163 - PESCARIA FRACASSADA...

Tudo é animação, tráia nas carretas e nas caminhonetes, madrugada fria, mas acolhedora, partimos, celeremente avançamos enormidades de distâncias, do asfalto pra estradas de terra, estradas esburacadas e poeirentas, mas nada daquilo abatia o nosso ânimo, nada diminuía a nossa alegria, tudo é esperançoso e empolgante, o sol já estava caindo atrás dos montes, esticando as sombras e a nossa animação, barranco do rio à vista, barranca do rio sob os nossos pés, tudo é correria, aproveitar o fim do dia é o que importava.

Entardecia, canoa apoitada, varas na espera, nenhum movimento brusco, nada de pancadas no fundo do barco, só o vento e os pássaros a piar por entre as ramagens, tudo é espera, tudo é sofreguidão, horas passam, horas voam, e já é noite e aquele peixe especial, tão aguardado, não apareceu!

Lua alta, braseiro estremecendo sob as labaredas, fogueira estalando, cada um conta o que sabe, contam até o que não sabem, inventam, se já contou um causo e não sabe outro, repete, conta de outro modo, ajunta novos lances, no final todos contam causos e acontecidos, doces gargalhadas, tudo isto é uma forma de não sentir o tempo passar.

E o tempo passa, passa silencioso, imperscrutável, mas passa, e quando se vê a hora já é outra, é hora de dormir, de sonhar com aquele peixe que não apareceu!

Amanheceu, correria de sempre, barcos no rio, rio na alma, alma em transe, chuva distante, o rasante se entorna, transborda, barcos à deriva, fim da pescaria, hora da partida, hora da despedida, as águas do rio se fizeram barrentas, o rio se transformou em guarida pra todos aqueles peixes que gostaríamos de ter fisgado.

Promessa feita, no mês que vem a gente volta, voltara a antiga agonia, voltara a sinfonia das aves e do vento nas ramagens, voltara os barcos pra dentro do rio, o rio navegara pra dentro da alma da gente, e a gente navegara pra dentro da alma do rio.

Estrada da volta, estrada alongada, mais de seiscentos quilômetros longe de casa, paisagens estrambólicas, diferenciadas pra todos os lados, só se fala o que não se quer ouvir, não se fala de linhas arrebentadas, não se fala que o peixe maior escapou, que fulano pegou mais que todos, que sicrano voltou sapateiro, não tem do que falar, não pegamos um único peixe, então reclamamos da comida, reclamamos da bebida, reclamamos do companheiro, tudo reclama de tudo, nada saiu aos contentos.

Desatentos seguimos da poeira levantada levada pelo vento, a pescaria foi um verdadeiro fiasco, quando não se pega peixe da logo uma baita saudade de casa, saudades da família, dos nossos afazeres, da nossa vidinha corriqueira, sem mais nada a acrescentar, sem mais nada pra contar, além que não pegamos peixe algum, por outro lado só temos a agradecer, fizemos uma boa viagem, fomos bem e voltamos bem, conhecemos lugares diferentes, diferentes pessoas, diferentes costumes, até nós ficamos diferenciados, temos mais estórias pra contar.

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 30/08/2013
Reeditado em 30/08/2013
Código do texto: T4459492
Classificação de conteúdo: seguro