A ISCA DA PESCARIA

A ISCA DA PESCARIA

Era um belo dia de domingo. Sol brilhante. Céu azul como o das asas da arara azul dos cerrados de Mato Grosso e da Região Amazônca. Seu João Quebra Queixo procurava uma maneira de

se divertir, pois a semana havia sido pesada demais nas lides da roça e

da pecuária. Sentia as suas manoplas de ferro mais calejadas devido os

afazeres da semana, mas tinha passado sebo de carneiro capado, que era um santo remédio e havia amenizado. Bom, mas pensamento vai e pensamento vem, pois é bicho que voa ligeiro e lembrou-se do Açude da

Nação, no pé da serra ds cidade, construído pelos idos do Império nos tempos de D. Pedro II, numa das grandes secas. Como era perto de casa não levou nada a não ser a vara de pescar feita de marmeleiro e

um litro de cachaça serrana da branca, para esquentar as orelhas. Dirigiu-se ao açude. Mas lá chegando, lembrou-se que tinha deixado a lata com isca de minhoca em cima da mesa da cozinha. Puta que pariu e agora?Seu João não gostava de palavrão, mas não pôde evitar. Nisso ouviu uma espécie de miado. Apurou o ouvido e falou:

-Isso é cobra pegando caçote. Vou lá.

Dito e visto, chegando no capinzal viu uma jararaca de bom tamanho com a metade do animalzinho na boca. Mais do que depressa agarra-a pela goela e tira o animal da boca da venenosa, não sem antes dar para ela uma boa dose de cachaça. A cobra saiu em disparada entre o capinzal.

Nestas alturas, já havia uma boa platéia em frente ao mercado público onde a estória estava sendo contada, inclusive o Zé Capote que não perdia uma e perguntou: _ Seu João o senhor jogou o bichinho fora?

-Que fora que nada cabra Zé Capote, fora eu joguei a tua mãe que não serve mais pra nada. Matei o caçote e fiz muitas iscas e já ia pescando 50 traíras, 30 piaus e 40 carás pretos, quando senti duas lapadas nas minhas costas. Me virei e avistei a jaracaca com mais dois caçotes na boca, já embriagada, me oferecendo os bichinhos. Tirei eles de sua boca

e dei pra ela mais duas talagadas. A bicha sumiu dançando mazurca na ponta do rabo. Dançava bem.

Zé Capote, como sempre gaiato inveterado perguntou. - E seu João, o senhor fez isca dos outros caçotes e pegou mais peixes?

-Não, Zé Capote joguei o anzol com um inteiro e peguei a tua mãe que estava tomando banho no açude e a comi crua mesmo. Até que deu pra passar, mas o melhor foi a sobremesa. A tua irmã, aquela de 22 anos, que estava junto com a tua mãe foi fisgada com o segundo caçote e eu a comi de sobremesa. Uma gostosura, parecia estrogonofe como dizem os ricos.

Todos caíram na gargalhada e o pobre o Zé Capote ficou com o rosto que era uma brasa, mas ai dele se enfrentasse o Seu João Quebra

Queixo. Engoliu em seco, sem caçote, sem nada.

Seu João diz que o fato se passou em 1940 em plena II Guerra Mundial.

Antonio Tavares de Lima
Enviado por Antonio Tavares de Lima em 08/07/2014
Reeditado em 11/07/2014
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