XARÉU

Na cidade de Monteiro no sertão da Paraíba existia um cidadão conhecido pelo nome de

Zé Paraíba. Figura simples, comunicativa, homem

do povo, que embora morando na zona rural a

aproximadamente seis ou sete quilômetros da sede,

mesmo assim, era conhecido por todos, justamente

por ser, bastante desinibido e altamente espirituoso.

Embora não seja nenhuma novidade naquelas

paragens, a seca estava como nunca e Zé já estava

encontrando dificuldades para criar seus

molequinhos, como ele chamava. Foi quando teve a

feliz idéia de vender seu estimado, fiel e inteligente

cachorro.Com muita dificuldade e pedindo carona

foi até João Pessoa e conseguiu - desenrolado como

era - colocar um anúncio no jornal da Capital. O

anúncio era simples e suscinto: “Vende-se um

cachorro da melhor qualidade. Falar com Zé

Paraíba na cidade de Monteiro”. Voltou para casa e

ficou a espreita do resultado.

Um ricaço da capital que era louco por cães, ao

ler o anúncio não teve dúvidas, pegou seu carrão e se

mandou para Monteiro. Ao chegar, parou em um

posto de gasolina e perguntou ao frentista: O senhor

sabe qual é a rua que mora Zé Paraíba ? Ele não mora

na rua não, doutor. Ele mora num sítio a seis

quilômetros daqui. O senhor sabe informar como é

que eu chego lá? Sei sim, senhor. E informou

direitinho o caminho.

O homem seguiu conforme o informado e mais

ou menos às 9.00 horas estava no local. Parou,

desceu do carro, chegou até a porta que estava

fechada e bateu palmas. A porta se abriu e apareceu

um homem pondo apenas a cabeça fora. Pois não, o

que é que o senhor deseja? É aqui que mora seu Zé

Paraíba? Tá falando com ele. Eu vim comprar seu

cachorro!. Ah!. pois não, entre!. O homem entrou,

sentaram-se e Zé foi logo dizendo: Oi patrão, eu só

vendo o cachorro porque a seca tá muito grande e eu

não tenho mais como dar de comer a meus

molequinhos. Mas o cachorro é bom demais e custa

quinhentos reais. Tá certo, mais eu quero ver o

cachorro. Mas doutor, o cachorro é muito bom. Mas

quero ver. Respondeu o comprador. Zé sempre

enrolando e o homem insistindo em ver o bicho, até

que Zé falou: Xaréu, Xaréu, lá vem Xaréu, magro,

cambaleante, acanhado e deitou-se aos pés de Zé.

O homem olhou para o cachorro, olhou para Zé

e falou: O senhor não tem vergonha de botar um

anúncio no jornal dizendo que era um cachorro da

melhor qualidade e me aparece com isso?!. Isso aí,

não quero nem de graça. Aí Zé magoou-se. Peraí

doutor, o senhor não conhece as qualidades de

Xaréu prá falar assim. Isso lá tem qualidade

nenhuma, respondeu o homem. Aí é que o senhor se

engana. Quer ver ? Xaréu. Ordenou Zé: Você tá

morto!. Xaréu caiu, botou as patas pra cima e ficou

inerte. Tá vendo? E tem mais: Xaréu, você agora tá

vivo. Xaréu voltou a posição anterior. O homem já

começou a se interessar pelo cachorro. Novo

comando de Zé: Xaréu, agora você tá bêbado!.

Xaréu começou a cambalear, vomitar, caia e se

levantava e só parou quando Zé disse: Xaréu, você

tá bom.

Neste momento o homem pôs a mão no bolso e

percebeu que estava sem cigarros. O senhor tem

cigarros? perguntou a Zé, que respondeu: Não

senhor, eu não fumo. É que meu cigarro acabou. Se

o senhor quiser, Xaréu pode ir comprar. E ele sabe

comprar cigarros, perguntou o homem admirado.

Ele sabe comprar tudo, respondeu Zé. O homem

tirou do bolso uma nota de cinqüenta reais e

entregou a Zé, que prontamente colocou-a na boca

de Xaréu dizendo: vá comprar cigarros pro doutor,

mas volte logo.

O cachorro levantou-se com a nota presa aos

dentes saiu e ao cruzar a porta virou-se, parou e

ficou olhando para os dois. Aí o homem perguntou:

por que ele parou? Ah!. ele quer saber qual é a marca

de cigarros que o senhor fuma!. Free, respondeu o

homem. Xaréu voltou-se e foi embora. Os dois

ficaram conversando, o tempo foi passando, já era

mais de uma hora da tarde e nada de Xaréu voltar.

Foi quando o homem solicitou de Zé que lhe

devolvesse o dinheiro que ele não podia mais

esperar e que ia embora. Não senhor, respondeu Zé.

Xaréu nunca fez isso. Vamos atrás dele.

Entraram no carro e saíram. Depois de

andarem uns quatro quilômetros, lá estava Xaréu no

meio da estrada engatado em uma cadela. Olha ele

lá, falou o homem. Quando Zé olhou e viu a cena,

virou-se para o homem e disse: Pois é doutor, esse é

o único defeito de Xaréu. Não pode pegar em

dinheiro que se dana pro cabaré.

Dileal
Enviado por Dileal em 24/09/2013
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