O MORTO VIVO - ( texto em Mineirês)

O cortêjo vinha vino da rua di-baxo cum mijin pôco di -gente a pé e uns quatro cavalêro acumpanhano.

Cá di casa iscuitei condo Benézin batia u sino da Matriz - rupiêi inté us cabelo da cacunda cuns compasso da batida: Thunnnnn........thunnn...thunnn...thunnn.........phinnnnnnn.

Cheguei da jinela e vi u povo passano isprivitado - nas mão u caxão e as precata, tudo sujo di -barro. Vinha vino a pé du Córgo da Canôa.

O morto era Tião Jabutirica, neguciante e antigo moradô daquêas banda. Jabutirica carregava má fama di ter sido capanga dum tár Coronér Anchiêta nu passado, e a mando ter feito munto sirviço na rigião da divisa cum Goiais. Tião, tamém era mar -visto na comunidade on-morava, principarmente dispois qui matô muntos cachorro invenenado, só pruquê teve um qui avançô nele; Além di ter dado muntas manta ni compradô di fumo pr onde andô tamém.

Berano seus setenta ano di -idade, coitado, acordô morto numa sigunda-fêra. Na noite di -vréspa tinha bibido uma canecada di chá quente, chá di mulungú pra vê si drumia mió. Tava teno pesadelo dimais! - A muié contô. Deitô pôco dispois ca -noite desceu e num quis acordá vivo mais não.

Deu cinco hora a muié levantô, acendeu fogo, cuô café, tratô das galinha... e di cá, da cuzinha, viu Tõe Vaquêro chegano nu currá pra tirá leite das vaca e nada du home levantá.

Acordá ele num pudia. Disso ela sabia munto bem! - Tinha medo.

Con’deu sete hora as fia acordaro - admiraro c’aquilo, mais num entraro nu quarto tamém não. Era orde. O véio impruibia.

Já isbarrano as quatro da tarde a muié bem mais incomodada arresorveu chamá ele. Com munto jeito, ricibiada ca -reação qui pudia ter, pois nele a mão di leve e viu qu’êtava quente - num quis nem sabê di -arriscá chamá. Lairgô pra lá. Vortô e contô pras fia quêtava era drumino mémo.

Ansim foi ino inté qui deu noite travêiz e nada.

A muié si aprontô, pois a camisola, deitô du -ladin dele e pensô: Carquér coisa s’êle acordá na vorta da noite levanto e sirv’êle. A manhanzinha di telrça-fêra distampô e nada; Ta lá u home du mémo modo. Na quarta a muié teve uma idéia e das boa, quéla num tinha tido inhantis.

Ah, já sei! - Ieu qui vô vê si u coraçãozin dê -ta bateno!!!

Foi chegano digavazin, di leve, e foi chegano, inté qui pariô a orêia inriba du bronze, da máquina, e nada; Nem uma pancadinha frôxa qui –dava. Só qui u corpo continuava quente. Pensô quêtava tracano u fôrgo saiu pra fora du quarto e ficô oiano da grêta s’ êle inha mexê, e nada tamém.

Antão ficô percupada divera, arriuniu as fia e falô: - Dêsse modo minhas fia num vai podê ficá, hoje já é quarta-fêra tô cumeçano ficá assombrada qü’isso. Amanhã saio cedo e vô atrais di ricurso... vô atrais du Carmão serradô!

Na quinta-fêra inhantis du Tõe vaquêro butucá pur lá a muié já tinha arriado a mulinha e saído. Chegô na casa du Carmão, contô u acunticido, deu pr'ele a midida du corpo e já incumendô u caxão.

Carmão cumpadicido, mais sem ter uqui fazê, falô ansim: amanhã cidin fica pronto u sirviço cumadi, chego lá inhantis du armoço, nóis dá uma oiadinha nele e confere pa -dispois imbalá.

Na sexta, pur vorta das deiz hora Carmão tava chegano lá cum trem pronto. Nisso as mucinha qui já tava isperano tinha arriunido us cunhicido, ali du Córgo, e tava acabano di rezá u terço. Carmão tirô u chapér, cabô di entrá nu quarto onde u povo tava - aí a muié falô: ispia só Carmão, tá ansim desde sigunda-fêra, morto, só qui num gela nem indurece.

