A VORTA DE VERDIANO

Antônia, estava lavando os pratos,quando ouviu umas batidas na porta.

- Quem é? Gritou de lá. Entre a porta tá aberta!

E a pessoa não entrou, continuava batendo. Então ela resolveu ir vê quem era.

Disse: Mai sera impossíver uma coisa dessa, a pessoa ocupada e vem um desocupado pra mode atrapaiá!

Quando chegou à porta ela não acreditou, era Veridiano com a cara mais sem vergonha do mundo, perguntou - O que tu quer?

Veridiano respondeu: - Eu quero falar com tu, posso entra?

Deus me livre eu tô sintindo o fedor de cachaça daqui, tu bebeu foi?

Veridiano disse: - foi Antonha, pra mode criar corage de pedir uma coisa pra tu.

- Diz logo o que tu quer? Que eu tenho mais o que fazer, disse Antônia com o jeitinho meigo que ela tem.

Veridiano foi falando: - sabe o que é? Eu quero voltar pra trás, viver de novo com tu, eu, tô sofrendo muito, aquela mué que eu arrumei pensano que ela era uma boa moça, veja tu, preguiçosa que só ela, não faz nada, até mesmo eu tenho que cozinhar, eu arresorvi vortar pra tu, tu é uma mué trabalhadeira, faz as coisa dentro de casa, oia eu não sei onde tava com a cabeça quando te larguei e veja também...

Oia,Verdiano... Antônia falou cortando o que ele estava dizendo.- Eu vou te deserte uma coisa, e presta bem atenção, agora eu dou graças a Deusin que tu foi sibora, eu não quero tu de vorta, nem que a vaca tuça.

falou Veridiano: Agora eu to admirado! Tu, uma mué tão boa, fazendo essa mardade comigo, sabe, tu nu queria fazer um cafezinho pra mode nois tomar, aí a gente conversa mió.

- Cafezinho é? Disse Antônia - Espere um pouco que eu vou buscar.

Saiu correndo para o quintal e começou a gritar:

- Cumadi, Francisca vem cá, logo, ligeiro,rápido!

A comadre Francisca veio, coitada numa ligeireza só.

- O que foi cumadi, quem morreu? Pra tu tá nessa agunia? Perguntou Francisca

- Cumadi, Francisca tu nun vai acredita, Verdiano ta lá fora dizeno que quer vorta pra trás, viver di novo conmigo tu acha.

- Eu sabia que esse sujeito ia pedir isso logo, logo. Aquela piriguete qui ele arrumou num vale nada.

- É nessas horas cumadi que eu queria saber lutar jiujipe (jiu-jítsu) aí verdiano ia ve só.

- Vote cumadi o que é jiu, jiu, o quê?

- Oxe mulé, nun é uma luta que chaponeis, inventou, mas a gente vai dá umas vassourada nele, pega a tua vassoura e eu pego a minha e vamo colocar o bichin reio pra mode correr.

Quando as duas chegaram lá na porta de dona Antônia. Veridiano disse: - Vote que demora! Pelo menos trouxi meu café?-

Cafezinho não, eu mais cumadi Francisca trouxi pra você um chá, chá de vassoura. Falou Antônia, e foi vassourada pra tudo que é lado.O coitado, saiu correndo, cambaleando e conseguiu fugir.

Antônia então falo: - Oia cumadí, hoje eu durmu feliz , depois dessa pisa em verdiano. Cumadi, vamo palestrar um pouco?

Francisca respondeu: - Vamo, cumadi.

No outro dia, dona Antônia estava varrendo a calçada quando o único policial da cidade chegou.

Bom dia Dona Antônia, tá varrendo a calçada?

- home tu nun tá vendo não, é? Respondeu Antônia.

O Policial : - Olhe, Dona Antônha eu vim aqui pro mode dizê que a sinhora mais dona Francisca tem qui cumparecer na delegacia pra falar com o delegado.

Dona Antônia: - Eu? E por acaso eu sou ladrona pra viver em delegacia?

O Polícial disse: - Foi seu Verdiano que deu parte da sinhora mais dona Francisca, e é pra cumparecer hoje mesmo, na delegacia.

