Metrô

Plataforma abafada e cheia da estação do metrô.

Devaneios passam por sua cabeça. Ela observa a bolsa vermelha de uma moça, depois olha para um senhor e dele para os trilhos que assobiam anunciando a chegada do trem. O par de lanternas ofusca lá na curva do corredor escuro, se aproximando, e a multidão se agrupa nos limites da plataforma. A linha amarela já não é respeitada e a movimentação parece tornar tudo mais abafado.

"Perfeito" - ela pensa com cinismo.

As portas automáticas deslizam dando passagem para as pessoas. Ela entra e se encaixa em um canto. Seu rosto é inexpressivo, mas cansado, e seu corpo pede descanso. Ela só não quer ser incomodada.

A viagem apática pelas estações rumo à baldeação nunca é

confortável. Olhos curiosos espiam e analisam e todos fingem que estão cuidando de suas próprias vidas. O ar exausto da maioria de seus passageiros enche o vagão, tornando-o um pouco pesado. Todos querem ir para casa.

As portas se abrem na estação onde fará a baldeação. Ela sai arrastando os pés junto com um punhado de pessoas apressadas. A plataforma sempre está mais fresca, causando um leve choque ao sair do vagão. Ela se sente aliviada, pensando no quanto queria chegar em casa e tomar um banho. Respira fundo, se preparando para entrar em outro vagão igualmente abafado ao anterior..... quando pára.

Imediatamente sente uma pontada abaixo das costelas. Um rosto se destaca do resto da massa cansada; dois olhos brilhantes e um sorriso acolhedor.

- Olá. - sorri, sem graça.

- Olá. - seu sorriso é gentilmente retribuído.

A cabeça fica momentâneamente confusa frente a coincidências estranhas. Mas uma sensação de calor e alegria se instala em seu peito e logo ela sabe reconhecer uma ótima coincidência. Fariam o resto do caminho juntos, já que ambos tinham o mesmo destino.

Uma conversa sem importância começa. Perguntas superficiais, respostas vagas... O sentimento recíproco de não querer que acabe. Ela luta contra sua natureza reservada e seu cansaço para que aquele contato incomum continuasse até onde pudesse. Ele ajuda. De repente, a temperatura do vagão não importa e o resto das pessoas some.

A conversa flui agradavelmente. Ela se preocupa em mostrar naturalidade e leveza. Mede palavras, assiste a reação dele, deseja intimamente que esteja agradando. Sua ansiedade aumenta a cada segundo e mais ainda quando, por algum motivo desconhecido, começa a achar que há algum resto de comida aparente preso em seu aparelho dentário. Quando está prestes a pegar um espelho desesperadamente em sua bolsa, algo a acalma repentinamente.

Os olhos dele brilhavam diferente. Um mistura de ternura e admiração que saltavam dele e miravam unicamente ela. Seu corpo foi tomado por um tranqüilidade estranhamente aconchegante ao sentir-se invadida por aquele olhar. Algo dentro dela estourou e então tudo ficou diferente. As preocupações foram varridas de sua mente enquanto um sentimento de surpresa e de excitação enchia-a completamente.

- Eu vou para lá.

- E eu para lá.

Caminhos opostos. O momento chegava ao fim.

Ele se foi e ela, cujas pernas se mexiam sozinhas, caminhava para a outra direção enquanto sua cabeça girava e repensava cada segundo do encontro-surpresa. Sentiu-se esquisita e até um pouco tonta, mas sabia de uma coisa: não se senti mal. Na verdade, se sentia muito bem.

"Oh não... Estou gostando dele? .... estou...." - pensou com amargura.

Mas isso não a impediu que sorrisse.