O ECLIPSE DO SOL

O ECLIPSE DO SOL

Estava um dia ensolarado. Os raios do astro-rei chegavam na terra

fúlgidos e esplendorosos e seu João Quebra Queixo sentado no batente ou soleira da porta de sua casa, matutava o que iria fazer no domingo. Dera um duro lascado durante a semana, cuidando das suas vaquinhas e dos seus ovinos e caprinos, além de um porco capado que comia mais do que impingem. O porco seria uma fartura e tanto, mas até chegar no ponto de matar, quando ele já estivesse comento deitado e roncando, ainda deveria passar uns 4 meses. Mas vamos continuar... Seu João, como se disse, estava matutando o que iria fazer no domingo, uma vez que seus amigos, companheiros da víspora e do baralho tinham viajado; os de gamão e do jogo de damas estavam com caxumba. Seu João ruminou como um boi de canga e arregalando os olhos disse:

-Vou caçar preás, mocós, pebas e outros bichos de quatro pés, no serrote do Tibiro.

Preparou o bornal, onde colocou rapadura e farinha seca de mandioca, para matar a fome quando estivesse no serrote. Aproveitou e preparou a espingarda lazarina, velha companheira, a bucha de sabiá, as espoletas e o chumbo. Às sete da noite foi dormir, pois se fazia necessário acordar cedo, com o terceiro cantar do galo, antes de quebrar

a barra, como ele dizia. Deu dispensa neste dia à sua companheira de quarenta anos de casado. Seu João, ainda fogoso como se intitulava, só dispensava a companheira nestes dias extraordinários. Bom, mas vamos deixar de frescuras e continuemos a estória que ele estava contando na

porta do mercado. Nestas alturas a plateia já era grande.

Tudo bem, seu João acordou às quatro horas da madrugada. Colocou o bornal nas costas e já ia marchando para a caminhada, quando se lembrou da água para beber. Deu meia volta, volver, e encheu a cabaça com a água cristalina do pote. Tibum, tibum e rapidamente encheu a cabaça e partiu. O serrote distava 12km da sua

casa, distância que seu João, segundo ele, engoliu em uma hora. Suas

passadas eram do gato de botas de 7 léguas. Às cinco estava no serrote.

Deixou a cabaça num pé de aroeira e subiu para a caçada. Tiro daqui, tiro dali e quando deu por si já tinha matado 25 preás, 40 mocós e 3 pebas e tatus. Teve tiro que matou 3 mocós de uma vez. Seu João era exímio atirador... Bom, vai pra cá, vai pra lá quando, de repente, seu João viu o céu começando a escurecer, em pleno meio dia. Daí lembrou-se que na folhinha, como ele chamava o calendário, marcava um eclipse total do sol. Mais do que depressa corre para apanhar a cabaça e... SURPRESA. Ao chegar no pé de aroeira seu João só encontrou a água no formato da cabaça. Parecia um violão, pois a cabaça os cupins tinham comido. Agarra a água, depois de dar umas lambidas para matar a sede, e mais do que depressa corre para casa. Na volta, como vinha correndo, tirou em meia hora, disse ele. Ao chegar em casa, o sol já estava sendo coberto pela lua. Tudo escureceu. Parecia meia noite, em vez de meio dia.

Nisso, na plateia estava Zé Capote que não perdia uma estória de seu João Quebra Queixo. Sai o gaiato do meio do povaréu e pergunta:

-Mas seu João como foi que esta água virou gelo em pleno meio dia, num sol estorricante como o nosso? Ouvi falar que a água só vira gelo num tal de polo norte, onde o frio é medonho.

Seu João dá um salto felino e agarra Zé Capote pelas goelas, com sua manopla que parecia de aço.

-Cabra fila da puta, hoje te arranco o nó da goela. Hoje tu vira mulher, cabra sem vergonha. "Num" tá vendo que no eclipse tudo congela ou tu pensa que é minha mentira?

Zé Capote já estava com os olhos esbugalhados, faltando o fôlego

quando chega o Zé Matias e o Raimundo Malaquias e a muito custo tira o Zé das mãos de seu João.

Seu João diz que o causo se passou em 1940, em plena Segunda Guerra

Mundial.

Antonio Tavares de Lima
Enviado por Antonio Tavares de Lima em 14/06/2013
Reeditado em 09/04/2014
Código do texto: T4341093
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