- Certo nois vai, então falou D. Anatônia.

Dona Antônia foi pra porta de Francisca e chamou: Cumadi, vem cá!

- O que foi cumadi, gritou Francisca - morreu um foi?

- Olhe se acalme! Disse Antônia. - Nois duas tem que cumparecer na delegacia, verdiano deu parte de nois.

- Valei-me meu pai, e agora cumadi Antônha, se eu for presa que vai ser de meus finhinho, vão ficar sozinho, os bichin. Francisca colocou a mão na cabeça e se danou a chorar e reclamar: - A culpa é tua cumadi, tua invenção de bater nos outos e ainda mim chama, eu agora fiquei toda coisada.

Dona Antônia: - Chora não mulé, não se preocupi , quandi a gente chegar na frente do delegado eu digo que fui eu que bateu em Verdiano, digo que tu ficou só olhano. Vamo sinbora pra delegacia!

Quando as duas chegaram à delegacia, Veridiano já estava lá.

O delegado foi falando: - Dona Antônia o que foi isso a senhora uma mulher tão boa se juntar com a Dona Francisca, e as duas baterem no seu Veridiano, me explique o que houve?

- Olhe seu delegado, esse sujeito é um sem vergonho, me dexou-me, por uma piriquete e onte chegou na minha porta com essa cara de taboca que ele tem, esse amarelo empombado, pedindo pra vorta, foi quando... E antes de Dona Antônia terminar de falar,

Francisca falou: E aquilo cumadi qui tu ía falar pro delegado, esquessese foi?

Esquici nan! Delegado, cumadi Francisca, não bateu nesse miseravi, só ficou olhano, fui eu sozinha.

Veridiano: - Mintira, delegado, foi as duas que bateru nim mim.

Francisca, começou logo a chorar, oia, seu delegado meus fiinhos nam pode ficar sozinho, eu não posso sê presa.

O delegado falou: - Dona Antônia e Dona Francisca , vocês duas fizeram uma coisa muito errada, presa vocês não vão, mais vão ter que pagar ao seu Veridiano uma indenização pelo constrangimento que ele passou. Dona Antônia o que a senhora tem, que possa pagar ao Veridiano?

Bom, eu vendi umas verduras na feira, e tô com cem real.

Verdiano disse: Não, eu subi que ela tem um espeio bem bonito e que vale mais que cem real eu quero o espeio.

Dona Antônia: - De jeito nenhum prefiro ir presa, mai meu espeio, não dou.

O Delegado falou: - Dona Antônia é melhor a senhora dá o espelho, eu estou mandando.

Antônia tá certo eu dou o espeio.

O delegado olhou pra Francisca e disse: E a senhora Dona Francisca, como pode pagar?

- Num sei num delegado, num tenho nada de valô.

- Então a senhora vai dá para o seu veridiano uma cesta básica certo?

O delegado olhou para o Veridiano e perguntou : - o senhor aceita?

Veridiano: - Aceito delegado.

Dona Antonia: - Agora tem uma coisa seu delegado que eu quero que fiqui acertado, que esse sem vergonha, não apareça maisim na minha porta.

O delegado então deu uma ordem ao seu Veridiano. -Não apareça mais na casa da Dona Antônia, tudo acertado! Estão dispensados.

Veridiano saiu ligeiro com medo da reação de D. Antônia.

Quando estavam indo pra casa, Dona Antônia falou: - Cumadi, eu tô triste logo meu espeio, eu tem que dá praquele traste.

Francisca : - Cumadi num fique triste nam, tu jogou o espeio quebrado fora?

Dona Antônia: - Joguei nam, é mermo cumadi, eu embruio o espeio quebrado, bem direitinho, entrego a Verdiano, depois se ele reclamar eu digo que foi ele que quebrou quando levou pra casa.

Dona Antônia: Oia Francisca, verdiano pensa o quê? Que eu vou querê ele, eu quero um homi bonito, cheio da grana ,letrado agora vai sê assim.

Francisca disse: - Cumadi, Antônha um homi assim como tu tá falano, só se for o prefeito.

Antônia: É memo né cumadi será qui ele gosta de apanhar?

E as duas saíram rindo.