O TROMBONE MUDO

Nos áureos tempos das grandes orquestras, dos grandes bailes que com freqüência

aconteciam na maioria das cidades de todo o país,

Timbaúba nunca ficou atrás e sempre realizava suas

festas na “Liga Lítero Atlética”, o Clube das elites, o

maior da cidade.

Além da Liga, existiam quatro outros clubes

menores, que funcionavam constantemente

realizando memoráveis festas. Pela ordem, eram:

O saudoso “Esporte Clube de Timbaúba”, principal

concorrente da Liga. O “Clube dos Motoristas”,

que depois passou a ser chamado de “Motor Clube”.

Isso mesmo, “Motor”. O nome pretendido seria

“Moto Clube”, contudo, por um erro de registro

ficou mesmo “Motor Clube”. O “SALT, Sociedade

Atlética e Literária de Timbaúba”, conhecido por

suas grandes e memoráveis manhãs de sol. Que

saudade! E finalmente, o “JET, Juventude Esportiva

Timbaubense”, esse mais popular e possuidor de um

dos melhores times de futebol da região, várias

vezes campeão da cidade, cujo maior rival era o

“Estudantes”, que a princípio era composto apenas

por estudantes, depois foi se mistificando, chegando

a disputar o Campeonato Pernambucano de Futebol

da primeira divisão. Como não tinha sede própria,

representava a Liga Lítero Atlética.

Hoje, infelizmente, temos apenas três Clubes.

O “Timbaúba Tênis Clube”; o “AABB” e o “Motor

Clube”, o único que sobreviveu ao tempo e que

ainda funciona em toda sua plenitude. Prova

inconteste de que a vida social em clubes encontrase

em galopante decadência, não só em Timbaúba,

como em todas as cidades do país.

Naquela época, as festas começavam às vinte

horas e terminava a meia noite ou uma hora da

manhã. As mulheres sempre elegantes, trajando

chanel, os homens de paletó e gravata, como

mandava o figurino, casais chiquérrimos

rodopiavam os salões. As orquestras, por sua vez,

tocavam de verdade e nunca afinavam seus

instrumentos na presença do público. Esse trabalho

era realizado a tardinha, não acontecendo, portanto,

aquela falta de respeito aos presentes como

acontece hoje em dia, que na hora de começar a

festa começam com aquele famigerado: “Alô, alô,

som, som. Testando. Testando. Alô, alô, som.

Som.” O que realmente nem precisava, porque

hoje eles não tocam mesmo, é tudo play back”.

Voltemos a nossa história. Timbaúba sem-pre

foi palco das grandes festas, ao som de excelentes

orquestras nacionais e internacionais. A famosa

orquestra de “Ed Mandarino”, quando em

passagem pelo país, tinha parada obrigatória em

Timbaúba. Numa dessas turnês, já no final da tarde

quando seus participantes chegaram ao clube para

afinar os instrumentos, o músico que tocava

trombone de vara percebeu que o mesmo estava com

um pequeno furo, não permitindo que ao sopro, as

notas saíssem como deveriam.

Procurou um dos diretores do clube para saber

se havia na cidade, alguém que efetuasse o conserto.

Imediatamente, o diretor pegou o trombone e

o levou até a oficina de Seu Mundinho, que era

especialista em conserto de radiadores. Homem

simples, trabalhador, honesto e que jamais

interrompia um trabalho para começar outro. Ao

chegar a oficina, encontrou Seu Mundinho

terminando de consertar um radiador. Mesmo

explicando a urgência do caso, que a festa começaria

às 20.00 horas e já eram quase 18.00 horas, seu

Mundinho foi taxativo, só consertaria o instrumento

quando terminasse o que estava fazendo.

Deixe aí, que daqui a meia hora eu entrego lá. E

quando dava sua palavra, esta seria cumprida a

qualquer custo.

O diretor voltou ao clube e ficaram esperando a

chegada do instrumento para começar o ensaio.

Vinte e cinco minutos depois chegou seu Mundinho

com o trombone debaixo do braço, entregou,

recebeu o pagamento e ficou a porta do clube para

apreciar um pouco o ensaio. O músico pegou o

instrumento, soprou, soprou, e nada de som.

Tentou outra vez e nada. Seu Mundinho na porta só

observando, quando ele tentou mais uma vez e sem

sucesso, lá da porta Seu Mundinho gritou: Pode

soprar meu filho, sopre que você vai estourar os

bofes. Solda que Mundinho dá não é qualquer

“assoprinho” que vai arrancar não!. Ele havia

soldado a vara do trombone, e não o furo.

Dileal
Enviado por Dileal em 20/09/2013
Código do texto: T4489828
Classificação de conteúdo: seguro