Ditinho e o Radio da Macumba

Ditinho e o Radio da Macumba
Doze de Outubro de 1941, Domingo, Ditinho nem bem acabava de almoçar e já apressadamente se arrumava para ir a escola, normalmente não havia aulas nos domingos, mas a professara esteve doente, e ninguém a substituiu, então aquele seria um longo dia. “Bença mãe...” E Ditinho seguia para escola... O Sol estava a pino. Assava-se ovo em pedra... – Nem bem entrou na trilha do Bosque da Princesa, Ditinho avistou algo curiosíssimo. Ainda que distante, as cores eram cativantes. Era uma “macumba”.
Na realidade Macumba é uma espécie de árvore africana e também um instrumento musical utilizado em cerimônias de religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda. O termo, porém, acabou criando uma forma pejorativa de se referir a essas religiões. O preconceito foi gerado porque, na primeira metade do século 20, igrejas neopentecostais e alguns outros grupos cristãos consideravam profana a prática dessas religiões. Com o tempo, quaisquer manifestações dessas religiões passaram a ser tratadas como "macumba". Os despachos nos cruzamentos ganharam fama de "macumba" porque é uma das expressões mais visíveis dessas religiões fora dos templos. Mas, na verdade, eles são oferendas para o orixá Exu, geralmente pedindo proteção. São colocados em encruzilhadas porque esses lugares representam a passagem entre dois mundos. Existem, sim, despachos feitos para fazer mal aos outros (mais no candomblé, onde não existe distinção entre o bem e o mal, diferentemente da umbanda), mas nenhuma das religiões incentiva essa prática...
Logo ali as margens do Paraíba. Uma Oferenda, havia duas grandes toalhas vermelha e outra preta acomodavam oito cumbucas de barro... Assustador e curioso, Ditinho olhava com os olhos arregalados, Farofa, velas, Frutas, Garrafas de pinga! Mas o que assombroso mesmo era quatro galinhas brancas e quatro pretas e uma estatua de São Jorge... Agora surpreendente foi quando percebeu ali um Radio! Podemos dizer que na época ter um rádio a pilhas para um jovenzinho era o mesmo que o jovem de hoje ter um vídeo game de última geração...
Ditinho ficou em choque, perdeu a noção do tempo suficiente para chegar atrasado na Escola. Tanto que ao chegar a professora ficou surpresa, ele é sempre o primeiro a chegar todo serelepe. Neste dia chegou esbaforido e de olhos arregalados!
Curiosa já foi logo perguntando...
Que te assusta menino?
Ainda se recompondo Ditinho conta o que viu nos mínimos detalhes...
“Gente, uma macumba, charutos, garrafas, velas... Galinhas e mais galinhas... Uma assustadora estatua de um homem em seu cavalo desferindo um golpe de lança num dragão. Mas gente eu fiquei assim depois que vi o Rádio!”
“Rádio que rádio” Perguntava os curiosos e alvoroçados os colegas e a professora...
“Rádio, estava bem no meio, ao lado da estatua e entre as galinhas...” Ainda nervoso respondeu Ditinho.
O murmúrio acabou virando arruaça... A professora em tom severo ordena... “Silêncio Crianças... Eu Pergunto!”
“Um radio Ditinho, rádio de verdade! Como é isso menino... Porque você não pegou pra você...?”
Pausadamente e com gesto meticuloso ele responde... “Bem professora, bem que eu superei o medo e fui lentamente até bem pertinho, ele estava ligado... quando eu ia pegar o danado... O homem da estatua virou-se pra mim, apontou-me a lança e gritou... “Sai daí moleque, não percebeu que estamos escutando o jogo do Corinthians? É gol...” Era o segundo gol do timão que vencia o seu maior rival, o Palestra Itália... Campeão Paulista de 1941...  
“Professora, o homem pulou, o cavalo correu e as galinhas saíram cacarejando...”
Os alunos começaram a gargalhar... E a professora com a voz embaraçada: “Não sei por que ainda te escuto Ditinho... Você não tem jeito mesmo!...”
"Uai, Ninguém acredita em mim!"

- Dale Curinthia..."
Marcos Pestana
Enviado por Marcos Pestana em 20/04/2013
Reeditado em 20/04/2013
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