mas, quer ter sua aventura fora de casa para satisfazer sua libido. Não se engane! O mundo caminha para a expressão plena da sexualidade feminina. A imagem da mulher ‘Maria’ está com o tempo contado; muitos homens, machos, terão seu machismo esmagado pela manifestação da mulher solta, livre como uma pomba que voa, e gira.

- Sim, eu nunca vi Anabela desse jeito. Desde que ela deixou o marido que ela não fazia amor com tamanho entusiasmo. Quando Pedro ouviu o nome Anabela, seu coração disparou.

Pedro fingiu não conhecer a mulher. Pedro não tratou mal o rapaz. Pedro voltou para casa, para suas coisas, para sua vida, e nunca mais ouviu falar de Anabela...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 14/02/2013
Reeditado em 14/02/2013
Código do texto: T4139634
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