Nisso um cachurrin qui tava bestano pur ali inredó das mucinha, pariano a cama, peidô rapaiz e u trem fedeu diiimais da conta!!! Carmão tapano u nariz mais qui dipressa falô ansim: Cumadi-di-deuso pó pô ê -na caxa minha fia, arruma digalope e leva qu’ele já ta é istrapaiano!

Ansim fizero, vistiro nele u palitô prurriba da camisa qui tava mémo, infeitaro cum frôr e saíro sem delonga; massano barro pur aquêas istrada imburacada - levano a mão mémo. Nem uma carroça apareceu pur lá pramode ajudá.

Nu trajeto aquele silênço. Só iscuitava barui das pisada du povo e us trôpelo dus animále. Di -repente um iscurregão e um grito: DIVINO PAI ETERNO... o caxão vuô e caiu pru terra. Tõe vaquêro qui sigurava a barra di trais da caxa num viu e pisô numa prastona di-bós-di-boi, isgurregô, e foi pru chão tamém.

Nu -tombo a tampa du caxão quebrô tudo. O povo mei-qui-assustado, ligêro, arrumaro as frôr dinovo, limparo mais ó meno u barro du zói du morto e siguiro cum cortejo - agora sem tampa.

Na buquinha da rua ôtras pessoa cumeçô acumpanhá a prucissãozinha.

condo viro u caxão sujo di barro e distapado uns binzia ca -mão canhota e sinále da cruiz, oiano cum cara di medo, e priguntano baxin: quiconteceu?

Condo u povo tava subino cum difunto a iscadaria da igreja, Caxangá qui tava di cumpania cum Benézin chegô a cara na jinelinha da torre, on-ficava u sino, e viu lá du arto, incabuladamente u morto cruzano us pézin. Aí falô: - Né –pussive Bené, será qui Tião tá vivo!?

Pensano qui pudia tê vido dimais resorveu descê a iscadaria da torre digalope; condo u caxão tava passano diba -da –porta, Caxangá num-mei da iscada ispichô u pescoço e viu Tião Jabutirica abrino um dus –zói e dano uma trucidinha nu bigode. Assombrado, Caxangá cum zuin régaladin cabô di –descê; chapér na mão, passô isbarrano u povo e foi direto pa –sancristia avisá u Padre Zé:

- Jabutirica tá vivo, Padre zé... Morto num cruza pé não sinhô! - Ieu vi ele abrino um dus zói tamém.

O Padre garrô, e falô: Dêxa disso Caxangá, num vai ispaiá isso não meu fiio, a famíia dele taí. - u home tá morto desde sigunda-fêra sô!

Caxangá ritrucô:

- Sinhô pode inté rezá a missa, incumendano a arma dele sô Padre, mais vai ficá cuirpado di -interrá ele vivo. O Padre num deu mais idéia, fêiz a cirimônia dipressa e subiro cum corpo pra interrá.

Mais tairde, dispois di quatro dia do interro, corre um buato! - Tõe vaquêro ispaia na praça qui a morte du Tião tinha sido incumendada mémo.

- Argúem mexeu us pauzin, sapatiaro u dendê atrais du paiole, - achei tôco di vela quemada junto cum casca e raiz di mulungú socada!

Caxangá ficô sabeno da cunversa qui curria na cumunidade, dimidiato foi atrais du Bené; contô pr’ele, e tramaro a impreitada. Na terça-fêra cidin entraro di inxadão e pá na cova e disinterraro u home. Arrastaro ele pr’uma sombra ali mémo, nu cimitero, jugaro nele um bar-d’agua na cara e isperaro pra vê s’êle inha vortá. Num deu ôtra, daí a –pôcos minuto ele ispirrô... e foi acordano de mansin inté qui abriu us zói - daí muncadiquin pidiu água pa -moiá a boca. - Ele tava vivo mémo.

Bené agora, quereno tirá uma casquinha ca -cara di Jabutiririca, apruveitano qu’êle tava quais morto, falô ansim: Vê si –num besta cum chá di mulungú mais não Tião... e dêxa di sê valentão, quiocê tamém morre disgraçado.

Cumigo é ansim Caxangá, ieu gosto di cutucá onça é cum vara curta!!!!

..........abra o link abaixo e ouça também este causo:..........

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Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 02/07/2014
Reeditado em 05/03/2015
Código do texto: T4867410
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