Seu Miguel e o Galo Branco...!.

Seu Miguel, já idoso, bom amigo, bom de cana, gostava de jogar uma biribinha, um pifezinho, palitinho e como dizia ele: - No jogo não se rouba: se defende.

Casado pai de família, avô de muitos netos, mas ainda assanhado para o namoro, pingava uma gata desprevenida ele crau. Não era bonito, parecia até um pouco feio, mas pelo jeito tinha tato com as mulheres.

Sua esposa D. Bela, valente prá danar. Ele respeitava. Na frente dela, parecia um homem sério. Pelo jeito ela nuca soube dos desvios amorosos dele.

Um belo dia ela foi viajar. Visitar os filhos que estudavam em Goiânia. Longe daqui. Mas tiveram oportunidade e foram mesmo assim.

Ela tinha um galo, branquinho, branquinho, gordo que era uma belezura.

Foi logo dando as ordens. Porque esposas não pedem. Elas mandam.

- Toma conta do meu galo. Não vai fazer besteira, não.

Esta besteira vocês já manjaram. Cozinhar o galo. Comer o galo. Um assadinho!

Era uma lindeza ver o Sr. Miguel tratar o galo. Era como se ele fosse uma mocinha. O galo.

A turma da pinga, reunida no bar de Dondon, resolveu aprontar uma e seqüestraram o galo de D. Bela.

Quando Miguel acordou pela manhâ. Cadê o galo. Pensou com uma esperança de que ele tivesse dado umas voltinhas para namorar as galinhas e no fundo teve um presságio: - Roubaram o galo da véia.

Esperou mais algumas horas. Um detalhe importante: ele era sapateiro. Ficou consertanto alguns sapatos dos fregueses e de vez em quando ia ver como ia a comida no fogão e de passada olhava no puleiro. E nada do galo. Então teve a certeza. - Roubaram o galo! E foi a turma da pinga. Foi lá até ao bar verificar, fazer perguntas, mas, ninguém sabia de nada. Cá prá nóis , tava tudo combinado. Todos iam fazer de conta que nada sabiam. Miguel ficou apavorado.

A turma tava quieta demais. Tava diferente. Aí ele teve certeza. Foram eles, os amigos que deram sumiço no galo. Provocou, adoidade, falou que se o galo não aparecesse, ele ia fazer isto, aquilo e muito outros desaforos, que não preciso repetir. Você pode imaginar.

Carlito um amigo do peito, ficou com pena, ora o trocadilho! Viu que Miguel não tinha feito nada para comer. Preocupado com o sumiço do galo, a comida tinha queimado. Chamou para almoçar em casa. Ele foi. Por coincidência , neste dia no almoço na casa de Carlito, era galinha cozida. Aí para ele foi desaforo demais. Saiu bufando de raiva e decidido a dar queixa na delegacia e denunciar todos os seus amigos da pinga. Este amigo que escreve, ia passando no dito barzinho, imaginem prá que! e tava seu Miguel apavorado. Senti que ele estava tendo um passamento.(desmaio). Perguntei o que era e ele me contou quase chorando de raiva: - Oh! Reinaldim, os desgraçados não comeram o meu galo!

Fui com ele para casa, dar uma água com açúcar e ver se acalmava o homem. Mas nada, ele estava decidido. Se o galo não aparecesse até amanhã, quando sua esposa ia chegar. Ele ia perder a esposa, em compensação, todos iam passar uns dias na cadeia. (Um adendo: ele tinha uma confiança danada em mim. Quando ele tava jogando e querendo se defender, era só dar uma olhada pro lado, que eu saia de fininho).Ele tinha um ditado:No jogo, não tem roubo: só defesas. Quem não se defende: já era!

Mas graças a Deus a turma não sacrificou o galo do Sr. Miguel e no outro dia de manhã prá alívio de todos o galo apareceu, gordinho e bonitinho como ele sempre foi.

Seu Miguel, não perdeu a esposa. Ninguém foi prá cadeia. A amizade continuou. Ele não só desconfiava. Tinha certeza, quem aprontou, aquilo.

- Daí em diante. As defesas no jogo aumentaram consideravelmente. Ele perdia no jogo de vez em quando, porque todos também sabiam se defender. Quando a partida tava quase ganha para ele e só faltava uma, isto é, pifado, ele balançava a mão como se estivesse amolando uma faca e dizia:

_ Traz a carne que o magarefe tá com a faca preparada, seus pixotes, comedores de galo branco! E Puf! Batia!

( Um ótimo amigo.Daqueles que a gente sente saudade, mesmo. Mas chegou o seu dia e ele se foi). Uma coisa eu tenho certeza, lá onde estiver, se houver um joguinho mesmo de brincadeira. (Porque aqui tem a besteira do dinheiro). Ele está se defendendo.

(Causos de Barra do Mendes-BA, e de Barramendenses).

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reinaldo.s.barreto@hotmail.com

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